Publicidade
Publicidade
Eu, e-voz
PublishNews, André Palme, 23/02/2022
Em nova coluna, André Palme fala da substituição da voz humana por inteligência artificial no mercado do áudio

O universo do áudio já é digital faz algum tempo.

A maneira como distribuímos o conteúdo já é feita por apps, a maneira como divulgamos os lançamentos usa todos os conceitos e ferramentas do marketing digital e a maioria das plataformas estão baseadas em premissas digitais bem conhecidas: streaming como ferramenta tecnológica, assinatura como modelo de negócios.

Mesmo antes do conteúdo chegar até seu fone de ouvido - conectado digitalmente por bluetooth - quase tudo é digital: os softwares de gravação, as ferramentas de edição, revisão e masterização, a nuvem que hospeda os arquivos… mas existe uma barreira que não foi ultrapassada: a voz.

E essa barreira não é só mais uma etapa para ser digitalizada, ela é A barreira, que, se transposta, muda o jogo; em muitos sentidos. Claro que isso gera muitas questões, discussões, polêmicas, resistências e muitas, muitas incertezas. Será que tudo vai ser narrado por robôs de inteligência artificial? Será que eles vão emular qualquer voz, até aquelas que já conhecemos? Onde fica o limite dos direitos intelectuais e artísticos... e a pirataria? Isso vai acabar com a profissão de quem usa a voz como material de trabalho?

Pra mim, a resposta para a maioria dessas perguntas é não. Não por ser uma barreira tecnológica, mas porque existe algo de humano na arte que é impossível de ser 100% substituído por qualquer inteligência artificial: aquela fagulha de genialidade, de improviso e interpretação que (sempre) vai ser humana.

E não estou falando de qualidade de voz, do timbre e da textura. Isso pode ser replicado. Clique aqui e ouça um trecho de uma narração e me diz: se eu não te contasse que é um software de inteligência artificial, você poderia dizer que é uma pessoa narrando, né? Esse exemplo não se parece em nada com uma voz sintetizada ou a linguagem incompreensível do R2-D2, o robozinho de Star Wars. Parece uma voz humana, com pausas, respiração e até com a limitação de desconhecer como se pronuncia corretamente o nome de Martin Luther King.

Estou falando disso aqui, do genial Mauro Ramos dando vida ao lendário Hercule Poirot, o detetive de Agatha Christie: ouça nesse link, clicando em amostra.

Isso é humano, é arte, é sensibilidade. Não quero ser aqui o inocente utópico de achar que a inteligência artificial não vai entrar nesse jogo, ela já está entrando. Pra mim, o que importa é como a gente como indústria vai jogar esse jogo.

Porque é claro que uma solução digital traria uma escala de e-narrações (tentando achar um termo pra uma narração feita por IA) ininterrupta, 24 x 7, com um investimento provavelmente mais barato em escala do que narradores em estúdio. Inegável também que traria uma escala de produção e disponibilidade de conteúdo em áudio para o mercado jamais vista, justamente porque hoje, se uma pessoa não entra em uma cabine e narra aquela história, não existe sua versão em áudio. E, sim, escala e oferta podem ser moedas fortes a favor da IA na tomada de decisão de estúdios, produtoras e plataformas, no momento em que essa tecnologia atingir uma qualidade vocal aceitável.

Mas por outro lado, tentando fazendo um paralelo, você imagina assistir um filme onde todos os atores são robôs ou hologramas? Não vale dizer que você já assistiu Westworld, porque até agora não dá pra saber quem é humano e quem é robô!

Existem histórias que exigem uma interpretação, uma imposição de voz, uma pausa, um feeling sobre onde fazer algo vocal, que softwares não vão conseguir replicar. Simplesmente porque exige algo não replicável, sensibilidade humana.

