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Diário de Bolonha. Dia 2: 'Ma che tipo de senso hai?'
PublishNews, Julio Silveira, 08/03/2023
No seu segundo dia na Feira do Livro Infantil de Bolonha, Julio Silveira fala sobre as tendências que identificou no evento

"Ma che tipo de senso hai?"

"No capítulo anterior…" eu fiquei de avaliar se as festas bolonhesas eram mais animadas que as de Frankfurt. Isso vai ter que ficar para o próximo capítulo. A festa de ontem revelou-se formal demais para o meu gosto: uma premiação no vetusto Palácio do Rei Enzo, onde, ainda por cima, só serviam lambrusco ಠ⁠_⁠ʖ⁠ಠ. Achei melhor ir descansar para o segundo dia, ou round.

A tal entrada da feira
A tal entrada da feira
Hoje enfim descobri onde fica entrada, mas só na hora da saída. De manhã o Waze insistiu em me levar para um ponto qualquer da Emilia Romagna e andei muito até achar um grupo de editores que se embrenhava por umas vielas. Perguntei se aquele era o caminho da feira e a resposta foi "e chi lo sà?", acompanhados dos obrigatórios gestos italianos. Porém chegamos.

Tentei hoje investigar quais seriam as tendências do mercado editorial jovem. Primeiro notei que os livros que mais se destacam estão em campos opostos. De um lado estão obras primas de engenharia gráfica (com recortes miligramáticos e dobras intrincadas) e artes dignas de Michelangelo ou Escher. São livros, enfim, que eu cobiçaria para mim — e que não deixaria meu filho tocar. Do outro lado estão obras, digamos, "cruas", com ilustrações fortes em cores fauvistas, bem infantis (obviamente) e também maravilhosas. No primeiro caso vi lindas obras de ourivesaria editorial em estandes italianos e coreanos e, no segundo caso (que me fascinou ainda mais), acredito que a liderança esteja com as editoras portuguesas (que eram super disputadas).

Notei também que ninguém mais está interessado em (ou acha que vale a pena) concorrer com a internet. Não vi nada daqueles QR Codes e Realidade Virtual que tanto apareciam anos atrás. E a parte mais desanimada da feira é o canto das franquias, onde tentam vender obras ligadas a filmes e quadrinhos.

Já o que encontrei bastante foram os candidatos a Heartstopper: romances gráficos sobre o amor de dois meninos. A Noruega destacava um desses, meio bergmaniano, e Taiwan promovia uma nova gráfica gay teen bem… "gráfica" com arte de um tal 卢卡石, ou "Lucas", ilustrador soteropolitano.

Ao contrário de ontem, em que tive um "burnout" com o cansaço e o excesso de estímulos visuais, hoje acho que tive uma espécie de epifania. Em algum momento fiquei apaixonado por aquilo tudo e me deu vontade de sair publicando livros poloneses, indonésios e guatemaltecos. A euforia multicultural logo abrandou, mas vou voltar ao Brasil com livros sensacionais de lugares que nunca desconfiaria, e que encontrei meio ao acaso, sem reuniões previamente marcadas. E nisso, ao contrário de Frankfurt (olha eu comparando de novo…), a Feira de Bolonha se parece com uma boa livraria: ela permite a descoberta.

Quem sabe o que descobrirei amanhã…


Julio Silveira é editor, escritor e curador. Fundou a Casa da Palavra em 1996, dirigiu a Nova Fronteira/Agir e hoje dedica-se à Ímã Editorial, no Brasil, e à Motor Editorial, em Portugal. É atual curador do LER, Festival do Leitor.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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