A importância da historiadora e escritora é essencial para a compreensão da identidade negra no Brasil, a começar pelo conceito de quilombo, segundo a organização. "A palavra quilombo não existia como símbolo de estratégia e inteligência de sobrevivência, até Beatriz Nascimento", explica Julio Ludemir, curador-geral e fundador da Flup.
Intitulada "Roda a saia, gira a vida", a programação vai propor uma jornada afirmativa em linha com o pensamento proferido pela filósofa e escritora americana Angela Davis – segundo ela, “quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”. O conceito de quilombo também integra a programação em debates sobre questões contemporâneas dos espaços periféricos.
O festival pretende um diálogo entre periferias globais e movimentos transatlânticos, uma referência que vai ao encontro do verso "Eu sou Atlântica", de Beatriz Nascimento. "Queremos que sua obra seja cada vez mais conhecida, mais lida, mais publicada, que chegue ainda mais longe", ressalta Ludemir.
Beatriz nasceu em Aracaju (SE) e migrou com os pais e irmãos para o Rio de Janeiro em 1949. Ingressou no curso de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1968 e se formou aos 29 anos de idade. Na sequência, se especializou em História do Brasil pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e participou da criação do Grupo de Trabalho André Rebouças e do Instituto de Pesquisa das Culturas Negras (IPCN).
No fim dos anos 1970, Beatriz conheceu territórios de antigos quilombos angolanos onde constatou mais profundamente a conexão entre as culturas negras do Brasil e da África. Já em 1989 participou do documentário Ôrí (1989) e narrou parte da trajetória dos movimentos negros no Brasil, entre 1977 e 1988, com base no conceito do quilombo como um símbolo de cultura e comunidade.
Em seu currículo, a intelectual possui diversos poemas, ensaios, roteiros e pesquisas. Entre os principais, estão Kilombo e memória comunitária: um estudo de caso (1982) e O conceito de quilombo e a resistência cultural negra (1985). Em 1995, Beatriz foi vítima de feminicídio.
Inspiração
O legado de Beatriz Nascimento tem sido perpetuado, inspirando outras pesquisadoras e escritoras negras. Seguindo a sua premissa, “precisamos falar de nós mesmos”, as professoras e escritoras Thaís Alves Marinho e Rosinalda Corrêa da Silva Simoni lançam na Flup o Dicionário biográfico: Histórias entrelaçadas de mulheres afrodiaspóricas. A dupla biografou cem brasileiras negras, que, ao longo de séculos, contribuíram para a construção do Brasil.
Ainda na Flup, a obra de Beatriz estará presente nos saraus e mesas de debate com a presença de outras personalidades negras do Brasil e do mundo. Em um desses encontros, Beatriz, uma autora fundamental, convidados vão discorrer sobre a importância do seu legado para a compreensão das relações raciais e o antirracismo no país.
Flup 2024
Além dos debates e encontros literários, a Flup realizará atividades culturais, como batalhas de slam, voguing e passinho, rodas de samba e shows de artistas reconhecidos. Também será destaque o ciclo Periferias 20, no qual serão discutidas as principais questões das periferias em um contexto global,paralelamente ao fórum de cooperação econômica do G20, que ocorrerá no Rio em novembro.
A Flup 24 é apresentada pelo Ministério da Cultura e Shell. Tem patrocínio master da Shell, patrocínio do Instituto Cultural Vale e Globo, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. O apoio é da Fundação Ford. O transporte oficial do evento é realizado pelo Grupo CCR, por meio do Instituto CCR, nas áreas de atuação do VLT Carioca e da CCR Barcas. Realização: Suave, Associação Na Nave, Ministério da Cultura, Governo Federal.
Serviço
Festa Literária das Periferias – Flup
Dias: de 11 a 17 de novembro
Hora: a partir de 13h
Local: Circo Voador
Endereço: Rua dos Arcos, s/n, Lapa – RJ
Entrada gratuita