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Spinbot, o robô do mal
PublishNews, Gustavo Martins de Almeida, 18/02/2020
Gustavo Martins explica como funciona o Spinbot, um programa de disfarce literário e plágio

“Reescreve automaticamente um grande número de artigos que você já possui. Se você hospeda artigos gratuitos e já possui um banco de dados de milhares ou milhões de artigos, use o serviço Spinbot para analisar rapidamente seu banco de dados e multiplicar o conteúdo existente”. Este é um dos atributos descritos no site do Spinbot. Ele reescreve o que a pessoa redigiu – ou obteve - de forma relativamente semelhante, de modo que eventual plágio se torna difícil de ser localizado.

Prosseguindo na sua própria descrição do site, ele, Spinbot, se qualifica como “um reescritor de artigos com um clique que não requer inscrição ou registro se você deseja usar a versão gratuita. Este software não gera resultados formatados "spintax", nem exige que você digite spintax para criar conteúdo reescrito recentemente. Tudo o que você precisa fazer é inserir texto legível por humanos e você receberá um texto legível por humanos.”

Em outras palavras, temos um site de disfarce literário, que, num segundo, altera a estrutura de um texto, ou mistura vários textos, criando de forma inteligente, texto novo.

É um fermento do plágio, um estímulo à preguiça intelectual, um empurrão na prática de fraude acadêmica. Não bastassem os sites que praticamente vendem trabalhos literários falsificados para estudantes (geralmente sob a fachada de adequação do trabalho a normas da ABNT), agora temos um gerador automático de conteúdo, um processador quase culinário de textos, transformando verduras em sopas.

Três tipos de situações surgem do uso desse aplicativo. A primeira, mais simples, do estudante que transforma um (ou mais) textos, ignorados por terceiros, em texto seu e apresenta num simples trabalho de escola. A autenticidade é questionada quando, muitas vezes, a escrita sofisticada não combina com o linguajar cotidiano do aluno. É um ato fraudulento que é condenado academicamente.

A segunda, já alertada em artigo da jornalista Juliana Sayuri, publicado na Folha de S.Paulo consiste no chamado autoplágio. O escritor, por exemplo, tem um site com cinco artigos, mas precisa aumentar a sua produção acadêmica. Ele próprio, autor dos textos, insere sua produção no computador e o Spinbot “cospe” um sexto artigo, concatenado, como se fosse uma vitamina dos demais textos.

Ou seja, sua produção acadêmica é aumentada sem que nada de novo seja criado em termos de conteúdo essencial, mas sim ocorre uma fusão e pasteurização de textos anteriores, sem nenhum trabalho intelectual humano. A máquina cospe um genérico da produção pretérita.

E a terceira, e mais grave; o disfarce de plágio. Parte-se de texto(s) original(is), de terceiros, que são inseridos no programa com alguma contribuição do plagiador, e a máquina analisa, monta e expele outros textos, usando sinônimos e novas ordens de construção. A dificuldade consiste, geralmente, em identificar os textos originais, pois muitas vezes são vários os copiados, em muitos casos dezenas.

Note-se que uma das hipóteses de uso do programa consiste em substituir as palavras por sinônimos e rearrumar o texto, como se vê na explicação do site, em tradução livre:

“O conteúdo ou os artigos deste Spinbot serão gerados substituindo as palavras por sinônimos. O conteúdo gerado pela ferramenta será 100% exclusivo.

Os artigos gerados por esta ferramenta serão severamente analisados e reescritos usando os sinônimos mais adequados. Ele irá gerar conteúdo de alta qualidade e também verificar os erros gramaticais. No total, os artigos resultantes serão únicos e, em geral, conterão a gramática adequada.”

A hipótese, em processo que corre em segredo de justiça no judiciário brasileiro, consiste na acusação contra escritora que teria colocado no Spinbot trechos de mais de 40 autores, gerando um livro salpicado de citações disfarçadas, sem aspas, que a própria plagiadora, apesar de admitir que copiou alguns milhares de palavras, não considera plágio.

Claro que uma sofisticada e trabalhosa perícia irá comparar os textos, identificar as frases originais, as alterações e disfarces, e desmascarar a confecção da colcha de retalhos literária.

Mas o fato relevante é que existe um mecanismo de alteração deliberada de textos, que expressamente admite sua função de permitir a multiplicação de conteúdo, por meio de combinações de palavras e significados.

O site é grátis até um certo número de palavras, e pago a partir de determinada quantidade, chegando a US$ 2 mil por tarefa.

Não há indicação na internet de quem seja o dono do site e não há maiores informações disponíveis a respeito. Enfim, toda a aparência de algo ilícito na rede, o que de fato é.

Gustavo Martins de Almeida é carioca, advogado e professor. Tem pós-doutorado pela USP. Atua na área cível e de direito autoral. É também advogado do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e conselheiro do MAM-RIO. Em sua coluna, Gustavo Martins de Almeida aborda os reflexos jurídicos das novas formas e hábitos de transmissão de informações e de conhecimento. De forma coloquial, pretende esclarecer o mercado editorial acerca dos direitos que o afetam e expor a repercussão decorrente das sucessivas e relevantes inovações tecnológicas e de comportamento. Seu e-mail é gmapublish@gmail.com.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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