Análise: Até quando pagaremos influenciadores com livros?
PublishNews, Vinícius Barreto*, 1º/08/2024
Quando valorizarmos esse trabalho e pagarmos justamente aos nossos parceiros, teremos ainda mais qualidade de conteúdo, furando bolhas e chegando ainda mais longe com os nossos livros

'Há hoje diversas formas de monetizar os criadores e, em sua grande maioria, eles também estão dispostos a criarem conjuntamente novos modelos de negócio' | © Freepik
'Há hoje diversas formas de monetizar os criadores e, em sua grande maioria, eles também estão dispostos a criarem conjuntamente novos modelos de negócio' | © Freepik
Não sou dos mais antigos do mercado editorial. Iniciei minha carreira em 2017 e de lá para cá vi Jout-Jout esgotar livro em horas com vídeo no YouTube, vi livros explodirem em vendas após algumas pessoas, até então desconhecidas, resolverem falar sobre eles na internet. Vi algumas dessas pessoas se tornarem empresárias e até mesmo escritoras.

Mais recentemente, vi a ascensão de uma geração inteira de criadores de conteúdo literário e vejo toda uma cadeia voltar os olhos para o que está “bombando no TikTok”, a ponto, até mesmo, de criarem mesas dedicadas à rede social em livrarias.

Mas algo me chama a atenção. Ainda que esse potencial das redes sociais na propagação da literatura seja notado, por outro lado, algumas livrarias e editoras ainda insistem em querer pagar o criador de conteúdo com livros.

A desvalorização do trabalho criativo e de pesquisa dos influenciadores literários fica evidente quando ocasionalmente editoras obrigam parceiros a postarem conteúdos específicos, pouco importando sua liberdade criativa e a forma de consumo de suas comunidades. E tudo piora quando a única forma de “contratação” do creator é a permuta, sem nunca mencionar uma publicidade paga.

É claro que em um país com 10 milhões de influenciadores e um mercado enxuto como o editorial, nem todo mundo possa contratar ou ser contratado, mas não reconhecer financeiramente o trabalho dessas pessoas que colocam livros em listas de mais vendidos e emprestam suas vozes e audiências para os produtos de terceiros é, no mínimo, desrespeitoso.

É fato que qualquer pessoa com um celular e acesso à internet consegue produzir conteúdo virtual, mas quando colocamos na ponta do lápis alguns outros equipamentos utilizados pela maioria dos criadores, o investimento pode facilmente atingir quatro ou cinco dígitos.

Não surpreende que sejam poucos os criadores que conseguem se manter única e exclusivamente da criação de conteúdo. A maioria faz dupla ou tripla jornada para dar conta de sua subsistência e ainda manter o amor pela literatura. Mas só amor não paga conta. Assim como nós, editores e livreiros, temos amor pelos livros e recebemos pelo nosso trabalho realizado, criadores de conteúdo também merecem receber.

Há hoje diversas formas de monetizar os criadores e, em sua grande maioria, eles também estão dispostos a criarem conjuntamente novos modelos de negócio, desde que sejam pagos de forma justa pelas suas criações. E a permuta não é de todo mal. Para iniciar uma relação, um contato e até mesmo avaliar como o produto foi recebido pela comunidade do creator, a permuta pode ser válida. Mas tudo tem limite.

Em quase todos os eventos voltados ao mercado, a pauta de influenciador divulgar somente link de Amazon é recorrente. Mas isso tem um motivo: a Amazon paga. Cada venda gerada pelo link do influenciador vai pagar uma comissão. Ou seja, todo e qualquer post tem potencial de se tornar rentável. E é aqui que eu quero chamar a atenção de livrarias, porque se livreiros quiserem competir com os grandes players do mercado, criar novas oportunidades junto aos criadores pode ser um bom começo.

Quando valorizarmos esse trabalho e pagarmos justamente aos nossos parceiros, teremos ainda mais qualidade de conteúdo, furando bolhas e chegando ainda mais longe com os nossos livros. Valorizar o criador é valorizar o seu produto. O mercado editorial só tem a ganhar com isso.


*Vinícius Barreto é a administrador e tem MBA em Marketing pela ESPM. No mercado editorial atuou na Livraria da Travessa, na agência #coisadelivreiro e na Editora Rocco. Atualmente é Especialista em Marketing no Grupo Ediouro.

**O texto não reflete, necessariamente, a opinião do PublishNews.

[01/08/2024 09:20:08]