Vamos explorar alguns pontos importantes sobre esse tema.
Um mundo em transformação digital
Estamos vivendo grandes e rápidas transformações, não apenas causados pela IA, mas por uma transformação digital mais ampla que vem acontecendo há anos. Como seres humanos temos muita dificuldade em nos adaptar a este mundo digital e ainda estamos aprendendo a lidar com essas mudanças. Encontrar um equilíbrio entre o uso saudável e o exagero, creio eu, ainda vai levar tempo. Por outro lado, se pensarmos bem, em qual setor das nossas vidas somos equilibrados?
Muitas vezes, atribuímos problemas como cansaço excessivo, aumento de déficit de atenção e deterioração das relações sociais ao uso de tecnologia. Alguns estudos dizem que é verdade, outros nos fazem entender que a questão é mais complexa. Acho que é importante lembrar que a tecnologia potencializou comportamentos que já existiam, tanto positivos quanto negativos. Nossa vida pouco saudável pode ter uma causa na nossa alimentação industrializada, mais do que no uso de telas. Ou ambos. Como disse antes, lidamos com problemas complexos.
A complexidade do mundo atual
Se o mundo em que vivemos é extremamente complexo, os problemas que temos exigem soluções igualmente complexas. Tendemos a buscar explicações e soluções simplistas, mas a realidade é muito mais intrincada.
Evitar a tecnologia, demonizar ou eliminar, não resolve o problema. Ah, eu sei que é mais simples e que encontrar uma resposta exige muito de nós. Mas enquanto evitarmos a busca por respostas mais completas e menos simplistas, nunca encontraremos uma solução real aos nossos problemas.
Nesse contexto, eu acredito que a melhor forma de enfrentar os desafios é nos aprofundarmos, estudarmos e adotarmos uma postura de aprendizes. Não podemos mais nos considerar especialistas absolutos nisso ou naquilo - precisamos estar abertos a aprender constantemente.
Voltado ao assunto da IA: quando falamos de IA no mercado editorial, é fundamental irmos além do básico. Não existe apenas o ChatGPT – há uma gama imensa de tecnologias sendo desenvolvidas e aprimoradas diariamente.
Por exemplo, a empresa Anthropic lançou recentemente o Claude Sonnet 3.5, um sistema mais avançado que o ChatGPT no quesito produção de texto, capaz de gerar textos de forma mais fluida e humanizada. Como editores, precisamos entender essas ferramentas e como elas podem nos ajudar a resolver nossos problemas (complexos).
Nos preocupamos muito com a defesa dos direitos autorais, e com razão. Porém, é importante evitar generalizações sobre o uso de textos protegidos por IA. Nem todos os modelos de linguagem utilizam conteúdo protegido.
Um exemplo é o Granite, da IBM, um modelo totalmente aberto e transparente, construído com textos que podem ser utilizados livremente. É crucial que estejamos bem-informados sobre essas nuances ao discutir o tema para não passarmos por pessoas superficiais.
Um outro exemplo de inovação nos modelos de linguagem é a atualização do Gemini Pro 1.5 do Google, que agora suporta dois milhões de tokens. O que significa isso? Significa que ele consegue analisar de uma só vez a série inteira de Harry Potter ou todo o texto Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust, ou a Bíblia inteira em qualquer uma das versões existentes! Isso deixa esta tecnologia muito mais precisa quando se deve fazer resumos ou análises de textos.
A inteligência artificial é uma ferramenta poderosa, mas não é uma solução mágica para todos os problemas do mercado editorial. Ela não vai, por si só, aumentar as vendas de livros ou fazer com que todas as pessoas no Brasil comecem a ler.
O que a IA pode fazer é ser um auxiliar, parte de uma estratégia mais ampla, que inclui mudanças em modelos de negócio e adaptação às novas formas de consumo de conteúdo no mundo digital.
Aprofundar conhecimentos e testar soluções
O convite que deixo é para que nos aprofundemos no tema, leiamos mais e estejamos dispostos a testar novas soluções. A IA pode ser uma plataforma para incrementar nossa criatividade e melhorar nossa capacidade de produzir conteúdo de qualidade.
Como profissionais de um mercado que se enaltece por ser um defensor da cultura e do conhecimento precisamos dar o exemplo e tomarmos consciência que as coisas não são simples como gostaríamos.
Não temos todas as respostas, mas podemos aprender com o mundo da tecnologia e adotar uma mentalidade mais ágil: testar rapidamente novas ideias e ouvir nossos leitores. Precisamos sair da inércia e arriscar um pouco mais com novos modelos de negócios e novas soluções. Começar pequeno, mas começar!
Só assim poderemos navegar com sucesso nesse novo cenário mundial.
CUKIER, Kenneth; MAYER-SCHÖNBERGER, Viktor; VÉRICOURT, Francis de. Framers: a vantagem humana em uma era de tecnologia e instabilidade. 1. ed. Rio de Janeiro: Alta Books, 2023.
SCHMIDT, Eric; HUTTENLOCHER, Daniel; KISSINGER, Henry A. A era da IA: e nosso futuro como humanos. 1. ed. Rio de Janeiro: Alta Cult, 2023.
KNEUSEL, Ronald T. Como a Inteligência Artificial funciona: da magia à ciência. 1. ed. São Paulo: Novatec Editora, 2024.
KNAPP, Jake; ZERATSKY, John; KOWITZ, Braden. Sprint: o método usado no Google para testar e aplicar novas ideias em apenas cinco dias. Tradução: Andrea Gottlieb. 1. ed. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2017.
ROGERS, David L. Transformação digital: repensando o seu negócio para a era digital. Tradução: Afonso Celso Cunha da Serra. 1. ed. São Paulo: Autêntica Business, 2017.
* José Fernando Tavares é especialista em Publicações Digitais e produtos digitais com mais de 14 anos de experiência no mercado editorial, especializado em tecnologia para negócios e Inteligência Artificial para produtividade. Em 2014, fundou a Booknando, empresa especializada em publicações digitais e livros acessíveis. No ano passado, criou a Volyo Audiobooks, focada na produção de audiolivros com uso de Inteligência Artificial. Com formação humanística, busca utilizar a tecnologia para melhorar o mundo. Tem paixão por vinhos e pelo aprendizado diário.
**Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.
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