Então, quero dizer que como tudo em tecnologia deveria ser, acredito em equilíbrio. Acredito sim que existem vantagens em trazer a IA para o jogo, mas que ela não é a dona da bola. Existe sim vantagem para certos tipos de conteúdo - que tendo a crer que estarão mais concentrados em conceitos mais técnicos e teorias de negócios - aplicar uma voz de IA, onde uma entonação regular resolve muito bem a missão de transmissão de conhecimento. Ao passo que, para histórias de ficção, onde alguém precisa contar uma história com todas as nuances de emoção necessárias, um humano vai ser muito melhor em dar vida àquela narrativa.

Palme é um executivo da cultura e do entretenimento com +12 anos de experiência na liderança de projetos que envolvem conteúdos multi formatos, tecnologia e streaming; além de empreendedor, professor, mentor e colunista. Nos últimos anos liderou projetos que somam mais de 10 mil horas de conteúdo em áudio, entre audiobooks, podcasts e audioseries.

Atualmente é CMCO (Chief Marketing & Content Officer) e um dos sócios do Skeelo.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews

Publicidade

A Alta Novel é um selo novo que transita entre vários segmentos e busca unir diferentes gêneros com publicações que inspirem leitores de diferentes idades, mostrando um compromisso com qualidade e diversidade. Conheça nossos livros clicando aqui!

Leia também
Em novo artigo, Palme fala sobre como podemos enxergar a inteligência artificial como uma ferramenta de uso para muitas das atividades e tarefas do dia a dia
Em novo artigo, Palme fala sobre como os celulares são muito mais do que a nossa porta de entrada para o mundo digital, mas também um grande aliado na disseminação da leitura
A gente tem alguns bons exemplos do poder da comunidade e das interações e todos os aspectos sociais dentro do mundo do livro
É importante adotar sempre uma postura de estar em cena e não ficar só como alguém na plateia vendo a banda passar, parafraseando o Chico
Em novo artigo, André Palme fala sobre o poder e a importância da comunidade e como ter pessoas engajadas com seu conteúdo pode fazer a diferença
Publicidade

Mais de 13 mil pessoas recebem todos os dias a newsletter do PublishNews em suas caixas postais. Desta forma, elas estão sempre atualizadas com as últimas notícias do mercado editorial. Disparamos o informativo sempre antes do meio-dia e, graças ao nosso trabalho de edição e curadoria, você não precisa mais do que 10 minutos para ficar por dentro das novidades. E o melhor: É gratuito! Não perca tempo, clique aqui e assine agora mesmo a newsletter do PublishNews.

Outras colunas
Seção publieditorial do PublishNews apresenta livros publicados no Clube de Autores e na Uiclap
Composta por sete livros repletos de ação e aventura, a saga gira em torno de um império autocrático que ameaça tanto a Terra quanto a própria humanidade
2ª edição de 'Somos todos importantes nos caminhos da sustentabilidade' (Clube de Autores), de Maria Rosana Navarro​, chega atualizada e revisada após quase 12 anos
Entrevista tentou evitar alguns lugares-comuns que se criaram nos últimos tempos e procurou focar em usos específicos e indicações para profissionais do mercado do livro e interessados nesses processos
Todas as sextas-feiras você confere uma tira dos passarinhos Hector e Afonso
Nós somos o Jason do mercado de entretenimento. Acham que a gente vai morrer, mas a gente não morre, a gente continua.
Bruno Zolotar
Diretor comercial da editora Rocco
Publicidade

Você está buscando um emprego no mercado editorial? O PublishNews oferece um banco de vagas abertas em diversas empresas da cadeia do livro. E se você quiser anunciar uma vaga em sua empresa, entre em contato.

Procurar

Precisando de um capista, de um diagramador ou de uma gráfica? Ou de um conversor de e-books? Seja o que for, você poderá encontrar no nosso Guia de Fornecedores. E para anunciar sua empresa, entre em contato.

Procurar

O PublishNews nasceu como uma newsletter. E esta continua sendo nossa principal ferramenta de comunicação. Quer receber diariamente todas as notícias do mundo do livro resumidas em um parágrafo?

Assinar