
Nascido em 1995, em Muzambinho (MG), o ilustrador é formado em design de moda e atualmente faz doutorado em design na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, em Portugal. Sua obra é marcada pela valorização do cotidiano de comunidades invisibilizadas e pela memória do interior.
A presença de Bruno no Golden Pinwheel soma-se a outras conquistas recentes. Em 2024, ele foi o primeiro latino-americano convidado a criar a identidade visual da Feira Internacional do Livro Infantil de Bolonha 2025, um dos principais encontros do mercado editorial infantil no mundo.
O PublishNews perguntou a Bruno de Almeida o que ele está lendo e esta foi a resposta:
"Aqui em cima da minha mesa tem uma pilha de livros que vou lendo aos poucos, em uma espécie de leitura cruzada. Sempre me rodeei de livros e nunca senti a necessidade de ler todos do início ao fim, algumas histórias ficam melhor em suspenso. Há personagens de livros que li que até hoje não sei seu paradeiro final, mas pirilampa na minha memória algumas passagens e situações análogas às minhas.
Mas de todo, o livro que mais tenho carregado na bolsa e lido no metrô, nos cafés e de ponta cabeça na cama é Metamorfoses, do filósofo francês Emanuele Coccia. O livro, em versão brasileira editado pela Dantes, apresenta um modo de estar no mundo em diálogo com o que existe ao lado, desde os pequenos insetos aos grandes tubarões. Temos em comum a ocupação de um mesmo planeta com força metamórfica e a partir dessas alterações vamos desenhando individuações que nos levam a encontros calorosos que justificam a nossa estadia nesta Terra.
Após percorrer a obra do filósofo Ailton Krenak, ler Emanuele Coccia em seguida me traz um pouco de esperança: pensamentos sobre a ecologia, antes fragmentados em uma visão eurocêntrica, parecem reconstruir uma filosofia do comum, da rede e da floresta. Tenho a percepção de um Sul Global que opera enquanto floresta viva, mutante, com esses saberes imbuídos no espírito de quem a ocupa, e vivendo no continente europeu há alguns anos, sinto que essas questões não têm sido elaboradas da mesma forma por aqui ao longo do tempo.

E nessa leitura filosófica, tem me acompanhado o livro de ficção Floresta é o nome do mundo, de Ursula K. Le Guin editado no brasil pela Morro Branco. O livro me trouxe uma sensação parecida com a de ler Coccia: a vida aparece como algo que circula e se transforma, onde ninguém está separado do outro ou do ambiente ao redor. Os athsheanos vivem em comunhão com a floresta, respirando, sonhando e existindo junto dela, como se fossem parte de um mesmo corpo. Quando os humanos chegam, tudo se altera e a violência que eles trazem força uma transformação dolorosa, mostrando que qualquer ruptura nesse fluxo da vida afeta tudo e todos.
Ler Le Guin assim, junto de Coccia, faz sentido porque transforma filosofia em experiência, a ideia de que tudo está vivo, em constante metamorfose, deixa de ser pensamento e vira quase um modo de sentir o mundo. E sentir, talvez, seja o que mais precisamos, e por isso os livros se tornam portas para tantas sensações, lembrando-nos de que estamos todos conectados, compartilhando algo comum: a existência neste planeta em metamorfose."