O Instituto Nacional de Estatística de Portugal (INE) divulgou os dados relativos à Cultura para o ano de 2023. Para a área do livro os números são os seguintes:
Foram publicados 12.299 títulos, dos quais 10.606 eram primeiras edições (86,2%) e 1.693 reedições (13,8%), de 9.283 autores. Do total de títulos, 8.755 (71,2%) eram originais e 3.537 (28,8%) traduções. Sete títulos não foram classificados.
Como se pode ver nos quadros abaixo, há uma queda na quantidade de títulos em relação a três dos quatro anos anteriores. 2020 foi o ano da pandemia.
Em Portugal é obrigatório, por Lei, que uma publicação tenha um número de Depósito Legal, que é atribuído pela Biblioteca Nacional, e que vai impresso nos livros. Sem esse número uma gráfica não pode imprimir. Mesmo que a impressão seja feita no exterior, se a editora estiver domiciliada em Portugal, há que ter o número de Depósito Legal. Também por isso a BN é uma fonte precisa. A Biblioteca Nacional recebe 11 exemplares de cada livro impresso para efeitos de Depósito legal.
Há que se lembrar sempre do tamanho de Portugal na comparação com o Brasil. Só temos uma ideia mais clara do tamanho do Brasil quando saímos dele. Portugal tem a mesma área geográfica do estado de Pernambuco e a mesma população de cerca de 10 milhões de habitantes.
Existem 518 editoras e 612 livrarias e alfarrábios (sebos) registrados na Autoridade Tributária, o equivalente da Receita Federal. Acho que o estado de Pernambuco não tem esses números. Calma, não se animem tanto, que o mercado é pequeníssimo na comparação com o mercado no Brasil. Foram 188 milhões de exemplares vendidos no Brasil e 13 milhões de exemplares vendidos em Portugal em 2023, considerando apenas o mercado, sem venda ao governo. Isso dá apenas 7% (sete por cento).
Para evitar importar pela Saudade Distribuidora títulos brasileiros que já estejam publicados em Portugal, faço um levantamento permanente do que é publicado por aqui. Assim, para o ano de 2023 cheguei ao número de 57 títulos brasileiros publicados por editoras comerciais portuguesas. Não entram nesta contagem as editoras brasileiras Urutau, Gato Bravo ou Kotter por exemplo, sediadas em Portugal e que publicam aqui seus originais. Se pensarmos nos 12.299 títulos publicados em 2023 em Portugal, esses 57 títulos representam apenas 0,002%. Digamos que o levantamento esteja muito falho. Multiplique-se por três e teríamos a representatividade de 1,39%. Continuaria ínfimo para a disponibilidade que existe no Brasil.
Portanto, é com o objetivo de aumentar a representatividade da autoria brasileira em Portugal que a Língua Mátria Editorial começa a sua atividade agora em 2025.Assim como o Brasil, Portugal também é um país onde o racismo está muito presente em grandes segmentos da sociedade. Concomitante a isso, ainda está muito impregnado, em grandes setores da sociedade portuguesa, a visão colonial e de metrópole. Os livros didáticos ainda trazem essa visão. A discussão e produção brasileira é pujante sobre essas temáticas e está muito avançada, na comparação com a produção e disponibilidade em Portugal.
Abrir uma editora não é somente um negócio. Também é uma escolha de como estar no mundo, como agir e interagir. É mais fácil fazer uma revolução do que mudar mentalidades.
A Língua Mátria vai publicar somente livros que foram escritos em português, não importa o país/território de origem. Como já disse José Saramago, “existem línguas em português”. É em respeito a esta diversidade cultural e a esta diáspora da língua que a Língua Mátria vai publicar seus livros sem fazer traduções e/ou adaptações na forma, no estilo, na sintaxe e na ortografia do texto original concebido por quem o escreveu. As palavras faladas e as palavras escritas têm diversos lugares de origem e estão impregnadas de cultura e de história. Acreditamos que é preciso preservar a identidade, a essência e a vivência singular de quem as profere ou escreve.
A Língua Mátria vai privilegiar algumas temáticas na sua linha editorial, tais como: antirracista, anticolonial, gênero, palavra de mulher e temas “tabu” marginalizados e invisibilizados como loucura e maternidade, por exemplo, além de pequenas joias literárias que podem não se enquadrar exatamente nestas temáticas principais.
