Publicidade
Publicidade
Metaverso e manuscrito
PublishNews, Gustavo Martins de Almeida, 08/03/2023
Em novo artigo, Gustavo Martins de Almeida discorre sobre o "grande lance do futuro" ser "redescobrir o passado"

Insisto que a aceleração do tempo histórico faz com que as placas tectônicas sociais se sobreponham em cada vez maior velocidade. Se funciona é obsoleto, pois logo outra novidade vem ofuscar a inovação de ontem.

Comecei a desenvolver ano passado estudo sobre NFT e arte, no âmbito do Metaverso, mas a novidade rapidamente se disseminou, sendo expandida e desenvolvida, mas logo ficou démodé, pois o mercado lançou o ChatGPT, assunto dos meus dois últimos artigos.

Mesmo sendo encobertas, as camadas sociais não desaparecem, e ressurgem fascinantes, como as descobertas arqueológicas que subitamente nos encantam.

Passada essa introdução, atentei para o leilão, pela prestigiosa casa Sotheby's, neste 06 de março de 2023, do manuscrito do livro Snow Crash, de Neal Stephenson, engenheiro norte-americano, introdutor do conceito de Metaverso, publicado em 1992.

Com estimativa de preço de venda entre 40 e 60 mil dólares, a obra saiu por 304,8 mil dólares. O vídeo do leilão pode ser visto clicando aqui.

Nesse livro Stephenson, que hoje trabalha na vanguardista Magic Leap, fala de metaverso, avatar, criptomoedas, ciberespaço, “pré-vendo” o momento atual. Segundo ele, “Escrito na tentativa de resgatar alguns elementos de um projeto de história em quadrinhos anterior, este livro se tornou importante e mudou minha vida.”

Muitos estranham quando falo que o grande lance do futuro é redescobrir o passado. Vivemos hoje a ficção científica do passado, ao mesmo tempo em que escrevemos o que será história no futuro, e simultaneamente, carpe diem.

E esse assunto com o mercado editorial? Como toda a modernidade do século XXI, o leilão foi de um maço de papel datilografado ("Typed manuscript"), com anotações a mão em tinta. Já vivemos a singela emoção de ver o leilão do manuscrito da música American Pie, de Don Mclean (artigo de 1º de abril de 2015), e a significativa aquisição do Código Hammer, caderno com anotações científicas de Leonardo da Vinci, por Bill Gates, em 1994, em troca de 30 milhões de dólares. O homem do software se realiza num hardware.

Ian McEwan, em Máquinas como eu: E gente como vocês antecipa a vida androide, descrevendo um triângulo amoroso envolvendo um casal e um robô.

Misture-se todos esses ingredientes e vemos que a informação ainda é transportada, transferida, transmitida pelo livro, pelo conhecimento, impresso, falado, tateado. O objeto continua importante, e os leilões de pergaminhos, manuscritos, ou suas versões digitais, tem seu lugar no mercado. Corpóreos ou incorpóreos, eles armazenam reflexões, emoções, dados; absorvidos e processados.

A criação humana está longe de ser alcançada pelo GPT, grande repositório de informações, veloz e razoavelmente concatenado. O machine learning impressiona, mas passado o primeiro impacto dessas novidades, começam as constatações de defeitos; um amigo traduziu um texto no Google e o receptor, norte-americano, logo identificou o estilo do programa.

Retorno ao tema velocidade social e histórica. O preço elevado de uma árvore, em comparação a uma muda, corresponde ao tempo adquirido, às transformações sofridas.

Trago essa reflexão, pois a informação produzida pelo GPT, em última forma, se expressa por caracteres na tela, ou impressos em papel, ou em arquivos (códigos) salvos na máquina ou na nuvem.

A notícia do leilão do manuscrito do Snow Crash, a meu ver, representa uma reduzida na marcha acelerada do tempo, um recordar que todo esse “cybergeist” vem dos dedos, da esferográfica, das teclas, dos neurônios, do suor e fagulha criativa do ser humano.

Tenho mandado cartões postais para meus amigos, com selo colado e tudo. Demoram uma semana para chegar no Rio, e até um mês para EUA e Europa. É o meu deliberado slow down, contraponto ao frenesi diário. Creio que a essa modernidade se faz necessário, ao menos razoável, sobrevir um tempo de acomodação, de fermento, de maturação.

