Feira do Livro de Bolonha termina com sensação de retomada e expectativa de consolidação de tendências
PublishNews, Guilherme Sobota, 11/04/2024
Romantasia, Dark Academy e livros ilustrados foram alguns dos destaques nas mesas de negociação, e painéis destacaram mercado internacional e efeito da censura de livros nas vendas

Feira de Bolonha 2024 deixou boa impressão para as editoras brasileiras | © BCBF
Feira de Bolonha 2024 deixou boa impressão para as editoras brasileiras | © BCBF
A Feira do Livro de Bolonha termina nesta quinta-feira (11) com público 10% maior do que em 2023 e uma sensação de retomada das atividades a níveis pré-pandêmicos. Editores e profissionais ouvidos pelo PublishNews afirmaram que os corredores estavam cheios e que o Brasil teve participação de destaque nesta edição, a 61ª, que começou na última segunda-feira (8). Mais de 40 editoras participaram dos estandes brasileiros – do Brazilian Publishers e do Instituto Emília – e relatos na imprensa internacional também apontam para uma euforia no evento.

Segundo a Feira, foram 31.735 visitantes profissionais durante os quatro dias, público 10% maior do que em 2023. Foram 385 eventos oficiais, e mais 220 eventos promovidos pelos 1.523 expositores de mais de 100 países.

"Tivemos a oportunidade de apresentar a diversidade e a riqueza da literatura infantojuvenil brasileira com um estande exclusivo e uma delegação forte", comenta a presidente da Câmara Brasileira do Livro, Sevani Matos. "Foi um momento importante para nós, onde pudemos mostrar ao mundo o que o Brasil tem a oferecer no campo editorial. Estávamos confiantes de que nossa participação iria contribuir significativamente para fortalecer a presença e o reconhecimento do Brasil no cenário literário global. As expectativas eram altas e acredito que cumprimos nosso objetivo, estabelecendo conexões internacionais importantes e mostrando a capacidade criativa e editorial do nosso país".

"Foi uma feira super vibrante", avalia a diretora do Instituto Emília, Dolores Prades. "Foram muitos eventos ao mesmo tempo, mais do que o normal. Muita gente, como fazia tempo que não tinha. Acho que houve vários pontos altos em termos de participação, como foi o caso da presença de vozes que precisam ser escutadas. Vimos um aquecimento do mercado. Enfim, acho que é uma das melhores feiras dos últimos anos, recuperando um pouco o ritmo de antes da pandemia, ainda que no ano passado tenha sido assim também".

O editor e livreiro Alexandre Martins Fontes concorda. "Na minha opinião, este ano, tivemos a melhor edição da feira de Bolonha dos últimos tempos (pré e pós-pandemia): lotada, super bem-organizada, excelentes projetos editoriais, ótimas exposições paralelas, e uma importante presença de editoras brasileiras. O estande do Instituto Emília estava lindo!", afirma.

Para a publisher de Literatura na FTD Educação, Isabel Lopes Coelho, esta foi de fato a Feira da retomada. "Vimos muito público, muitos editores, muitas editoras novas de diversos países. Percebi uma retomada do mercado bastante interessante, com editoras novas da Itália, da América Latina, da própria França, enfim, Europa. Teve um destaque também para as editoras africanas, que tinham um lugar exclusivo para elas, uma organização bastante interessante, com mesas e dando bastante visibilidade", comenta.

Para ela, ficou uma sensação de renovação e valorização das pequenas editoras e do trabalho autoral, consciente dos temas atuais. "Foi muito, muito interessante e estou bastante contente com o que eu vi em termos de produção do mundo e também do que a gente conseguiu mostrar. Muitas pessoas interessadas em ver os nossos livros e o Brasil fez bonito também, veio com uma delegação bastante grande. A gente tinha mais de um estande representando as editoras brasileiras e valeu bastante a pena, quem estava aqui tem certeza de que gostou muito", diz.

A editora-executiva da Galera Record e da Verus, Rafaella Machado, percebeu algumas tendências importantes. "Foi a Feira da Romantasia. Todo mundo tem um título quente juntando romance e fantasia esse ano. Além de algumas outras tendências que eu achei bem interessantes, como, por exemplo, Dark Academia, que são romances góticos onde pessoas competem por espaços em universidades, competem pelo mesmo cargo, como por exemplo, Lições sobre afogamentos, que a gente acabou de lançar pela galera. Mas esse é um título que inspirou vários outros aqui na feira. Também foi uma feira muito movimentada para Picture Books. A gente sabe que todo mundo no Brasil está indo atrás de títulos para pequenos leitores. A gente na Record está com um selo novo, que é o Reco-reco. Então, estamos com vários lançamentos anuais e em busca de novos títulos", informa.

A editora também percebeu uma tendência de livros com temática sobre viagem no tempo ou duas linhas temporais e loops temporais, com personagens presas num determinado dia ou em um determinado ano, no passado. "Então acho que viagem no tempo está vindo com tudo, assim como dragões também estão vindo com tudo, isso no espaço de Young Adult e Middle Grade", avaliou.

Mercados internacionais

Alguns dos painéis mais disputados foram relacionados ao mercado chinês de livros infantis – são cerca de 40 mil títulos por ano para um público de mais de 360 milhões de crianças. Por lá, as redes sociais são um grande vetor de vendas, com influencers que vão de celebridades a pequenos grupos de mães e professores, por exemplo. Ao Publishers Weekly, a agente literária dinamarquesa Janne Møller explica que um título seu foi publicado na China, promovido inicialmente pelo marketing nas redes sociais, e vendeu quatro mil cópias nos primeiros 30 minutos. "É incrível como as redes sociais são efetivas por lá", constatou.

Editores e profissionais também começaram a perceber um efeito da censura de livros – que aparentemente virou moda nos EUA – nas vendas. Com livros ilustrados, "parece que banir livros das escolas está afetando as vendas", disse ao Publishers Weekly a CEO da Abrams Books, Mary McAveney. "Agora quando um distrito inteiro do Texas ou da Flórida diz que não vai comprar um livro, faz diferença", disse, reforçando que os livros precisam ser publicados mesmo assim. "Minha impressão é que leitores mais velhos podem encontrar os livros por si mesmos, ainda que eles não estejam nas escolas. Mas para crianças mais jovens, os pais estão mais suscetíveis, e os professores dependem dos contribuintes".

A próxima edição da Feira do Livro de Bolonha vai ocorrer de 31 de março a 3 de abril de 2025.

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[11/04/2024 10:10:00]