Com 25 anos de estrada (a sinuosa e esburacada estrada editorial) eu achava que já tinha feito de tudo. Mas nós editores sabemos o quanto é preciso rebolar e eis-me aqui começando algo novo (para mim): publicar livros para crianças e jovens.
Desde a última vez que fiz um livro infantil (há inacreditáveis 20 anos) o mercado mudou completamente e agora, me vejo aprendendo tudo de novo, do zero, no principal evento editorial infantojuvenil, a Feira do Livro Infantil de Bolonha. É a minha primeira vez aqui e minha referência/expectativa é a Feira de Frankfurt, aonde fui tantas vezes em nome de três ou quatro editoras. Posso ilustrar a diferença entre as feiras alemã e italiana em termos de comida. Enquanto na Buchmesse a gente come uma salsicha fria correndo para a próxima reunião, aqui na Feria meu evento mais demorado hoje foi o almoço (principalmente por conta da fila) onde escolhia entre tortellini, cotelette ou melanzane parmegiana.
Explicando a metáfora, quero dizer que Bolonha é uma feira mais humana, no que tem de acolhedora e também de confusa. Embora o espaço seja bem menor que em Frankfurt, achei bem mais complicado navegar entre os pavilhões muito por conta da sinalização aleatória. Por sinal, ao chegar, não achava o caminho e acabei entrando na feira por um portão traseiro, junto com os caminhões que entregavam o vinho.
O lado humano apareceu no que ouvi de duas editoras hoje, quando eu estava para fazer uma proposta: "não fechamos negócio na feira". Elas preferiram que eu lesse o PDF e continuasse a conversa depois por e-mail. Acostumado com os ansiosos pre empts de Frankfurt, admito que gostei desse ritmo mais contemplativo. Por sinal, as negociações (ou melhor, as conversas) acontecem nos multicoloridos estandes das editoras, e não na monocromática sala dos agentes em Frankfurt, um alívio. Como algumas editoras gostam de contar a história do livro que propõem, algumas vezes me sentia como se ouvisse uma contação de história (não estou reclamando!): "então a coruja feliz contou para a raposa esperta...".
Por falar em cor, senti que o que sofria em Frankfurt por esforço físico (correndo entre os pavilhões) aqui em Bolonha sofro por esforço visual. Os estandes, e os livros que os recheiam, têm tons chamativos e vibrantes. Chegou a um ponto, no meio da tarde, que esse excesso de estímulos visuais casou com duas noites mal dormidas e quase me nocauteou. Uma piadina di formaggio e uma conversa com colegas brasileiros me recompuseram.
Agora é de noite e vim comer algo no Centro Histórico, justamente em uma livraria (da Eataly). Daqui a pouco sigo para uma festa e poderei fazer mais uma comparação entre as feiras: será que as festas bolonhesas a base de vinho superam os forrobodós regados a cerveja de Frankfurt? Se eu sobreviver (ou, mais honestamente, se eu tiver forças para ir) eu conto no diário de amanhã.
Julio Silveira é editor, escritor e curador. Fundou a Casa da Palavra em 1996, dirigiu a Nova Fronteira/Agir e hoje dedica-se à Ímã Editorial, no Brasil, e à Motor Editorial, em Portugal. É atual curador do LER, Festival do Leitor.
** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.
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