E por mais que se evolua, o velho livro continua sendo o objeto básico de transmissão de informação, de dados, emoções. Resumindo, concebido por Neal Stephenson, o metaverso se acomodou primeiramente em algumas folhas de papel, e lá permanece impresso, ainda que tenha mudado de mãos e estantes e seu conceito tenha se desprendido da celulose e brilhe em Leds e pixels.

Nessa reflexão destaco o papel central do autor, que precisa ser reconhecido e respeitado. Importante a atenção e atuação de todos; editores, críticos, livreiros, tradutores, advogados, magistrados, pois o plágio e as violações tendem a se sofisticar.

Gustavo Martins de Almeida é carioca, advogado e professor. Tem mestrado em Direito pela UGF. Atua na área cível e de direito autoral. É também advogado do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e conselheiro do MAM-RIO. Em sua coluna, Gustavo Martins de Almeida aborda os reflexos jurídicos das novas formas e hábitos de transmissão de informações e de conhecimento. De forma coloquial, pretende esclarecer o mercado editorial acerca dos direitos que o afetam e expor a repercussão decorrente das sucessivas e relevantes inovações tecnológicas e de comportamento. Seu e-mail é gmapublish@gmail.com.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

Tags: metaverso
Publicidade

A Alta Novel é um selo novo que transita entre vários segmentos e busca unir diferentes gêneros com publicações que inspirem leitores de diferentes idades, mostrando um compromisso com qualidade e diversidade. Conheça nossos livros clicando aqui!

Leia também
Em novo artigo, Gustavo Martins usa como ponto de partida o desejo de Fernanda Torres de encenar uma peça de Eça de Queiroz para explicar os trâmites jurídicos de uma adaptação teatral
Em novo artigo, Gustavo Martins discorre sobre os tempos de leitura e compara impressos com audiolivros
Em novo artigo, Gustavo Martins comenta a decisão judicial americana referente ao comércio gratuito de livros
Em novo artigo, Gustavo de Almeida aborda as atualizações referentes ao assunto da propriedade intelectual e ética frente às novas tecnologias
Em novo artigo, Gustavo Almeida discorre sobre o indicador da presença da arte imaterial individualizada ao abordar o caso da escritora Ana Maria Caballero que vendeu sua obra online por US$ 11,43 mil em leilão
Publicidade

Mais de 13 mil pessoas recebem todos os dias a newsletter do PublishNews em suas caixas postais. Desta forma, elas estão sempre atualizadas com as últimas notícias do mercado editorial. Disparamos o informativo sempre antes do meio-dia e, graças ao nosso trabalho de edição e curadoria, você não precisa mais do que 10 minutos para ficar por dentro das novidades. E o melhor: É gratuito! Não perca tempo, clique aqui e assine agora mesmo a newsletter do PublishNews.

Outras colunas
Em novo artigo, Gustavo Martins usa como ponto de partida o desejo de Fernanda Torres de encenar uma peça de Eça de Queiroz para explicar os trâmites jurídicos de uma adaptação teatral
Escrita do autor é marcada por sensibilidade e autenticidade, proporcionando aos leitores uma experiência poética envolvente e inspiradora
Livro de Marcelo Santoni Lima publicado pela Ases da Literatura é um guia para ajudar a desenvolver competências fundamentais para prosperar em um mundo cada vez mais tecnológico e competitivo
Coletânea de histórias combinam trajetória pessoal da autora Gisele Donatoni Caporalli com a Bíblia Sagrada
Nos livros aprendi a fugir ao mal sem o experimentar.
Camilo Castelo Branco
Escritor português (1825-1890)

Você está buscando um emprego no mercado editorial? O PublishNews oferece um banco de vagas abertas em diversas empresas da cadeia do livro. E se você quiser anunciar uma vaga em sua empresa, entre em contato.

Procurar

Precisando de um capista, de um diagramador ou de uma gráfica? Ou de um conversor de e-books? Seja o que for, você poderá encontrar no nosso Guia de Fornecedores. E para anunciar sua empresa, entre em contato.

Procurar

O PublishNews nasceu como uma newsletter. E esta continua sendo nossa principal ferramenta de comunicação. Quer receber diariamente todas as notícias do mundo do livro resumidas em um parágrafo?

Assinar