Festival Literário do Museu Judaico de São Paulo debate memória e identidade
PublishNews, Redação, 24/11/2023
Com curadoria de Daniel Douek e Rita Palmeira, segunda edição do evento – que ocorre de 30/11 a 3/12 – traz autores do Brasil, Alemanha, EUA, França, Inglaterra e Israel

De 30 de novembro a 3 de dezembro, ocorre a segunda edição do Festival Literário do Museu Judaico de São Paulo (FliMUJ), evento que contará com 30 autores brasileiros e estrangeiros que irão debater, a partir de perspectivas judaicas e não judaicas, sobre a importância da lembrança e o direito ao esquecimento.

Com a curadoria de Daniel Douek, cientista social, mestre em Letras e doutorando em Letras, e Rita Palmeira, crítica literária e editora, doutora em Literatura Brasileira e mestre em Teoria e História Literária, a edição deste ano do FliMUJ contará com 12 mesas, durante as quais serão discutidos os diversos usos que são feitos da noção de dever de memória.

“Se uma sociedade não existe sem seu passado, desde suas tradições até o enfrentamento das chagas resultantes de projetos desumanos – a escravização, o extermínio ou o colonialismo de forma mais ampla –, o indivíduo submetido a eventos traumáticos deve poder esquecer”, teorizam Daniel e Rita.



“Quem tem o privilégio de esquecer ou o dever de lembrar? As vítimas da violência ou os algozes? Pensada sob a ótica das dores individuais, a memória pode ser uma condenação paralisante, que leva à melancolia. Se não estiver atrelado ao trabalho do luto, como sustenta a psicanálise, o lembrar-se constante é sinônimo de sofrimento”, completam os curadores.



Entre os convidados internacionais estão o escritor e humorista inglês David Baddiel, autor do livro Judeus não contam; o intelectual afro-judeu estadunidense Lewis Gordon, autor de Medo da consciência negra; e a escritora russa naturalizada alemã Lena Gorelik, que publicou Wer wir sind (Quem somos nós), um romance autobiográfico que conta como uma mulher se encontra e como é vista na Alemanha de hoje. A lista de convidados estrangeiros é completada com a autora francesa Colombe Schneck e o escritor israelense Iddo Gefen, que coletou sonhos de israelenses e palestinos que vivem próximos às fronteiras entre Israel, Gaza e Cisjordânia.

Dos escritores brasileiros presentes no evento estão nomes como Bianca Santana, biógrafa de Sueli Carneiro e que foi uma das curadoras da primeira edição do FliMUJ, e Betina Anton, autora de Baviera Tropical: A história de Josef Mengele, o médico nazista mais procurado do mundo, que viveu quase vinte anos no Brasil sem nunca ser pego. A lista conta ainda com Assucena, Bernardo Kucinski, Christian Dunker, Cida Bento, Cintia Moscovich, Clarice Niskier, Flavia Castro, Fortuna, Jacques Fux, Márcia Mura, Marcos Guterman, Michel Gherman, Michel Laub, Prisca Agustoni.

Confira a programação completa:

Mesa 1 | 30.11, quinta-feira,
19h | Quem se lembra dos judeus?
Com David Baddiel mediação de Giselle Beiguelman Por que os judeus são constantemente excluídos das discussões sobre discriminação? Por que não figuram entre as minorias políticas? O comediante e escritor britânico sustenta em seu livro Judeus não contam, recém-lançado no Brasil, que essa ausência revela que, ao contrário de outros preconceitos, o antissemitismo é ainda hoje admitido entre progressistas.

Mesa 2 | 01.12, sexta-feira,
16h | Judeu é branco?
Com Cida Bento e Michel Gherman mediação de Thais Bilenky Em um país racista como o Brasil, o lugar do judeu é ambivalente. Se, por um lado, quem tem a pele clara beneficia-se de inúmeros privilégios relativos às perspectivas de ascensão social e à própria possibilidade de manter-se vivo, por outro, a insistente presença do antissemitismo lembra que judeus não chegam a ser plenamente brancos. Nesse sentido, que alianças são possíveis entre negros e judeus na construção de uma sociedade verdadeiramente democrática? E quais os seus limites?

Mesa 3 | 01.12, sexta-feira,
18h | Bom, agora a gente pode começar?
Com Cíntia Moscovich e Jacques Fux mediação de Rita Palmeira Esta mesa reúne dois escritores que, em sua obra, exploram a memória familiar e identidade judaica. Em Por que sou gorda, mamãe?, de Moscovich, e em Antiterapias, de Fux, por exemplo, o ato de lembrar tem função de elaboração da identidade de quem narra. O nome da mesa alude à frase final do célebre romance do escritor norte-americano Philip Roth O complexo de Portnoy.

Mesa 4 | 01.12, sexta-feira,
20h | Meu outro retrato?
Com Gabriela Wiener mediação de Micheline Alves A memória familiar é capaz de condicionar quem nós somos? Em seu mais recente livro, a jornalista peruana Gabriela Wiener parte da história do tataravô judeu, de quem herdou o sobrenome, para investigar sua identidade. Costurada pela perda do pai, pelo exílio voluntário na capital do país que colonizou sua terra natal e pela assunção do desejo, a narrativa autobiográfica de Wiener explora a conflituosa construção de si e do outro, racismo, assimilação e decolonialidade – temas que nortearão a conversa nesta mesa.

