Em quase duas décadas, mercado editorial brasileiro encolhe 44%
PublishNews, Redação, 08/07/2025
Considerando as vendas totais, incluindo as transações com o governo, a queda entre 2006 e 2024 é de 30%, segundo a série histórica da Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro

Análise da série histórica do setor | © CBL/SNEL/Nielsen
Análise da série histórica do setor | © CBL/SNEL/Nielsen
A série histórica da Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, estudo coordenado pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), com apuração da Nielsen BookData, mostra que em 2024, pelo quinto ano consecutivo, o setor editorial apresentou recuo em termos reais nas vendas realizadas ao mercado. A queda de 2006 a 2024 chega a 44% – ou seja, no total, as editoras brasileiras faturaram, no ano passado, 44% menos do que em 2006 (sem contar as vendas ao governo).

Considerando as vendas totais, incluindo aí as transações com o governo por meio dos planos de compra de livros, a queda entre 2006 e 2024 é de 30%.

O conteúdo digital (e-books e audiolivros), por outro lado, registra um crescimento de 200% em seis anos, desde 2019, primeiro ano do levantamento do digital. Assim como com os livros impressos, os livros digitais também estão mais baratos em termos reais: em seis anos, o preço real caiu 30%. Como ficou demonstrado em maio, pela primeira vez, em 2024, o desempenho positivo com conteúdo digital impulsionou o crescimento real de todo o setor. Atualmente, o mercado digital representa 9% do mercado.

Subsetores

Em 2024, o preço médio real dos livros do subsetor de Obras Gerais – ou seja, dos livros mais comuns nas livrarias, por exemplo – se aproximou dos níveis praticados no início da última década (2010). Ainda assim, permanece 27% abaixo do valor registrado em 2006. O reajuste de preços tem sido a estratégia adotada pelas editoras para compensar as perdas acumuladas ao longo dos últimos 19 anos, o que permitiu um bom desempenho em 2024, fazendo com que as editoras de Obras Gerais recuperassem a perda registrada em 2023 e alcançassem a maior participação na série histórica: 39% do faturamento do setor veio dessa categoria em 2024, considerando as vendas ao mercado. O número de exemplares comercializados pelo subsetor apresentou pequena variação, mas é o segundo menor patamar desde 2006 – à frente apenas do registrado em 2023.

O subsetor de Religiosos registrou um recuo de 10% no faturamento ao longo dos últimos 19 anos. Apesar da retração, o desempenho representa o melhor resultado entre os subsetores. Em termos reais, o preço médio se mantém estável desde 2013, mas permanece 29% abaixo daquele registrado em 2006. Apesar da variação positiva no número de exemplares vendidos em 2024, a média de vendas nesta década (2020-2024), até o momento, permanece 22% inferior à média observada na década anterior (2010-2019).

Entre as editoras de livros CTP (científicos, técnicos e profissionais), embora 2024 tenha registrado uma queda real de 2% no faturamento, 2024 registrou o melhor desempenho anual em termos reais da década. No acumulado desde 2006, a queda é de 61% no faturamento.

As participações dos subsetores CTP e Didáticos, que eram de 21% e 33% em 2006, agora representam 15% e 29%, respectivamente. Em 2024, Obras gerais representam 39% das vendas ao mercado (eram 35% em 2006), e Religiosos tem 17% da fatia do mercado (era 11% em 2006).

Nos seus respectivos auges, CTP chegou a representar 26% da categoria em vendas a mercado em 2012, e Didáticos teve 37% de todas as vendas em 2016, 2017 e 2018.

A queda do subsetor de Didáticos desde 2006 é de 51% nas vendas ao mercado. Pela primeira vez em 19 anos, o número de exemplares comercializados pelas editoras no subsetor ficou abaixo dos 30 milhões. No acumulado dos últimos cinco anos, as editoras de livros didáticos registraram recuo de 25% em termos reais nas vendas realizadas ao mercado. A forte retração das editoras de Didáticos foi o principal fator para o desempenho negativo, em termos reais, da indústria em 2024. Pela primeira vez, a venda de livros ao mercado representa menos de 40% do faturamento das editoras de Didáticos.

Evolução do faturamento impresso + digital desde 2019 | © CBL/SNEL/Nielsen
Evolução do faturamento impresso + digital desde 2019 | © CBL/SNEL/Nielsen
Análises

“As fortes quedas nos dois subsetores com maior valor médio, CTP e Didáticos, são forças importantes nesta queda do resultado geral", comenta Dante Cid, presidente do SNEL. "Mas os demais segmentos não ficaram imunes à queda generalizada nestes quase 20 anos da série. Isso é bastante preocupante em um país que precisaria aumentar o índice de leitura para reduzir suas desigualdades sociais através da Educação”.

Para Sevani Matos, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), os dados refletem um alerta que o setor já vem sinalizando: a urgência de políticas públicas consistentes para o fomento à leitura, à produção editorial e à valorização do livro no Brasil. "O encolhimento de quase metade do mercado em duas décadas impacta diretamente na formação de leitores, no acesso ao conhecimento e na sustentabilidade de toda a cadeia produtiva. Precisamos, mais do que nunca, de um pacto nacional em defesa do livro, da leitura e da educação de qualidade", destaca.

Mariana Bueno, coordenadora de pesquisas da Nielsen BookData, avalia que a última década foi marcada por inúmeros desafios e transformações. "A série reforça a importância de analisarmos o mercado com foco em cada um dos subsetores, já que o impacto dessas turbulências variou significativamente entre eles. Didáticos passa por uma profunda transformação — algo semelhante ao que observamos em CTP, onde a estratégia voltada para o digital tem se mostrado acertada. Religiosos foi menos afetado pelas crises, mas enfrenta dificuldades para recuperar os preços, que permanecem estagnados desde 2013. Já o segmento de Obras Gerais tem obtido bons resultados, mesmo com a queda no número de exemplares vendidos, graças à recuperação dos preços, que hoje se aproximam dos níveis de 2010”, destaca.

Mercado Digital do Setor Editorial

A série histórica da Pesquisa Conteúdo Digital do Setor Editorial Brasileiro mostrou um crescimento de 200% em seis anos, desde 2019, primeiro ano do levantamento. Assim como com os livros impressos, os livros digitais também estão mais baratos em termos reais: em seis anos, o preço médio real caiu 30%.

A segmento “Outras Categorias”, que agrupa as formas de comercialização Bibliotecas Virtuais, Assinaturas, Cursos Online e Plataformas Educacionais, teve um crescimento de 30% em 2024 em relação ao ano anterior. Dentro deste guarda-chuva, a subcategoria de Bibliotecas Virtuais registra um crescimento 378% nos últimos seis anos.

O desempenho do conteúdo digital impulsionou, pela primeira vez, o crescimento real de todo o setor em 2024, isto é, descontando a inflação. Atualmente, o mercado digital representa 9% do mercado.

Evolução do faturamento com conteúdo digital desde 2019 | © CBL/SNEL/Nielsen
Evolução do faturamento com conteúdo digital desde 2019 | © CBL/SNEL/Nielsen
Números

SETOR – Análise em termos reais - preços constantes

Mercado

  • 2023-2024: -1%
  • 2014-2024: -43%
  • 2006-2024: -44%

Total

  • 2023-2024: 2%
  • 2014-2024: -30%
  • 2006-2024: -30%

Fonte: série histórica da Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro (CBL, SNEL e Nielsen)

Clique aqui para ver a apresentação da série histórica na íntegra.

Clique aqui para ver a série histórica do conteúdo digital.

[08/07/2025 10:30:00]