Editoras trade veem domínio das livrarias exclusivamente virtuais e enfrentam desafios com reajuste do preço
PublishNews, Redação, 04/06/2024
As livrarias exclusivamente virtuais têm participação de 51,8% no faturamento das editoras de Obras gerais; enquanto isso, subsetor luta com reajuste do preço do livro, que segue distante do praticado no início da série

No subsetor de Obras gerais, Livrarias exclusivamente virtuais representam 51,8% do faturamento das editoras | © Livraria da Tarde
No subsetor de Obras gerais, Livrarias exclusivamente virtuais representam 51,8% do faturamento das editoras | © Livraria da Tarde

Considerando as vendas ao mercado, o subsetor de Obras Gerais registrou, em 2023, um recuo nominal de 2,5%, e de 6,8% quando considerada a inflação. Ainda segundo os dados apresentados na Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, o segmento também se destaca pelo crescimento e domínio das Livrarias exclusivamente virtuais como o principal canal de distribuição e a aparição, pela primeira vez, do Site Próprio – Marketplace entre os top 5 canais com participação no faturamento. Além disso, o subsetor foi o que apresentou maior variação positiva no preço médio ao mercado: 10,7%.

Destaque na Pesquisa Produção e Vendas do ano passado, as Livrarias exclusivamente virtuais aumentaram ainda mais sua participação no faturamento, chegando à marca de 51,8%.

Segundo Mariana Bueno, economista e coordenadora de pesquisas econômicas e setoriais da Nielsen BookData, primeiro é preciso entender por que esse canal ganha importância e analisar as edições anteriores da pesquisa. “Nos resultados de 2020 e 2021, Supermercado e Clube do Livro estavam neste ranking. Clube do Livro fica de fora da lista dos resultados de 2022 e agora, nos resultados referentes a 2023, Supermercado deixa o ranking”, recorda. “Se por um lado há um indicativo de que o canal Site Próprio – Marketplace ganha força, por outro há um indicativo da redução de outros dois canais. Então é difícil dizer se há, de fato, uma tendência ou é apenas uma nova acomodação por conta da queda do grau de importância de outros canais”, analisa.

Alguns números do subsetor de Obras Gerais na Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro – Ano base 2023 | © Nielsen / CBL / SNEL
Alguns números do subsetor de Obras Gerais na Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro – Ano base 2023 | © Nielsen / CBL / SNEL
Segundo Flávia Lago, editora sênior do Grupo Autêntica, os dados da pesquisa refletem a realidade da editora. "A gente realmente vê que os marketplaces conseguem atingir um público mais amplo, ainda mais considerando o território brasileiro. É uma tendência do consumidor, ter essa facilidade de comprar da sua casa", comenta. "O livro é um produto que é fácil de você consultar – seja pela livraria, site da editora ou através de alguma resenha – e é um produto que você pode comprar à distância mesmo. Para mim é uma tendência que vai crescer, principalmente entre os jovens".

“É natural uma ampliação da relevância desses meios, considerando a grande redução do número de pontos de vendas disponíveis para livros de interesse geral nos últimos anos”, avalia Gerson Ramos, diretor comercial da Planeta. “Aliado a isso está não só a redução das livrarias fechadas – por conta do encerramento das duas redes (Cultura e Saraiva) – mas também porque as livrarias têm realizado uma diminuição de metragem das lojas e uma readequação do mix de produtos, deixando menos espaços disponíveis para exposição de livros”.

Pensando em uma acomodação nos canais de distribuição, vale a menção ao canal Feiras do Livro/Bienal, que – com um crescimento tímido – atingiu 1,7% entre os canais de mais importância. “As feiras têm oferecido oportunidades importantes, especialmente naquelas que tanto os Governos do Estado como do Município oferecem vales-compras para professores e alunos da rede pública”, recorda Gerson.

Já Flávia cita a facilidade do acesso aos livros e chama atenção para o ponto importante dos descontos. “Pelo que me lembro, na Feira da Unesp que aconteceu recentemente, os descontos valiam só na feira, para quem fosse presencialmente, e eu acho isso saudável. Por mais que restrinja o público, acho que é garantido que a pessoa tenha a oportunidade de compra, e também não vai concorrer com a livraria. As livrarias, por sua vez, também podem fazer suas promoções e ações. Acho que esse equilíbrio entre os eventos e o mercado mais tradicional das livrarias físicas é fundamental, mas a presença das editoras nesses eventos é bem relevante, pelo contato direto com o público e por apresentar uma visão mais total do catálogo", analisa.

Preço do livro

Mesmo com uma variação positiva de 10,7% em relação ao preço médio, é preciso analisar novamente a série histórica da pesquisa para entender o que o resultado significa.

Para se ter um exemplo, de 2006 a 2023, o preço médio de Obras Gerais apresenta queda de 29% em termos reais, sendo que de 2006 a 2015 o preço médio do subsetor registrava redução de 44% em termos reais. “Ainda que nos últimos anos o preço médio tenha apresentado reajuste em termos reais, ele ainda está distante daquele praticado no início da série”, explica Mariana Bueno.

“Vale notar que, de 2006 a 2023, o faturamento destas editoras apresentou queda de 40% em termos reais. O setor tem um tremendo desafio, pois não há grande expectativa de que possa existir um aumento significativo no número de exemplares vendidos e é difícil prever até quando o reajuste de preço será capaz de segurar uma queda ainda mais expressiva deste subsetor”, frisa.

Gerson aponta outro fator que representa um desafio para o setor do livro: a falta de investimento. “Um ponto que deixamos de lado muitas vezes ao analisar os problemas do mercado editorial é que o consumo de cultura, educação e informação em geral foi muito prejudicado nos últimos anos e em alguns casos, com a classe artística e professores – grandes consumidores de livros – sendo até perseguidos e difamados. Não há como pensar em uma retomada do consumo de livro e da leitura, para não falar da sua expansão, sem uma política de Estado para valorização da Cultura e da Educação, ou sem uma cobrança constante da sociedade para que essa valorização seja preservada”.

No gráfico a seguir é possível conferir com o orçamento da União com a Cultura sofreu nos últimos anos. “Se nos ativermos apenas ao Orçamento da União dedicado à Cultura, a queda é vertiginosa e sem dúvida isso teve impacto no consumo de livros de quem já era consumidor, isso para não falar da dificuldade em se formar novos leitores”, compartilha Gerson.

Orçamento da União para Cultura | © SRF - Secretaria da Receita Federal
Orçamento da União para Cultura | © SRF - Secretaria da Receita Federal

"Cabe a nós como profissionais buscar as melhores soluções para nossas empresas, tanto como cabe a cada um de nós como cidadão, exigir e lutar por uma verdadeira valorização da Cultura e da Educação de qualidade para nossa gente", provoca.

[04/06/2024 10:00:00]