Conheça seis obras essenciais de Gabriel García Márquez
PublishNews, Beatriz Sardinha, 17/04/2024
O PN preparou uma lista com seis obras que trazem aspectos fundamentais para apreciação da obra do autor colombiano

© Divulgação
© Divulgação
Dezessete de abril de 2024 marca a data de dez anos da morte de Gabriel García Márquez, em 2014. Além de vencedor do Nobel de Literatura em 1982, o autor colombiano é celebrado como autor de escrita e escolha vocabular única. Em março de 2024 foi lançado Em agosto nos vemos (Record), livro póstumo que o autor afirmou publicamente "querer destruir" - aproveitando a deixa, o PN fez três perguntas para Eric Nepomuceno, que traduziu a obra para o português. O lançamento póstumo entrou também para a lista de Mais Vendidos do PublishNews em março deste ano.

A editora Record compartilhou com o PN uma comparação das obras de García Márquez de março de 2024 com as vendas de março de 2023. Sem considerar as vendas de Em agosto nos vemos, os demais títulos do autor tiveram um aumento de 101,5% no período analisado. Confira o ranking dos dez livros mais vendidos:

  1. Em agosto nos vemos
  2. Cem anos de solidão
  3. Crônica de uma morte anunciada
  4. O amor nos tempos do cólera
  5. Box Gabriel García Márquez (Edição de colecionador)
  6. Memória de minhas putas tristes
  7. Do amor e outros demônios
  8. Doze contos peregrinos
  9. Relato de um náufrago
  10. A revoada (O enterro do diabo)

Gabriel García Márquez e o jornalismo

Além de seu trabalho na literatura, é necessário pontuar sua formação como jornalista e a influência jornalística no seu processo de escrita. Joana Rodrigues, professora de Letras da Universidade Federal de São Paulo e Franklin Valverde, mestre em Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-americana (FFLCH-USP) e doutor em Ciências da Comunicação pela ECA-USP ressaltam que o fazer jornalístico está presente de maneira significativa em suas obras.

Joana é estudiosa das crônicas produzidas por Gabriel García Márquez e fala de "um entrecruzar bastante positivo, sedutor e prazerozo" presente na obra do escritor. Em sua tese de Mestrado na USP, ela analisa 200 crônicas escritas por García Márquez entre 1980 e 1984. A obra Notas de prensa 1980-1984, segundo ela, é um espaço em que ele requinta seu laboratório de escrita e ajusta sua forma de escrever: "Essas crônicas trazem temas muito corriqueiros mas universais, a partir de observações do cotidiano ele faz reflexões sobre escrita, filosofia, jornalismo, paixões, música, política. Ele tem um estilo único, marcado por uma escolha lexical, vocábulos que apenas ele usa". Durante o período da escrita das crônicas, Gabo escrevia uma crônica por semana para o jornal El Espectador.

Conheça mais sobre obras consideradas fundamentais para compreender a obra de Gabriel García Márquez:

  • Relato de um náufrago (1955)

Relato de um náufrago conta a história de oito tripulantes do destróier Caldas, da Marinha da Colômbia, caíram na água e desapareceram durante uma tormenta no Mar do Caribe. Apenas Luís Alexandre Velasco sobrevive. Após passar dez dias à deriva, Velasco é encontrado numa praia deserta na Colômbia. Naquele contexto, o país vivia sob a ditadura folclórica de Gustavo Rojas Pinilla, e Velasco foi transformado em um herói nacional, fazendo discursos patrióticos no rádio e na televisão.

"[Relato de um náufrago] Mostra o talento dele como jornalista, profissão que atuava na época, e como esse talento aflorou a sua habilidade como escritor", afirma Franklin.

  • Cem anos de solidão (1967)

Considerada uma unanimidade entre leitores, Cem anos de solidão é a obra mais conhecida de Gabriel García Márquez. O livro conta a história dos Buendía - a estirpe de solitários para a qual não será dada “uma segunda oportunidade sobre a terra” e apresenta a fictícia Macondo, onde se passa o romance. Lá, o leitor acompanha diversas gerações dessa família, assim como a ascensão e a queda do vilarejo.

Franklin destaca que Cem anos de solidão é um dos títulos de um "boom" na literatura no continente: "é o livro que inaugura o 'realismo mágico', marcando um período 'boom' da literatura latino-americana nos anos 1960 e 1970. Esses livros revelaram, de certa forma, para o mundo, a potência da literatura latino-americana", comenta.

  • O outono do patriarca (1975)

O outono do patriarca foi publicado em 1975, é uma alegoria do autoritarismo na América Latina e mostra um "Gabo político", como conta Joana. Nele, através dos delírios de um ditador quimérico, com idade indefinida entre 107 e 232 anos, vagando num universo onde tudo conduz à lembrança do tempo acumulado.

O mestrado de Franklin foi centrado nessa obra de García Márquez. "É uma obra que ele mais trabalha o experimentalismo, que foi escrita sem ponto final. As frases vão seguindo umas atrás das outras, mostrando esse ditador que é uma figura presente na história de muitos países da América Latina", comenta o professor formado pela PUC-SP.

No texto, Gabo incorpora textos do diário do Cristóvão Colombo, reescreve fatos históricos do continente: "Essa maneira como ele relata é fascinante porque faz com que você embarque na aventura dele e repense uma série de capítulos da história da América Latina de forma romanceada, mas sem perder a força política de denúncia que a escrita do García Márquez sempre mostrou", comenta o pesquisador

  • Crônica de uma morte anunciada (1981)

Joana destaca Crônica de uma morte anunciada como "uma das doses maiores de jornalismo e literatura que Gabriel García Márquez nos apresenta”. Na obra, García Márquez monta uma superposição das versões de testemunhas que estiveram próximas a Santiago Nasar no último dia de sua vida. A morte da personagem é anunciada na primeira linha do livro.

"É uma história absurdamente bem contada por personagens movidos pelo amor. E tem uma carpintaria espetacular para contar algo que ele anuncia desde a primeira página que havia acontecido. É uma combinação da capacidade extraordinária de contar uma história, com a capacidade extraordinária das reportagens", afirma a professora da Unifesp.

  • O amor nos tempos do cólera (1986)

Joana destaca a obra enquanto um livro de tradição: "Fala sobre uma trajetória de vida no amor. Um romance corajoso, que trata da velhice e de uma maturidade no amor”. O enredo do livro é baseado na história real dos pais de Gabriel García Márquez. O amor nos tempos do cólera acompanha a relação de Florentino Ariza e Fermina Daza. O livro começou a ser escrito em 1984, um ano após período sabático que García Márquez se concedeu após receber o Prêmio Nobel, em 1982. Ali, o autor recolheu alguns dos episódios contados no livro, como a epidemia de cólera que assolou a cidade no final do século XIX.

  • A incrível e triste história de Cândida Eréndira e sua avó desalmada (1972)

Franklin define esta obra de Gabo como um 'livro que rendeu muitas versões’. Uma adaptação da obra foi filmado com próprio roteiro de García Marquez em 1983, com o título de Eréndira. O livro conta história de uma adolescente que é explorada pela avó. Também ganhou versão no teatro com roteiro de Augusto Boal, no Brasil.



[17/04/2024 09:00:00]