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A fuga como forma de ficar: sobre 'Fora da rota', de Evelyn Blaut
PublishNews, Vanessa Passos, 18/07/2025
Estreia de Evelyn Blaut é uma travessia poética pelos escombros do luto, mas também uma cartografia das casas que carregamos dentro

Há livros que não se leem, se escutam. Fora da rota (Todavia) é um deles.

A estreia de Evelyn Blaut é uma travessia poética pelos escombros do luto, mas também uma cartografia das casas que carregamos dentro. Com uma escrita que flui como um rio atravessado de pedras, a autora nos conduz por versos que mais parecem cacos de uma vida tentando se colar. Cada poema é uma fresta. Cada página, um sopro.

Estamos diante de um romance que recusa a obediência da narrativa linear. Não há começo, meio e fim. Pelo contrário, há ruptura, dobra, silêncio e sangue. O luto, aqui, não é apenas ausência: é presença que lateja, é o que resta da voz que já foi, da casa que já não é abrigo. Evelyn escreve de um lugar onde o afeto é também ruína e, ainda assim, respiro.

O fora de rota do título é mais que geografia: é escolha política. É a mulher que foge do script, que abandona o mapa herdado, que escreve com o corpo e contra ele. É uma narrativa de desvio, e por isso mesmo, de descoberta. Ao romper com a rota, a personagem encontra o que sobrevive quando tudo parece ter se perdido: uma língua sua, um tempo próprio, uma forma de habitar o mundo com o que ainda pulsa.

Fora da rota é sobre o mundo da casa, sim, mas de uma casa que foi fratura, e que agora precisa ser reinventada. É sobre o que se rasga entre mãe e filha, entre passado e presente, entre a palavra e o que ela não dá conta de nomear. Evelyn Blaut escreve com um lirismo que corta. Com coragem de quem sabe que a dor também é matéria-prima do recomeço.

Com este romance em forma de poema, Evelyn Blaut irrompe na cena literária com uma escrita madura, experimental e profundamente feminina. Fora de rota é um livro para ser sentido com o corpo inteiro e que merece ser lido como manifesto, como carta íntima, como território. Um sopro de força para quem já ousou desobedecer aos caminhos impostos e encontrou poesia no desvio.

Livro indicado:

Fora de rota, de Evelyn Blaut

Editora: Todavia

Vanessa Passos é escritora, roteirista, professora de escrita criativa, doutora em Literatura (UFC) e pós-doutora em Escrita Criativa (PUCRS), sob orientação de Luiz Antonio de Assis Brasil. É idealizadora do Programa 321escreva, do Método Mais Vendidos e do Encontro Nacional de Escritoras. Lidera uma comunidade de escritoras que tem voz em mais de 9 países, orientando centenas de escritoras a escrever, publicar e divulgar seus livros. Autora do volume de contos A mulher mais amada do mundo (2020). Seu romance de estreia A filha primitiva foi vencedor do Prêmio Kindle de Literatura (2021), do Prêmio Jacarandá (2022), do Prêmio Mozart Pereira Soares de Literatura (2023) e vai ser adaptado para o cinema pela Modo Operante Produções, agora publicado pela José Olympio. É colunista do Jornal O POVO e do PublishNews. Nas redes sociais, a escritora pode ser encontrada no perfil: @vanessapassos.voz.

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