Chegada da Audible no Brasil é vista com misto de entusiasmo e cautela
PublishNews, Talita Facchini, 04/10/2023
PublishNews ouviu editores e especialistas para saber quais as expectativas sobre a chegada da empresa no país

A chegada da Audible no Brasil era vista com expectativa pelo mercado editorial desde 2016, quando iniciaram os rumores do seu aporte no país.

Esta semana, a subsidiária da Amazon e uma principais criadoras e distribuidoras de entretenimento em áudio, reuniu imprensa, autores, atores, narradores e – em um segundo evento – editores e parceiros para anunciar o início da sua operação no Brasil.

Mas o que muda no mercado de audiolivros com a chegada da Audible? Qual a expectativa das editoras e como tem sido o relacionamento com a empresa até agora? O PublishNews conversou com especialistas no setor e editores para saber o que eles esperam.

“A chegada da Audible no Brasil renova a esperança de uma aceleração do crescimento de mercado de audiolivros no Brasil”, acredita Carlo Carrenho, consultor editorial, fundador da Pop Stories e Audio Ambassador da Feira do Livro de Frankfurt. “Considerando que a Storytel basicamente colocou o Brasil em banho maria ao focar em outros dez países, a presença da empresa da Amazon no Brasil é mais do que fundamental para justificar investimentos em produção de audiolivros. Estou animado em ver mais uma loja chegando, fazendo companhia a Ubook e Tocalivros. Quanto mais lojas, maior o esforço e resultados no desenvolvimento de um público audioleitor no Brasil”.

O entusiasmo faz sentido. Com poucas empresas atuando na área – Ubook, Tocalivros, Storytel, Skeelo, Livroh – o segmento de audiolivros vem crescendo nos últimos anos, mas em um ritmo menor do que visto em outros países. Para Antonio Hermida, Head de Audio da Bookwire Brasil, a chegada da Audible equivale ao que foi o início das operações da Amazon com relação aos e-books. “No entanto, de maneira setorizada, é ainda mais representativo, uma vez que a Audible não é apenas uma loja ou plataforma, mas traz consigo uma parcela considerável de catálogo exclusivo. Além do fato de que, diferente do que aconteceu dez anos atrás com os e-books, estamos tratando de um segmento que segue, inegavelmente, em crescimento constante ao longo dos últimos anos”, analisa.

© Atlascompany on Freepik
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Mesmo com o entusiasmo e expectativas de crescimento, editores ainda adotam um o tom de cautela ao lembrar que há outras questões envolvidas no processo de popularização e crescimento, como a gama de consumidores. “Em outros países o formato já é uma realidade. Aqui, temos que colocar os pés no chão e reconhecer que o mercado ainda é pequeno. Será preciso formar uma gama maior de consumidores para este tipo de produto. Mas é promissor. Ter o conteúdo dos livros em mais um formato, dentro de uma plataforma gigante, como a Amazon, é o que temos de mais promissor para o formato até hoje”, avalia André Fonseca, Publisher da Citadel.

“Devemos ter os pés no chão e levar em conta que um mercado ou um segmento de mercado não se forma de um dia para o outro. No entanto, a Audible tem know-how, experiência com mercado distintos e a força que carrega a Amazon”, completa Hermida.

No que diz respeito às editoras independentes, Raquel Menezes, da Oficina Raquel, lembra que o mercado já viveu momentos anteriores que não resultaram em um rendimento tão grande. “Seria interessante ver projetos que descentralizassem essa fatia entre os best-sellers de grandes grupos editoriais”, comenta.

A experiência da gigante varejista é o que tem feito o mercado prestar tanta atenção na chegada da Audible. Os resultados devem aparecer, efetivamente, apenas no segundo trimestre de 2024. Enquanto isso, as editoras continuam se movimentando para incluir os audiolivros nos seus planos de negócios.

A Audible iniciou sua operação com uma oferta de 5 mil títulos em português de grandes editoras do país. Daqui para frente – assim como aconteceu com os e-books – as editoras devem ter em mente de que o audiolivro também é uma oportunidade de venda a mais. “Para os lançamentos daqui para frente, será importante se preocupar com a recorrência de novos livros no formato e a simultaneidade, ou seja, ter lançamentos ao mesmo tempo nos formatos já consolidados (físico e e-book) e no novo formato (áudio)”, lembra Fonseca.

Mesmo que de maneira tímida, muitas editoras já fazem o esforço para começar a produzir seus catálogos e distribuírem amplamente nas diversas lojas. “De nossa parte, através do programa WAY (We Audiobook You) tivemos recentemente um aumento bastante significativo de procura tanto para as modalidades de financiamento quando de gestão de produção”, compartilha Hermida. “Outro indicativo positivo é a possibilidade de surgimento de editoras como a Supersônica, que além de especializada em áudio, trabalha com catálogo sublicenciado de outras editoras, num modelo misto”.

Podcasts como influenciadores?

Sendo o Brasil um dos países que mais ouvem podcasts no mundo, pode esse formato influenciar o mercado de audiolivros? Hermida acredita que a “encontrabilidade" proporcionada por cruzamento de dados e algoritmos de plataformas como o Spotify pode ser um divisor de águas na rápida popularização do formato.

“O Spotify, por sinal, vem marcando presença em feiras e prometendo fomentar o mercado de audiolivros ‘da mesma forma que fez com o de podcasts’ só que mais rápido. Na Bookwire, temos constantemente trabalhado no desenvolvimento de playlists e outros testes explorando o cruzamento de dados para potencializar essas características e, o que posso dizer a esse respeito, é que a plataforma, nesse sentido, é muito promissora”, avalia o profissional.

[04/10/2023 11:00:00]