Voltei há poucos dias ao Brasil, após participar pela segunda vez da Feira do Livro de Londres. Foi minha quinta feira internacional, começando por Sharjah e passando por Frankfurt, Buenos Aires e Guadalajara, além de São Paulo, claro. Em 20 dias, embarco para a feira de Abu Dhabi, para a qual estou bastante ansioso, tendo em vista que fui convidado oficialmente pela organização. Este ano ainda viajo para Sharjah e para o Cairo. Para o ano seguinte, já estão previstas viagens para a Noruega e Árabia Saudita, novamente como convidado, e para Frankfurt, com meus sócios na Rua do Sabão. Esta última será uma oportunidade para celebrarmos os cinco anos da editora, que serão completados em 2024.
No avião de volta para casa, com escala em Madrid, pensava no que escrever para os leitores do PublishNews. Percebi que escrevi muitas colunas e diários contando como os planos deram errado. Fundamentalmente, acredito muito na improvisação. Gosto de estar pronto para o imprevisível. Disponho minhas reuniões justamente assim, deixando um largo espaço para o não planejado, e é justamente por isso que com frequência me vejo em algum tipo de confusão. Contudo, o leitor pode acreditar que as feiras são uma espécie de festa, e que os editores vão lá para confraternizar, jantar e conversar. É preciso falar de negócios e explicar a importância, para um editor, de participar desses eventos. Garanto que pode ser um ponto de virada para muitas casas editoriais, e recomendo a participação.
Para começar, é um privilégio para os brasileiros contar com a Apex e o Brazilian Publishers (BP). Ao chegar nas feiras, encontramos um estande bem construído, organizado, com duas recepcionistas e café expresso: um ótimo cartão de visitas. A editora, por ser associada, tem uma prateleira para exposição dos livros. É um bom espaço para se fazer reuniões e uma forma de explicar para os parceiros no exterior que, no Brasil, estamos falando de um mercado de 400 milhões de livros. Há sempre o argumento que na Noruega se lêem tantos livros por habitante, que Luxemburgo tem tantos livros lidos por criança em fase escolar. Não se enganem: em termos de mercado, o Brasil é maior do que estes países. O baixo número de livros por habitante esconde a nossa imensa massa de habitantes, a sexta população mundial, e os bons programas públicos de aquisição de livros (que poderiam ser muito melhores, claro). Ter um estande à disposição, bem montado, nos coloca na mesma posição que países como a França e a Alemanha.
Pode ser uma surpresa para alguns, mas o próprio Reino Unido, que sediou a feira, ou a China e os EUA, não tinham nada semelhante. Foi graças ao estande brasileiro que conheci dois importadores, que vendem livros em bibliotecas e programas públicos de toda a Europa. Eles foram lá em busca de fornecedores de literatura contemporânea, em português. Acertamos na própria feira duas primeiras vendas, com pagamento antecipado. Foi também no estande que fiz a ponte entre um editor argentino e uma gráfica brasileira.
A feira é um lugar importante para se estabelecer parcerias, conhecer novos editores. Neste ano, decidi não agendar muitas reuniões, para ter tempo livre. Tinha dez encontros agendados, bastante espaçados. Apenas dez. Ano passado, cumpri uma agenda de 25 reuniões. No restante do tempo, andei por cada um dos corredores, observando cada expositor com calma para entender qual era o negócio e o que ele poderia agregar à editora. Uma parte considerável é de fornecedores de serviço de print-on-demand em diversas partes do mundo. Parece realmente uma tendência. A editora disponibiliza os arquivos para uma outra empresa, que fornece para livrarias e marketplaces em troca de uma comissão. Representantes de gráficas chinesas estavam em peso na feira, prontos para discutir preços, qualidade de impressão e enviar amostras para qualquer parte do mundo. E os estandes institucionais foram os que mais aproveitei: conheci editores da Polônia e Irlanda, preparei o terreno para trazer autores destes países para o Brasil, valendo-me de generosos programas de subsídios. O melhor foram os encontros com os representantes da Árabia Saudita, que conheci no primeiro dia da feira e no terceiro firmei uma parceria que aumentará em 15% o faturamento da editora.
Como sempre, procurei espaços para vender literatura nacional. No Literary Translation Centre, participei de alguns coquetéis que procuravam reunir editores, autores e tradutores. Uma iniciativa é a gravação de tradutores lendo e apresentado novos autores, o Translators Aloud, com encontros em pubs ingleses e gravações disponíveis no YouTube. Coloquei os autores da Rua do Sabão nesta onda. Também me encontrei com a Nicole Witt, da agência Mertin-Litag, para apresentar nossos lançamentos e conhecer os da agência, com o Samuel McDowell, da Charco Press, e o Stefan Tobler, da And Other Stories. Sigo trocando e-mails com todos, para colocar os autores brasileiros no mercado internacional. A melhor parte é encontrar esses editores muitas vezes, em diferentes feiras, e a relação comercial evoluir para uma relação de amizade. No fim, este é o caminho para exportar literatura, a confiança mútua.
Quando finalmente voltei ao trabalho na editora, relembrei cada uma das reuniões, observei os cartões de visitas e enviei mais de 50 e-mails, dando sequência ao que foi acordado. A maior parte dos parceiros vou encontrar novamente em Frankfurt, em outubro, e até lá vamos trabalhar por vídeo conferência e trocar muitas mensagens para que os planos avancem. Alguns, claro, não vão responder. Com outros, fecharei importantes negócios. E seguirei trabalhando com o objetivo de, em 2024, abrir uma filial da Rua do Sabão para o mercado anglófono. A Feira do Livro foi também uma oportunidade para conhecer e selecionar alguns potenciais executivos para tocarem o projeto.
Conheço bem as dificuldades do mercado editorial brasileiro e concordo com tudo que meus colegas dizem. Por isso, afirmo que a internacionalização das editoras nacionais é uma ótima opção. A delegação brasileira em Londres, este ano, contava com sete editoras. Espero pelo dia em que serão 70.
Leonardo Garzaro é escritor, editor e jornalista. Paulista, nascido em 1983, fundou diferentes editoras independentes e editou dezenas de livros. Seu primeiro romance, o infantojuvenil O sorriso do leão, teve os direitos vendidos para editoras de seis países, com traduções para o inglês, espanhol, turco e árabe. Alguns de seus contos foram publicados na premiada revista norte-americana Literal Latin Voices. É consultor de literatura brasileira das editoras Interzona, da Argentina; Arlequin Ediciones, do México; e Corredor Sur, do Equador. Lançou em 2022 O guardião de nomes, que foi elencado como um dos melhores romances de 2022 pelo Suplemento Literário Pernambuco.
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