Neste momento, temos seis títulos já com contratos de edição assinados. A previsão é que estejam publicados até maio de 2025, para estarem presentes na principal feira do livro de Portugal, a de Lisboa, que vai acontecer entre os dias 4 e 22 de junho deste ano.
Para a temática antirracista será publicado o livro Áurea, de Henrique Rodrigues. Com a temática anticolonial o livro Lugares de origem, de Ailton Krenak e Yussef Campos. Para os temas marginalizados temos três títulos. De Vanessa Passos, o livro A filha primitiva que aborda questões da maternidade e da mulher. De Marcela Dantés, os livros João Maria Matilde e Vento Vazio trazem novas luzes sobre a loucura. A negociação para os livros da Marcela foi realizada com a mediação da agência literária LVB&Co. que, logo na primeira conversa, gostou e acreditou no projeto da Língua Mátria. E, vindo das Minas Gerais, lugar de diamantes e ouro já conhecidos em Portugal, temos uma joia literária que também precisa ser conhecida por aqui: Tardes brancas, de Afonso Borges.
Só com a circulação de diferentes ideias, diferentes histórias e estórias, diferentes culturas e diferentes visões de mundo é que uma sociedade democrática pode existir. A luta é diária e os livros ainda são fundamentais para tal.
Desde janeiro de 2020 Jaime Mendes reside em Portugal e é um dos sócios fundadores da Saudade Livraria e Distribuidora, empresa com operações no Brasil e em Portugal. A Saudade tem por objetivo conectar os países de língua portuguesa e ser o elo entre leitores, escritores, livrarias e editoras desta comunidade lusófona, facilitando a circulação de livros e diferentes ideias, culturas e visões de mundo.
Trabalha com livros desde 1981 quando, ao entrar para a faculdade de História no IFCS/UFRJ, foi um dos responsáveis pela cooperativa dos estudantes. Em 1986, já formado e com o fim da cooperativa funda, com mais quatro amigos, a Livraria Bruzundangas no próprio IFCS. Sai da sociedade em 1988 ao ser contratado pelo Arquivo Nacional | MJ. Em 1992 foi um dos sócios-fundadores da Contra Capa Livraria em Copacabana. Em 1995 pediu exoneração do emprego público para se dedicar exclusivamente à livraria, que abriu a segunda loja em 1998, no Leblon. Jaime deixa a sociedade, por opção pessoal, em setembro de 1999. Em outubro desse mesmo ano entrou na editora Zahar, onde trabalhou por quase 12 anos, na função de gerente comercial. Entre maio de 2011 e novembro de 2012 trabalhou na editora Cosac Naify em São Paulo, onde exerceu a função de diretor comercial. De janeiro de 2013 a dezembro de 2019 exerceu as funções de diretor comercial no GEN | Grupo Editorial Nacional, holding fundada em 2007, e que é líder no segmento de publicações e conteúdos CTP (científico, técnico e profissional) no Brasil.
A Alta Novel é um selo novo que transita entre vários segmentos e busca unir diferentes gêneros com publicações que inspirem leitores de diferentes idades, mostrando um compromisso com qualidade e diversidade. Conheça nossos livros clicando aqui!
Mais de 13 mil pessoas recebem todos os dias a newsletter do PublishNews em suas caixas postais. Desta forma, elas estão sempre atualizadas com as últimas notícias do mercado editorial. Disparamos o informativo sempre antes do meio-dia e, graças ao nosso trabalho de edição e curadoria, você não precisa mais do que 10 minutos para ficar por dentro das novidades. E o melhor: É gratuito! Não perca tempo, clique aqui e assine agora mesmo a newsletter do PublishNews.
Precisando de um capista, de um diagramador ou de uma gráfica? Ou de um conversor de e-books? Seja o que for, você poderá encontrar no nosso Guia de Fornecedores. E para anunciar sua empresa, entre em contato.
O PublishNews nasceu como uma newsletter. E esta continua sendo nossa principal ferramenta de comunicação. Quer receber diariamente todas as notícias do mundo do livro resumidas em um parágrafo?