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Conteúdos globais, IA e alguns desafios
PublishNews, André Palme, 27/09/2023
Em novo artigo, Palme explica que o acesso global não significa automaticamente consumo global e que é preciso mais do que isso para que um conteúdo faça sucesso em diversos lugares do mundo

Acordei hoje com a seguinte notícia do The Verge: "O Spotify vai clonar as vozes dos podcasters – e traduzir isso para outras línguas" (para quem quiser ler na íntegra, clique aqui).

Não vou aqui falar de todos os pontos da matéria, mas especialmente do título e de todos os desdobramentos que isso pode – ou não – ter para nossa indústria.

Desde os princípios do conteúdo digital, uma grande premissa foi: venda seus conteúdos para o mundo todo, com apenas um clique através da internet. Isso é verdade? Em termos. Vou elencar aqui:

  • Livros têm direitos territoriais, se você é o autor, sim, você pode colocar ele facilmente para vender no mundo todo… se você é editora já complica, porque provavelmente o autor ou o agente vai vender esse livro em outro território para outra editora;
  • Podcasts são menos territoriais – em direitos e em execução – porque não existe (até agora) tradução. Ao mesmo tempo são mais territoriais no assunto: não existe um podcast que no Brasil é feito por 2 pessoas e o mesmo podcast tem outros 2 hosts em outro país que só gravam o mesmo conteúdo em outro idioma;
  • Tanto para livros em texto quanto para conteúdos em áudio, a tradução é sempre importante, porque a língua local é e sempre vai ser o principal idioma de consumo do conteúdo. Pense que no Brasil a proficiência em Inglês é de 3% da população.
  • Para conteúdos em áudio, além da tradução do texto existe uma etapa adicional que é a regravação em idioma local, o que torna isso tudo mais demorado e mais caro (que já pode ser um pouco mais barato, considerando IA na equação).

Com esses pontos em mente, ainda vale destacar um outro: acesso global não significa automaticamente consumo global. Imagine que você tem os direitos de um conteúdo, disponibiliza na internet em todos os países com players presentes e prateleiras digitais disponíveis, mas em Português. O que vai acontecer? Nada! N-A-D-A. Ninguém no Canadá vai achar seu conteúdo em Português, seja em qual player for, só porque você selecionou o território como "mundo" para venda.

Aí você diz: ahhhhh mas e se eu traduzir para o Inglês (ou ainda no caso do Canadá adicionando o Francês)? Tá feito, publiquei no idioma local e resolvi esse problema!

A resposta é um "nada" com um pouco mais de chances de evoluir para um "quase nada". Por que? Porque de novo, acesso global não significa automaticamente consumo global. O que você está fazendo para que as pessoas descubram seu conteúdo naquele país? Que tipo de divulgação você faz? Que comunidade você já formou no Canadá, na França, na Finlândia ou na Argentina?

É preciso que o conteúdo seja divulgado, impulsionado, trabalhado, fomentado para que ele seja encontrado, comprado e consumido. Sem isso, publicar no mundo todo significa o mesmo que não publicar (tá bom, talvez exista uma chance remota de alguém se deparar com seu conteúdo em outro país, mas estatisticamente tendemos a zero).

A indústria editorial encontrou – ou foi encontrada ao longo do tempo – por essa estratégia de "direitos são territoriais e para publicar e vender em outros países você precisa de um parceiro local". Isso não é só uma questão de legislação. É uma ferramenta de estratégia: comercial, de marketing e editorial. Com isso, além de garantir o aspecto legal, você garante que existe alguém com força local para não só executar o ofício de traduzir aquele conteúdo para o idioma do país, mas também usar sua máquina de presença local para tornar esse conteúdo "descobrível" (desculpa a palavra inventada). Aí sim, você tem chances de que esse conteúdo tenha vida além-mar!

Com esses pontos em mente, podemos começar a pensar no que esse título da matéria significa. Porque o que ele vai fazer é começar a trazer para o podcast, que por ser uma mídia mais recente e pela característica do conteúdo – o autor é o dono da voz e também a estrela do conteúdo na maioria dos casos – tem menos histórico de traduções e de intercâmbio entre países, seja de procura, consumo e vendas. Claro, existem casos de podcasts que já viajaram, Dr. Morte, da Wondery, é um deles; Paciente 63, do Spotify, outro. Mas aí estamos falando de um conteúdo que se assemelha mais a um livro (em mecânica de narrativa e direitos) e que tem estratégias locais de divulgação, além de ser menos dependente das vozes originais.

É claro que recursos de IA podem ser interessantes como uma ferramenta de aceleração de tradução de conteúdos, sejam texto ou áudio, mas ainda não são perfeitos (digo pelos meus próprios artigos que traduzo mensalmente). Mas sim, na minha opinião podem acelerar essa parte do processo, mas não resolvem as outras.

Vai ser preciso um mesmo trabalho de divulgação, seja de um podcast, de um livro impresso, um e-book ou um audiolivro para que as pessoas naquele país específico descubram aquele conteúdo. Essa é a diferença entre a ferramenta e o que fazemos dela (talvez um alento para nós humanos em meio a revolução e evolução da IA).

Tudo isso para concluir com a ideia de que, sim, a internet nos permite ser globais, mas não nos faz globais automaticamente… volto mais uma vez com a frase, acesso global não significa automaticamente consumo global. Ou seja, sempre pense que as ferramentas estão aí cada vez mais para nos ajudar, a traduzir, produzir, distribuir… mas é preciso mais que isso para que um conteúdo brasileiro seja sucesso fora daqui… e esse mais não é só o idioma!

Palme é um executivo da cultura e do entretenimento com +12 anos de experiência na liderança de projetos que envolvem conteúdos multi formatos, tecnologia e streaming; além de empreendedor, professor, mentor e colunista. Nos últimos anos liderou projetos que somam mais de 10 mil horas de conteúdo em áudio, entre audiobooks, podcasts e audioseries.

Atualmente é CMCO (Chief Marketing & Content Officer) e um dos sócios do Skeelo.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews

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