Mesa 5 | 02.12, sábado,
11h | Você acha que alguém como você pode escrever sobre a Shoá?
Com Colombe Schneck e Michel Laub mediação de Adriana Ferreira Silva Como se pode narrar o horror não testemunhado? Como contar o extermínio gerações depois? A narração é uma forma de reparação? Para quem? Nesta mesa, dois escritores de nacionalidades, trajetórias e obras distintas debatem, a partir dessas questões, a dimensão ética da escrita. Esta mesa tem o apoio da Embaixada da França no Brasil.

Mesa 6 | 02.12, sábado,
14h | Quando foi que me descobri?
Com Bianca Santana, Clarice Niskier e Márcia Mura mediação de Fernanda Diamant “Tenho trinta anos, mas sou negra há dez”, escreve Bianca Santana. Ao narrar sua própria história, a autora de Quando me descobri negra deu visibilidade ao fenômeno de autorreconhecimento, compartilhado por pessoas das mais diversas origens: negras, indígenas, judias. A mesa abordará os processos de descoberta identitária como posicionamento em favor da legitimidade de ser o que se é.

Mesa 7 | 02.12, sábado,
16h | A Baviera é aqui?
Com Betina Anton e Marcos Guterman mediação de José Orenstein Após o fim da Segunda Guerra Mundial, muitos oficiais nazistas fugiram da Alemanha e encontraram abrigo em países democráticos, onde puderam viver impunemente. A presença de oficiais de Hitler no Brasil, como a do médico Josef Mengele, tem sido cada vez mais estudada e novas descobertas vêm à tona. A mesa abordará algumas delas, refletindo também acerca da construção da memória sobre o nazismo no país.

Mesa 8 | 02.12, sábado,
18h | Pode alguém escapar sozinho?
Com Lewis R. Gordon mediação de Mylene Mizrahi Autor de Medo da consciência negra, o filósofo afro-judeu Lewis R. Gordon discutirá o antirracismo em suas articulações com outras questões de identidade e pertencimento, tais como gênero, classe social, nacionalidade, ideologia, política e religião. Esta mesa integra a série Judeidade e Negritude, e tem o apoio da Casa Sueli Carneiro e do Instituto Brasil-Israel.

Mesa 9 | 03.12, domingo,
11h | Quem é que pode deslembrar?
Com Bernardo Kucinski e Flavia Castro mediação de Paulo Werneck Sob a ditadura militar, há 44 anos, era promulgada a Lei da Anistia, que, ao mesmo tempo que assegurava o perdão aos opositores do regime autoritário, garantia que as ações dos militares responsáveis por prisões ilegais, torturas e assassinatos fossem esquecidas. Mas quem poderia realmente se esquecer daqueles crimes: os algozes ou suas vítimas e seus familiares? A quem é dado o privilégio do esquecimento? Quem pode lembrar e quem pode des-lembrar – este o assunto desta mesa, que discute ainda modos de narrar a memória da ditadura.

Mesa 10 | 03.12, domingo,
14h | Para onde foi a minha casa?
Com Lena Gorelik e Prisca Agustoni mediação de Sofia Mariutti O deslocamento territorial – forçado ou voluntário – enseja uma nova identidade cultural. O que e como se narra na língua do outro e que agora é também sua? A relação entre a experiência do exílio e as escolhas narrativas e poéticas de duas escritoras é o tema desta mesa, que explora ainda a questão do pertencimento, da língua e da identidade. Esta mesa tem o apoio do Instituto Goethe.

Mesa 11 | 03.12, domingo,
16h | Ainda dá para sonhar?
Com Christian Dunker e Iddo Gefen mediação de Ilana Feldman O sonho nasce nas profundezas do sono, mas a realidade social insiste em invadir esse espaço íntimo – às vezes na forma de pesadelo. O que sonhavam os judeus no período do Terceiro Reich? O que sonham israelenses e palestinos nas fronteiras entre Cisjordânia, Gaza e Israel? Pesquisadores descobriram que sonhos não apenas expressam uma determinada realidade, como também a subvertem, criando realidades alternativas. A mesa partirá dos sonhos de judeus durante o nazismo e de israelenses e palestinos que vivem próximos às zonas de conflito para discutir as complexidades da subjetividade humana e seu potencial para a imaginação de um futuro diferente. Esta mesa tem o apoio do Instituto Brasil-Israel.

Mesa 12 | 03.12, domingo,
18h | Se eu cantar, vocês escutam?
Com Assucena e Fortuna mediação de Marília Neustein “Preciso que me escutem!”, exclama Medeia, interpretada por Assucena, na abertura da peça “Mata teu pai, ópera-balada”. Mas como se fazer ouvir, quando ninguém parece interessado? Existe alternativa ao grito que, se alcança ouvidos alheios, também esgota a si mesmo? Esta mesa, que reunirá as cantoras Assucena e Fortuna, debaterá ancestralidade, gênero, raça e imigração a partir das possibilidades imaginativas da arte e, especialmente, da música.

Serviço:
FliMUJ 2023 - Festival Literário do Museu Judaico de São Paulo
De 30 de novembro a 3 de dezembro (quinta-feira a domingo)
Local: Museu Judaico de São Paulo
Endereço: Rua Martinho Prado, 128 - São Paulo, SP
Acesso para pessoas com mobilidade reduzida

[24/11/2023 11:00:00]