Livros religiosos tiveram resultados positivos na Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro 2022
PublishNews, Talita Facchini, 06/06/2023
Mesmo com os melhores resultados apresentados entre todos os subsetores, editoras ainda demonstram preocupação com os canais de distribuição e aumento do valor na produção das obras

Diferente dos números gerais da Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro (ano base 2022), o subsetor de religiosos foi o único que apresentou resultados positivos. Em termos de faturamento o crescimento foi de 6%, com mais 48,6 milhões de exemplares produzidos, e a variação positiva no preço do livro foi de 7,4% – um resultado acima da inflação.

Se o destaque da última edição da pesquisa apresentada em maio foi a consolidação das livrarias exclusivamente virtuais como principal canal de distribuição, quando se analisa o subsetor de religiosos a história é outra. As livrarias físicas ainda têm um grau de importância muito alto nesse segmento. “Existem muitas livrarias das próprias editoras religiosas que vendem apenas livros religiosos e tantas outras que estão localizadas em espaços religiosos. É um boom de livrarias maior do que a maioria das pessoas têm no imaginário”, explicou a economista Mariana Bueno, da Nielsen, na apresentação do estudo.

Igrejas e Templos religiosos também aumentaram sua importância quando o assunto é distribuição, passando de 16,3% em 2021 para 18,7% do total de vendas em 2022. “Isso é um reflexo da realidade das editoras que atuam no segmento religioso. Livros fazem parte da cultura basilar das religiões, sempre foram a principal ferramenta de evangelização e continuam sendo até hoje, mesmo com o advento da tecnologia. O mercado de produção de bíblias, por exemplo, tem números espantosos em todo o mundo”, comenta Renata Sturm, editora executiva da Sankto Editorial.

Renato Fleischner, responsável pelo editorial da editora Mundo Cristão, ressalta ainda que a dinâmica religiosa exige acesso permanente ao conteúdo impresso. “Seja na forma de Bíblias, seja na de livros do segmento, e isso ajuda a minimizar, em parte, as dificuldades econômicas apontadas”, analisa.

No entanto, Fleischner chama atenção para outro fator quando se analisa o setor de livros religiosos, no que diz respeito ao público leitor. “As publicações religiosas atendem a uma camada da população majoritariamente pertencente às classes B, C e D. A perda do poder de compra e o alto nível de endividamento desses leitores comprometeram a performance de vendas do segmento. Como agravante, tivemos ainda o aumento no custo do papel e do frete, que, embora não repassado integralmente aos preços, adiciona mais um desafio à manutenção do hábito de leitura”, ressalta.

Mesmo com números positivos – se comparados com os outros subsetores analisados pela PeV –, Renato acredita que a tendência que se desenha a partir do estudo é preocupante. “Há um claro enfraquecimento na distribuição de livros e esse fenômeno é mundial. Com isso, por meio dos números que se apresentam, existe pouco espaço para erros”, acredita.

Por outro lado, Fleischner lembra que a retomada das atividades em templos e em eventos anuais permite vislumbrar boas perspectivas para a venda direta a igrejas e organizações. “Além disso, se o custo de produção se mantiver em um patamar razoável e forem encontradas maneiras de diminuir o endividamento da população, o segmento religioso poderá retomar sua trajetória de crescimento”, diz ele, se referindo aos números pré-pandemia.

"O que estamos vendo nos últimos anos no mercado do livro, assim como em outros setores da sociedade, é que essa venda está sendo cada vez mais articulada por players estruturados e não restrito a revendas mais informais ou amadoras. O que está aumentando é a visibilidade dessa venda, não necessariamente a venda em si, principalmente se comparado a outros momentos históricos da indústria do livro religioso no Brasil", analisa Samuel Coto, diretor editorial do Grupo HarperCollins Brasil e responsável pela Thomas Nelson.

Segundo Renan Menezes, da Editora Vida, outro ponto positivo para o setor é a diversidade de temas e abordagens que vêm sendo publicados. “O crescimento contínuo da demanda por livros religiosos indica que as pessoas estão buscando cada vez mais materiais que os auxiliem em sua fé e crescimento espiritual, sendo assim uma tendência de mercado que tem crescido exponencialmente desde a pandemia. Essa diversidade sugere uma tendência de atender às diferentes necessidades e interesses dos leitores religiosos, oferecendo opções que se adaptam a diferentes estágios de fé e interesses individuais”, conclui.

Na Thomas Nelson, Coto compartilha que os números apontam também para uma consolidação dos canais de vendas on-line como principais vendedores de livros religiosos no Brasil. "Claro, ainda temos muitas livrarias de menor porte que vendem exclusivamente livros e produtos religiosos dentro de igrejas e em outros locais. Mas assim como as grandes redes de livrarias, elas estão vendo seus negócios encolherem frente aos preços agressivos que vemos na internet", analisa. "Não entender que a venda do livro religioso migrou pra internet assim como todos os outros tipos de livro é não entender que o leitor religioso é uma forte maioria dos consumidores de livros no Brasil, assim como o religioso de forma geral é uma maioria da população do país", finaliza.

Números do subsetor de livros religiosos na Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro (ano base 2022):

Produção

  • Títulos: 5.282
  • Exemplares produzidos (em milhares): 48.675

Vendas

  • Exemplares vendidos (em milhares): 53.942
  • Faturamento total (em R$ milhões): 650

Para fazer o download da apresentação das pesquisas clique aqui.

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[06/06/2023 08:00:00]