E o grande debate do momento vem sendo sobre inteligência artificial, ou, ao modo estrangeiro de resumir tudo a siglas, em português a AI e em inglês a IA, inteligence artificial. Aliás, o termo, ou os termos, não são nada novos, e o assunto é tão antigo quanto as primeiras descobertas tecnológicas.
Porém o debate sim é novo, afinal em tempos nem tão distantes ninguém suporia que, em curtíssimo prazo, teríamos a IA ao alcance gratuito e acessível à muita gente, e que suas infinitas possiblidades ensejariam algo maior do que os buscadores da internet até o momento brindaram.
Temos, para muito além do ChatGPT, uma gama expressiva de respondedores e produtores de texto e imagem em diferentes línguas a partir da IA, e breve teremos, também liberados, gratuitamente, criadores e animadores de imagens articuladas em áudio e vídeo. Resumindo, dia após dia novas soluções respondedoras de qualquer coisa e produtoras de qualquer coisa estarão disponíveis ao alcance de um “olá”.
E vamos dar um olá a quem ganha, ou melhor, a quem explora o sonho alheio para ganhar com a ilusão de que existe um bom livro sem um editor, uma boa música sem um produtor, cinema sem diretor? Ou os diferentes ambientes digitais de venda de e-books e também outros produtos culturais, avisarão ao leitor e consumidor que o que ele lê ou ouve foi feito por um robô?
E lanço o desafio para a Amazon e seu KDP e similares de outras marcas, e que já tentam, ou faturam com a produção e venda de conteúdo cultural sem, necessariamente, checagem autoral: haverá aviso no texto vendido se o conteúdo foi um robô quem produziu?
Algum candidato a editor já deve ter pensado: e se produzirmos um conteúdo em IA, registrar o direito autoral e colocar à venda? Ou se montar uma estrutura empresarial e tecnológica para produzir milhares, milhões de conteúdos e faturar com isso?
Observe, caro leitor, são possibilidades minimamente reais, e certamente neste instante devem estar em curso em algum canto quadrado do nosso sofrido e redondo planeta.
Disseram que a IA estará na minha geladeira analisando o que consumo, e informando quem sou e as doenças que terei somente pela rotina do abrir e fechar de portas geladas. Disseram também que serei lido, isso mesmo, serei lido, feito livro, em qualquer ambiente, feito filme de ficção científica, e assim dispararei alarmes dos mais diversos, tanto para consumo como para impostos. Em resumo, nossas funerárias e planos de saúde que se preparem, breve terão, por antecipação, a demanda do dia...
Sim, eu temo pelo mau uso da IA. Eu temo pelo uso veloz e indiscriminado de tudo que falo, penso e eventualmente escrevo. Mas se antes a humanidade criou horrores como a bomba atômica, Hitler e o bolsonarismo, agora não poderia ser diferente. E uma coisa é certa, sobreviveremos apesar de tudo (mas é bom agirmos logo...).
Paulo Tedesco é escritor, editor e consultor em projetos editoriais. Desenvolveu o primeiro curso em EAD de Processos Editorais na PUCRS. Coordena o www.editoraconsultoreditorial.com (livraria, editora e cursos). É autor, entre outros, do Livros Um Guia para Autores pelo Consultor Editorial, prêmio AGES2015, categoria especial. Pode ser acompanhado pelo Facebook, BlueSky, Instagram e LinkedIn.
** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.
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