Editor francês é detido a caminho da Feira de Londres acusado de terrorismo
PublishNews, Redação, 19/04/2023
Ernest Moret, da editora francesa La Fabrique, participou de protestos em seu país e foi libertado após a detenção, mas ação desperta preocupação do mercado editorial, já que seu celular e computador foram apreendidos

St. Pancras Station
St. Pancras Station
O editor francês Ernest Moret, gerente de direitos estrangeiros na editora francesa La Fabrique, foi preso durante seu trajeto da França em direção ao Reino Unido para participar da Feira de Londres. O profissional de 28 anos tinha uma acusação de terrorismo – por participar de protestos na França – quando chegou na estação de trem St. Pancras, em Londres, na noite da última segunda-feira (17). Ele foi solto no dia seguinte, sem queixas formais, mas seu celular e computador foram apreendidos pela polícia.

O ato causou preocupação na comunidade editorial. Além do choque inicial da notícia, a prisão foi vista como uma possível manobra da polícia francesa – que teria contado com a ajuda dos britânicos – para obter a agenda e contatos do editor, principalmente conectados à literatura de esquerda, já que a casa editorial é conhecida por ser engajada em causas sociais. Ernest Moret apoiava as manifestações e greves que ocorrem no país desde janeiro.

A França vem passando por problemas internos graves desde que Emmanuel Macron, atual presidente, anunciou uma reforma do sistema previdenciário, que aumentaria a idade de aposentadoria dos cidadãos de 62 para 64 anos. As greves e protestos têm se intensificado desde o dia 16 de março, quando o líder francês anunciou que a medida seria imposta sem passar por votação do Parlamento.

Segundo o jornal britânico The Guardian, o interrogatório de Moret durou seis horas, e após esse período ele foi levado a prisão preventiva sob a acusação de “obstrução à justiça”, por ter se negado a entregar as senhas dos seus aparelhos celulares.

Stella Magliani-Belkacem, outra representante da La Fabrique, estava acompanhando o colega e deu uma declaração sobre o acontecido. “Quando estávamos na plataforma, duas pessoas, uma mulher e um homem, nos disseram que eram policiais antiterroristas. Eles mostraram um papel chamado seção 7 da Lei do Terrorismo de 2000 e disseram que tinham o direito de questioná-lo sobre as manifestações na França. Ainda estou tremendo. Estamos em choque com o que aconteceu”, afirmou.

O advogado britânico de Moret, Richard Parry, afirmou ao Le Monde que "isso levanta uma questão sobre o papel do Estado francês”. Além disso, a polícia forneceu poucos detalhes sobre a prisão de Moret. "Eles mencionaram uma manifestação onde Ernest teria estado ou estaria em breve, não estava claro", disse Magliani-Belkacem.

Moret tinha mais de 30 reuniões agendadas na Feira do Livro de Londres, segundo a editora. Protestos foram marcados nos arredores do evento por conta do ocorrido.

[19/04/2023 10:00:00]