Mas a pergunta é: o livro é mesmo caro no Brasil?
A resposta mais simples é: depende.
Uma avaliação sobre os números das pesquisas anuais sobre o mercado editorial aponta que o país tem uma restrição estrutural de níveis de leitura, o que dificulta o crescimento do setor e inclusive o faz diminuir – a queda no faturamento em números reais desde 2006 é de 40%, segundo a série histórica da Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro.
Em relação ao preço médio do livro nas vendas, a série histórica também aponta queda real – ou seja, mesmo com os preços crescendo de maneira nominal desde 2011, eles não recuperaram a inflação do período.
Teoricamente, o livro está “mais barato” hoje do que em 2011.
O que compõe o preço do livro?
- Impressão/gráfica/papel;
- Frete;
- Editorial;
- Entre outras variáveis.
O preço de uma obra depende de diversos fatores, como o preço do papel, a tiragem inicial e a necessidade do trabalho editorial envolvido. Algumas das funções editoriais envolvidas na produção de um livro são: tradução, preparação de originais (conhecida também como copidesque), diagramação, revisões, coordenação editorial, textos extras, produção gráfica, capa e projeto gráfico, ilustrações. Todos esses trabalhos precisam ser remunerados.
Também é preciso lembrar que as editoras vendem os livros para as livrarias com um desconto de cerca de 50% do valor de capa total. Ou seja, se um livro custa R$ 50 na livraria, a editora levou R$ 25.
Especialista na economia do livro no país e economista responsável pelas pesquisas do setor editorial pela Nielsen, Mariana Bueno vem compartilhando a ideia de que o setor no Brasil enfrenta dificuldades estruturais. “O problema não é exatamente o livro, preço é uma variável relativa, a questão é a renda. O livro não é caro para as classes A e B, que costumam gastar mais com outros bens culturais, como shows, cinema etc. Já para as classes C e D C a vida é cara, é difícil ir a show, ao cinema, comprar livro. Quando faz, faz apertado. A gente pode pensar em subsídio? Pode. Atualmente, o setor está brigando para manter o que já tem de isenção. Vale destacar que em muitos países a indústria do livro tem algum tipo de subsídio, o efeito multiplicador do livro é significativo, o subsídio é importante para sobrevivência dessa indústria e para assegurar que não haja um aumento no preço. Outra maneira de reduzir o preço do livro é um aumento no número de exemplares vendidos, mas para isso ser efetivo é preciso que exista política pública voltada para a formação e ampliação do número de leitores no país", explica.
Nesse sentido, os níveis de letramento e capacidade de leitura, medidos por pesquisas como Retratos da Leitura e o Inaf (Indicador de Alfabetismo Funcional), apontam restrições importantes para o tamanho do setor editorial no país.
O PublishNews apurou ainda que o preço do livro vem sendo pressionado por dois fatores principais nos últimos anos: o crescente preço da matéria-prima (papel) e a concentração do varejo, que consegue exigir descontos e condições menos favoráveis para as editoras.
Outro aspecto que entra no fluxo contábil das editoras – mas que não aparece em planilhas de cálculo livro a livro, por exemplo – é o financiamento a médio e longo prazo. O que uma editora imprime hoje, ela começa a receber daqui a 60 ou 90 dias, por conta dos ciclos de venda longos (as livrarias costumam levar este tempo para fazer o pagamento dos pedidos). Nesse meio tempo, é preciso continuar produzindo, com recursos próprios.
Todos esses fatores, apenas alguns exemplos, contribuem para a precificação do livro e a composição de um cenário. O Painel do Varejo dos Livros no Brasil, divulgado também pelo SNEL e pela Nielsen, aponta que entre maio e junho de 2023 o preço médio do livro no país foi de R$ 43,18. Com tudo isso em conta, é possível voltar à pergunta inicial. O livro é mesmo caro no Brasil?
Repercussão
Nos próprios posts de Felipe Neto, editores e profissionais do mercado responderam. Em um deles, onde há uma sugestão de que os livros digitais seriam “quase de graça para produzir”, o perfil da Editora Patuá respondeu: “Felipe, falta um pouco de informação. O livro digital, como muito bem pontuado por muitas pessoas aqui, exige os mesmos trabalhos que o livro impresso, exceto a impressão, que não representa o maior custo de um livro (e com a impressão pod só existe quando o livro é impresso)”.
Algumas figuras políticas – como o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) e o senador Fabiano Contarato (PT-ES) – também responderam e se colocaram à disposição para conversar sobre o tema.
Veja os tweets que iniciaram a discussão:
Tá na hora de falarmos sobre preço de livro.
Precisamos de uma população leitora, mas tá cada dia mais difícil.
Livrarias fechando, preços disparando...
Como esperar q o povo leia desse jeito?
3 livros por 170 reais, 13% do salário mínimo. TRÊS!
Toda vez q eu faço… pic.twitter.com/NaPicQCIKO
— Felipe Neto (@felipeneto) July 5, 2023
Vou infernizar todo político q conheço pra tratar do tema "preços de livros".
A situação está impraticável e é possível melhorar. Há incentivos possíveis, há regulamentação q pode tornar a literatura mais acessível aos mais pobres.
Não podemos deixar livro ser artigo de elite.
— Felipe Neto (@felipeneto) July 5, 2023
Recebi mta gente falando que a leitura digital é a solução para livros ficarem mais baratos.
1- Isso não é verdade. As livrarias e editoras estão METENDO A FACA nos livros digitais, q pra eles é quase de graça de produzir.
2- Mta gente não consegue ler digital. Eu sou um. pic.twitter.com/zMbVJyUNfh
— Felipe Neto (@felipeneto) July 5, 2023