Serão os livros escritos por inteligência artificial o futuro do mercado editorial?
PublishNews, Betinho Saad*, 05/04/2023
A inteligência artificial pode e deve ser usada para aprimorar o mercado editorial em várias tarefas, como pesquisa, esboço e até edição

A literatura mudou muito ao longo dos anos em todos os aspectos. Com uma variada gama de autores e estilos literários, dos grandes livros aos e-books, a literatura evolui à medida que a tecnologia continua a se desenvolver. Nos últimos anos, houve um aumento significativo no uso da inteligência artificial (IA) para gerar conteúdo escrito, incluindo livros. Os algoritmos sofisticados e as técnicas de processamento de linguagem natural das IAs são capazes de analisar grandes quantidades de dados, gerar novas ideias e produzir conteúdo escrito com grande qualidade.

Apesar de toda essa facilidade e possibilidade que a IA tem de revolucionar o mercado editorial, ao mesmo tempo, também cria uma preocupação do tamanho do seu impacto e na iminente substituição dos autores humanos. Será possível que as máquinas substituam a criatividade e a autenticidade que nós, seres vivos, temos?

Recentemente um livro escrito 100% por inteligência artificial gerou um burburinho nas redes e no mercado. O americano Ammar Reshi escreveu seu próprio livro infantil em apenas 72 horas, usando ferramentas como o ChatGPT para texto e o Midjourney para as imagens. Como esperado, ele foi bombardeado de críticas após a publicação do livro, que gerou debates ligados aos direitos autorais e liberdade de expressão, já que a IA utiliza informações e exemplos já existentes na rede para gerar um novo conteúdo. Ou seja, a criação não é algo totalmente original.

A IA pode até escrever capítulos mais rápidos do que um humano, mas nada substitui a emoção que um autor coloca em suas palavras. A escrita com IA não tem a profundidade emocional e as perspectivas únicas que vêm da experiência humana. É sempre bom lembrar que a escrita envolve mais do que apenas colocar palavras em uma página, também envolve as nuances da experiência humana, a capacidade de se conectar com os leitores em um nível pessoal e a paixão e dedicação que levam os escritores a criar suas histórias.

No entanto, essa tecnologia tem o potencial de revolucionar a indústria editorial, permitindo que autores escrevam mais livros, mais rápido e de forma mais eficiente do que nunca. Então como usar a tecnologia a seu favor nesses casos? A inteligência artificial pode e deve ser usada para aprimorar o mercado editorial em várias tarefas, como pesquisa, esboço e até edição. Está escrevendo um mistério e não tem certeza de que essa trama é boa o suficiente? Peça para a IA avaliá-la. Ou então está em dúvida de como pode melhorar a explicação de uma teoria? Ela poderá te ajudar a encontrar as palavras certas. E, é claro, revisões gramaticais são sempre bem-vindas quando falamos de livros.

A IA vai muito além da escrita automática e seu uso é bem-vindo. Crie sinopses, títulos, nomes para seus personagens e descrições detalhadas de pessoas e lugares onde sua história se passa. Mas não deixe que isso tire a sua capacidade de ser criativo e seu senso crítico – a obra é sua! Os seres humanos são ótimos em transmitir sua compreensão geral do mundo e seus sentimentos por meio das palavras, coisa que a linguagem natural das máquinas ainda não é capaz.

Outro uso positivo das IAs é na criação de capas e imagens para as obras, já que muitas pessoas têm dificuldade em criar suas próprias artes. A ferramenta é capaz de oferecer sugestões de imagens e cores para a identidade visual, além de dicas de como organizar melhor suas ideias e colocar sua obra no mundo.

Um ponto importante a ser levantado é que não tem volta: a tecnologia veio para ficar e, com isso, o mercado editorial passou por uma grande disrupção. Hoje em dia você não precisa mais procurar uma editora e torcer para ela gostar da sua ideia e topar publicar o seu livro. Você mesmo pode usar plataformas de autopublicação, como a brasileira UICLAP. Com isso, a tecnologia ajuda a democratizar e facilitar a publicação de livros, enriquecendo as obras nacionais.

E essas facilidades não tiram o espaço de ninguém, apenas colocam as pessoas no centro de tudo. A parte mais importante desse processo se torna o autor, suas histórias, experiências e culturas, que são o que fazem a diferença e transformam os livros em best-sellers.

À medida que a escrita de AI continua a melhorar, é provável que se torne uma parte cada vez mais importante da indústria editorial, com o potencial de criar novas oportunidades para autores e editores. Esse debate é longo e complexo, mas não podemos negar que esse modelo já deixou sua marca no mundo. Os livros escritos por IA são o futuro? Só o tempo irá dizer, mas aguardo ansioso para ver as transformações que essa nova ferramenta trará para o mercado.


* Betinho Saad é fundador da UICLAP. Formado em Administração de Empresas, com pós-graduação em Gestão Contábil e Financeira, atuou por quase 10 anos no ramo do entretenimento, em casas noturnas. Trabalhou na gestão de um hospital, onde permaneceu por mais de oito anos. Após um período no Canadá, retornou ao Brasil e criou a UICLAP em 2019, junto com Rui Kuroki, ao enxergar as principais dores e oportunidades do mercado editorial.

[05/04/2023 09:08:00]