Rio2C sugere ponte entre o editorial e o audiovisual com sessões de pitching
PublishNews, Guilherme Sobota, 14/04/2023
Formato em que autores apresentam suas obras para editoras e produtoras ao mesmo tempo é inédito no Brasil e tem potencial para bons negócios

Autores e autoras puderam apresentar suas obras a uma banca variada | © Rio2C
Autores e autoras puderam apresentar suas obras a uma banca variada | © Rio2C
O Rio2C 2023 – evento de criatividade e inovação que ocorre na Cidade das Artes até o domingo (16) – realizou na quinta (13) as suas últimas sessões de pitchings editoriais: o evento sugere ao mercado editorial brasileiro um formato praticamente inédito por aqui, em que os próprios autores, pré-selecionados por uma comissão de curadoria especializada, apresentam seus projetos a produtoras audiovisuais e também a editoras de livros.

Ontem, mais 10 autores apresentaram suas obras em duas sessões realizadas ao longo do dia – e com a presença de diversos representantes de editoras (Record, Rocco, HarperCollins, Globo e outras casas tinham profissionais na banca do pitching). Além de produtores e scouts de produtoras audiovisuais, mais habituados ao formato.

Os autores tinham seis minutos para apresentar um trabalho na sala Change Makers, espaço mais modesto do Rio2C em comparação a outras salas, mas que esteve lotado em todas as sessões. Havia um telão para compartilhar uma apresentação visual, parcela importante da comunicação ali, mas o destaque mesmo acabava com quem demonstrava desenvoltura no palco, como sublinha a editora executiva da Galera Record, e agora também da Verus, Rafaella Machado.

“Ver um autor falando, especialmente no segmento jovem, é muito importante”, explicou ao PublishNews após uma das sessões. “O autor vai ter que falar em eventos, dar muitas entrevistas, então em um evento como esse a gente vê como o autor se portaria em diversas possibilidades de divulgação, por exemplo”.

Ela conta que foi sua primeira experiência numa banca de pitching como essa. “Achei uma dinâmica muito legal, com uma possibilidade interessante de conhecer as histórias do começo ao fim, e é importante também para a editora analisar o potencial de adaptação para outras mídias”, aponta.

Após os seis minutos de apresentação, havia uma rodada de perguntas da banca – como citado, dezenas de profissionais de diversas empresas dos dois setores, editorial e audiovisual, convidados pelo Rio2C. As principais dúvidas e questões levantadas diziam respeito a direitos autorais e público alvo das obras, necessidade dos autores delinearem melhor o conflito das tramas, dúvidas sobre formatos que os autores pretendiam trabalhar no audiovisual – ou mesmo sugestões nesse sentido.

Entre as obras apresentadas na quinta-feira, destacaram-se temas como amor LGBTQIA+, terror, fantasia, comédias românticas e também histórias com discussões densas sobre racismo, preconceito religioso e relacionamento com pessoas soropositivas.

“O público editorial realmente não está acostumado com pitchings”, explica Eduardo Brand, fundador da Gancho Curadoria (com sua sócia Mariana Rolier), curadoria voltada justamente para trabalhar a ponte entre projetos editoriais e audiovisuais – visto que os dois mercados, na sua avaliação, ficavam e ficam isolados um do outro. “A ideia é furar as bolhas. É muito raro um evento como esse, que vai unir pessoal do audiovisual e do editorial e botar todo mundo para conversar”, afirma.

O saldo acaba sendo positivo – até porque as editoras consultadas pelo PN no evento afirmaram ser mais do que possível que novos negócios sejam estabelecidos a partir das apresentações. Após as sessões, que duravam cerca de uma hora no total, um lounge ao lado da sala servia de espaço para novas conversas.

“É sempre interessante ir atrás de novas histórias, independente do formato”, explica João Gabriel Caffarelli, roteirista e supervisor criativo da O2 Filmes. “O audiovisual está acostumado com esse formato, mas com livros geralmente é um caminho diferente, envolve negociações direto com editoras ou agentes”, afirma.

Evento sugere novo formato para o mercado editorial | © Rio2C
Evento sugere novo formato para o mercado editorial | © Rio2C
Do ponto de vista dos autores, as expectativas variam, mas as possibilidades de apresentar suas obras para diferentes cabeças do mercado era algo que parecia impressionar a todos. No caso de Natalie Gerhardt – escritora e tradutora com 25 anos de experiência no mercado editorial – foi uma chance de apresentar sua própria ficção. “Eu trouxe o livro na esperança de encontrar uma casa editorial para ele”, explicou. “Sei que temos um mercado editorial independente muito forte, mas como eu tenho essa experiência de tradução, queria que o livro fosse para uma casa tradicional. É também uma oportunidade de extrapolar o editorial e chegar ao audiovisual. Sem esse espaço aqui, eu não teria como apresentar esse projeto de uma maneira tão ampla”, comenta. Ela também nunca havia participado de um pitching como este.

Um dos membros da banca de avaliação era o CMCO do Skeelo e colunista do PublishNews, André Palme. Ele lembrou que em alguns anos, durante a Flip, a produtora ex-gerente comercial do PN, Cassia Carrenho, e a Amazon, organizaram sessões de pitching com autores autopublicados no KDP, com a presença de editoras e agentes literários. As iniciativas, portanto, se somam na tentativa de oferecer ao mercado editorial espaços de trocas e networking.

A editora e gestora de projetos Marry Estery, fundadora da Conselhos Literários (projeto de consultoria para autores), inscreveu 19 obras no pitching e dois de seus autores foram selecionados para as apresentações. No Rio2C, ela conta também ter feito contato com outras e outros autores. A proposta da Conselhos Literários é justamente trabalhar com os autores para chegar ao mercado editorial (e também audiovisual) já mais preparados. “Para mim, vir aqui é também uma chance de conhecer mais obras, pegar contatos, ver se tem algo interessante que eu mesma possa abraçar”, afirma. “Há projetos que precisam de uma refinada antes de apresentações”.

Evento buscava integração ao editorial

Evento tem forte presença do mercado audiovisual | © Rio2C
Evento tem forte presença do mercado audiovisual | © Rio2C
De acordo com o fundador e CEO do Rio2C, Rafael Lazarini, o evento tinha um desejo de aproximação com o mercado editorial desde a sua concepção. Ele conta que realizou uma ação experimental com a HarperCollins, em 2019, que serviu para abrir caminhos para conversas mais aprofundadas com o setor. “Iniciamos então uma série de conversas junto ao mercado para entender como trazer de forma relevante o setor para dentro do Rio2C e realizar essa conexão dos livros com o audiovisual”, diz.

“Em 2022, após o intervalo forçado pela pandemia, nosso time de mercado retomou as conversas com agentes estratégicos como a CBL e o própria PublishNews, que nos ajudou a entender melhor a dinâmica e as necessidades desse segmento. Desenvolvemos então dinâmicas que pudessem conectar e atender os dois lados. De um lado o mercado editorial apresenta suas propriedades intelectuais para produtoras e players em busca de novas histórias, e de outros novos criadores de conteúdo, escritores e roteiristas têm a oportunidade de apresentar suas obras para as editoras”, resume.

Ele afirma que ele e sua equipe notaram uma “ótima” receptividade do projeto nos últimos dias. “Estamos super empolgados e já com planos para fazer melhor e maior na próxima edição".

*O jornalista viajou a convite do Rio2C

[14/04/2023 08:40:00]