Três Perguntas do PN para Rafaella Machado, editora-executiva da Galera Record
PublishNews, Guilherme Sobota, 29/09/2023
Ao celebrar 15 anos do selo, editora aposta na capacidade de formação de leitores da literatura YA

Depois de um 2022 bombástico – em que as obras de Colleen Hoover lideraram as listas de mais vendidos com domínio impressionante – a Galera Record, selo YA do Grupo Editorial Record, celebra em 2023 seus 15 anos de existência. Para comemorar a data, o selo lançou a coletânea Finalmente 15, que fez sucesso no estande da editora na Bienal do Livro Rio. O livro reúne textos de alguns dos autores e autoras de maior destaque da literatura para jovens leitores no país, como Elayne Baeta, Stefano Volp, Clara Alves e Pedro Rhuas.

Sobre a data e os sucessos recentes da Galera Record, o PublishNews fez três perguntas para Rafaella Machado, editora-executiva do selo e também da Verus Editora, que aposta na capacidade de formação de leitores da literatura YA.

– Como se dá a relação entre os temas urgentes para a juventude (brasileira e global, mas principalmente brasileira) e a escolha dos livros a serem publicados pelo selo? Como o tempo de produção editorial afeta essa relação?

Trabalhar com literatura YA é respirar todo o tipo de tema relevante que atravessa o leitor jovem. Por isso, cada vez mais, estamos presentes nas redes, nas comunidades de fãs, ouvindo e trocando com nossos leitores. Eles nos indicam livros, pedem as temáticas que sentem falta nas estantes e nós corremos para editá-las o mais rápido possível. Existe mesmo uma demanda por rapidez, hoje, a mesma série que estreia nos EUA estreia na mesma data no Brasil. Com filmes e músicas não é diferente, e portanto, a Galera foi uma das primeiras editoras a fazer edições simultâneas, como o livro do BTS, ou os grandes hits de fantasia. Isso implica em uma capacidade de organização e gestão de projeto que precisamos aprimorar, mas me orgulho em dizer que por isso mesmo, quem faz YA está na frente, pois está lidando com temáticas e também formas de trabalho que chegam antes para o jovem mas que atravessarão posteriormente os outros segmentos. Estamos na vanguarda.

– Qual a importância dos aspectos multimídia do universo do livro (do BookTok ao campo de adaptações para o audiovisual, por exemplo, mas passando também pelo livro digital) no crescimento da Galera nesses 15 anos de existência?

Eu tenho 37 anos. Na minha época, a gente entrava na internet, mas hoje é impossível sair dela. Isso significa que toda a relação que os leitores têm com os livros se dá também online, através da construção de comunidades de fãs, trocas de memes literários, lives de leituras, indicações de booktokers, compartilhamento de fanarts e fanfics etc. Se antes ler era um momento solitário, a internet transformou o leitor em parte de algo maior, uma comunidade mesmo, que ganha voz, ganha corpo. A internet mudou a nossa forma de escolher novas leituras e também, escolher como queremos consumir essas leituras. Se queremos uma capa x ou y, se queremos um brinde de pré-venda x ou y. Foi através das redes sociais que as editoras deixaram de ser um filtro que definia o que ia ser publicado e passava a ser uma ponte, cuja função é aproximar o leitor daquela obra. Isso é revolucionário.

São duas perguntas que eu acredito que têm uma relação profunda: qual o papel da Galera hoje no Grupo Editorial Record e o que os leitores e leitoras podem esperar do futuro do selo?

A Galera é o selo jovem do Grupo Editorial Record. É onde as tendências muitas vezes nascem. É onde nós formamos os leitores que depois irão graduar para os diversos segmentos que abrangemos no Grupo. Portanto, levamos muito a sério a literatura jovem, que muitas vezes é vista como algo menor, como algo que não é literatura, somente pelo fato de fazer muito sucesso, atravessar multidões, de falar com muita gente, de encher Bienais. Mas a literatura jovem e a Galera Record para nós são o futuro do livro. São os temas e os autores que vão pautar a imaginação de uma nova geração leitora. É onde o gosto pela leitura começa. Meu avô, ao fundar a Editora Record, foi criticado por fazer livros para as massas. Já nessa época, o livro sempre foi um objeto excludente por natureza, um objeto erudito, que não era para ser compreendido e nem consumido por todos. 80 anos depois e a literatura jovem ocupa esse espaço de literatura comercial, do livro que entra casa de quem não lia. Esse tipo de livro, que quebra fronteiras, sempre esteve em nosso DNA como empresa e como família. Nossa missão é popularizar a leitura, tornar o objeto livro um objeto presente na casa de todo brasileiro, como um par de havaianas. Esse é o papel da Galera Record, ser o primeiro livro da estante de um novo leitor que nasce.

[29/09/2023 09:50:00]