O ato causou preocupação na comunidade editorial. Além do choque inicial da notícia, a prisão foi vista como uma possível manobra da polícia francesa – que teria contado com a ajuda dos britânicos – para obter a agenda e contatos do editor, principalmente conectados à literatura de esquerda, já que a casa editorial é conhecida por ser engajada em causas sociais. Ernest Moret apoiava as manifestações e greves que ocorrem no país desde janeiro.
A França vem passando por problemas internos graves desde que Emmanuel Macron, atual presidente, anunciou uma reforma do sistema previdenciário, que aumentaria a idade de aposentadoria dos cidadãos de 62 para 64 anos. As greves e protestos têm se intensificado desde o dia 16 de março, quando o líder francês anunciou que a medida seria imposta sem passar por votação do Parlamento.
Segundo o jornal britânico The Guardian, o interrogatório de Moret durou seis horas, e após esse período ele foi levado a prisão preventiva sob a acusação de “obstrução à justiça”, por ter se negado a entregar as senhas dos seus aparelhos celulares.
Stella Magliani-Belkacem, outra representante da La Fabrique, estava acompanhando o colega e deu uma declaração sobre o acontecido. “Quando estávamos na plataforma, duas pessoas, uma mulher e um homem, nos disseram que eram policiais antiterroristas. Eles mostraram um papel chamado seção 7 da Lei do Terrorismo de 2000 e disseram que tinham o direito de questioná-lo sobre as manifestações na França. Ainda estou tremendo. Estamos em choque com o que aconteceu”, afirmou.
O advogado britânico de Moret, Richard Parry, afirmou ao Le Monde que "isso levanta uma questão sobre o papel do Estado francês”. Além disso, a polícia forneceu poucos detalhes sobre a prisão de Moret. "Eles mencionaram uma manifestação onde Ernest teria estado ou estaria em breve, não estava claro", disse Magliani-Belkacem.
Moret tinha mais de 30 reuniões agendadas na Feira do Livro de Londres, segundo a editora. Protestos foram marcados nos arredores do evento por conta do ocorrido.