
Mais recentemente, vi a ascensão de uma geração inteira de criadores de conteúdo literário e vejo toda uma cadeia voltar os olhos para o que está “bombando no TikTok”, a ponto, até mesmo, de criarem mesas dedicadas à rede social em livrarias.
Mas algo me chama a atenção. Ainda que esse potencial das redes sociais na propagação da literatura seja notado, por outro lado, algumas livrarias e editoras ainda insistem em querer pagar o criador de conteúdo com livros.
A desvalorização do trabalho criativo e de pesquisa dos influenciadores literários fica evidente quando ocasionalmente editoras obrigam parceiros a postarem conteúdos específicos, pouco importando sua liberdade criativa e a forma de consumo de suas comunidades. E tudo piora quando a única forma de “contratação” do creator é a permuta, sem nunca mencionar uma publicidade paga.
É claro que em um país com 10 milhões de influenciadores e um mercado enxuto como o editorial, nem todo mundo possa contratar ou ser contratado, mas não reconhecer financeiramente o trabalho dessas pessoas que colocam livros em listas de mais vendidos e emprestam suas vozes e audiências para os produtos de terceiros é, no mínimo, desrespeitoso.
É fato que qualquer pessoa com um celular e acesso à internet consegue produzir conteúdo virtual, mas quando colocamos na ponta do lápis alguns outros equipamentos utilizados pela maioria dos criadores, o investimento pode facilmente atingir quatro ou cinco dígitos.
Não surpreende que sejam poucos os criadores que conseguem se manter única e exclusivamente da criação de conteúdo. A maioria faz dupla ou tripla jornada para dar conta de sua subsistência e ainda manter o amor pela literatura. Mas só amor não paga conta. Assim como nós, editores e livreiros, temos amor pelos livros e recebemos pelo nosso trabalho realizado, criadores de conteúdo também merecem receber.
Há hoje diversas formas de monetizar os criadores e, em sua grande maioria, eles também estão dispostos a criarem conjuntamente novos modelos de negócio, desde que sejam pagos de forma justa pelas suas criações. E a permuta não é de todo mal. Para iniciar uma relação, um contato e até mesmo avaliar como o produto foi recebido pela comunidade do creator, a permuta pode ser válida. Mas tudo tem limite.
Em quase todos os eventos voltados ao mercado, a pauta de influenciador divulgar somente link de Amazon é recorrente. Mas isso tem um motivo: a Amazon paga. Cada venda gerada pelo link do influenciador vai pagar uma comissão. Ou seja, todo e qualquer post tem potencial de se tornar rentável. E é aqui que eu quero chamar a atenção de livrarias, porque se livreiros quiserem competir com os grandes players do mercado, criar novas oportunidades junto aos criadores pode ser um bom começo.
Quando valorizarmos esse trabalho e pagarmos justamente aos nossos parceiros, teremos ainda mais qualidade de conteúdo, furando bolhas e chegando ainda mais longe com os nossos livros. Valorizar o criador é valorizar o seu produto. O mercado editorial só tem a ganhar com isso.

**O texto não reflete, necessariamente, a opinião do PublishNews.