"Levando em consideração a demanda manifestada pelas Casas Parceiras, anunciamos com satisfação que a iniciativa da Livraria da Flip foi estendida às Casas Parceiras de pequenas editoras por meio do Selo Livraria da Flip, promovendo o conceito de bibliodiversidade", diz uma nota da coordenação de parcerias da Flip enviada aos responsáveis pelas casas nesta semana. "A Casa Parceira que adquirir o Selo poderá vender livros e produtos correlatos, tornando-se parte da Livraria Oficial da Flip".
Segundo a nota da coordenação, com o selo as casas podem se engajar nas ações de ESG do ecossistema da Festa, que tem compromisso com o território de Paraty. A ação é uma contrapartida social negociada pela Flip com a Prefeitura da cidade e com o Iphan. Além do Selo, a Flip vai divulgar a ação de ESG realizada pela editora em Paraty nos dias da Flip.
Consultas do PublishNews a editores e profissionais do livro envolvidos na organização das parcerias da Flip mostram que essa movimentação recente da Festa tem causado desconforto e até indignação. Um editor que participa da Flip há pelo menos 15 anos indicou que existem conversas entre empresas de romper laços institucionais com a organização.
Nas redes sociais, o editor da Reformatório, Marcelo Nocelli, escreveu: "Flip anuncia resolução para que Casas Parceiras possam vender livros durante a festa literária em Paraty. Resumindo, tudo se resolve com mais 'milão' de cada casa. O que para algumas casas maiores talvez não seja muito, mas para as pequenas independentes é mais um peso e tanto em despesas já tão altas. Sem dizer que estamos falando de algo que nunca ocorreu em mais de 20 anos de Flip".
Além da Flipei – um dos espaços mais movimentados das últimas Festas em Paraty e que neste ano resolveu fazer seu evento apenas em São Paulo –, outra casa que já desistiu da sua participação na Flip foi a Casa Philos, ligada à Revista Philos. "Será a primeira vez desde 2018 que a Casa Philos não se fará presente na Flip", explica ao PN o editor da revista, Jorge Pereira. "Ao longo desses anos desenvolvemos uma sólida curadoria que nos fez ser uma das casas mais impactantes de Paraty. Porém, com as constantes mudanças de equipe e gestão da Casa Azul, as condições muito onerosas (e limitantes) com altas taxas para o programa de parceiros e um nítido interesse da organização do evento em ter controle sobre as casas, fizeram com que escolhêssemos nos retirar da condição de casa parceira da Flip em 2024. A Philos se preocupa em promover diálogo, integração, solidariedade e coesão social entre as pessoas, e sentimos que nos últimos anos a Flip tem se distanciado disso", apontou.
Já a Lote 42 decidiu ocupar alguns dos espaços oferecidos pela organização da Flip no Areal em Paraty. "As dificuldades de produzir uma casa em Paraty durante a Flip estão cada vez mais agravadas. A infraestrutura aquém da cidade, os imóveis inadequados e os custos cada vez mais vultuosos fizeram com que optássemos por ir à Flip na área de independentes oferecida oficialmente pelo evento. Estaremos lá com uma mesa da Lote 42 e outra para a Banca Tatuí. Sabemos que Garota FM, Impressões de Minas e Biblioteca SQN também estarão lá conosco, o que vai fazer com que o local seja uma referência de qualidade editorial", diz João Varella, da Lote 42 e Banca Tatuí. A Lote 42 participa das edições presenciais da Flip desde 2015 em diversas formas – já produziu uma casa em 2017, participou da Casa Pagã no ano passado e até já vendeu livros em uma janela de uma casa em 2015.
No dia 22 de agosto, a editora e consultora editorial Fernanda Emediato publicou um artigo dizendo que uma proibição de venda prejudica os editores que vão à Festa. "Essa medida, que visa proteger os interesses comerciais da organização, acaba por prejudicar gravemente as editoras brasileiras, que perdem uma oportunidade única de comercializar suas obras para um público altamente engajado e interessado em literatura", escreveu.