PublishNews - María, eu gostaria de começar essa nossa conversa te perguntando como o mercado argentino tem se comportado em relação a sua produção e vendas de livros.
María Teresa Carbano - A Câmara Argentina de Livros (CAL), que é a que reúne os editores de pequeno e médio porte e algumas livrarias, é quem trabalha a Agência de ISBN no país. Ali há um informe sobre a produção de livros e nele se vê uma queda de quase 50% entre 2017 e 2018. Não estamos falando de venda, mas da produção de exemplares. O número de novidades se manteve, mas baixamos as nossas tiragens. Não gosto de ter que dar esse panorama, mas é a realidade. Esse informe mostra também a grande concentração. Boa parte do mercado está nas mãos da Planeta e Penguin Random House.
Sobre a venda, é muito difícil ter uma informação muito clara, mas o que posso dizer é que estimamos, e esse não é um dado certeiro, que desde 2015 até agora, perdemos algo como um terço do mercado. Quando me dizem que isso se deve ao livro digital ou a outras plataformas de entretenimento como Netflix eu digo que o livro digital não é problema. Mesmo porque os registros de livros digitais se mantêm constantes em algo em torno de 17%. Não é que o livro digital avança sobre o papel. Em relação a formas diferentes de consumos culturais, como as séries etc., pode haver uma influência, mas não nessa magnitude.
Acredito que essa situação crítica possa se reverter em pouco tempo, mas enquanto isso, estamos pleiteando soluções mais imediatas. O livro na Argentina não paga o Imposto sobre Valor Agregado (IVA), mas se pagava sobre o papel. Agora, na nova lei do orçamento houve uma modificação e, segundo a lei, vamos poder deduzir o IVA que pagamos em atividades de impressão. Isso é um benefício. No entanto, isso ainda não está regulamentado. Os legisladores aprovaram, mas ainda não podemos tomar esse benefício.
Em outras conversas que tive aqui na Feira, algumas pessoas me disseram que perceberam um aumento das vendas nos e-commerces. Isso está mesmo acontecendo?
MTC - Isso é certo. As livrarias encontraram no e-commerce uma solução para a queda de suas vendas, mas é importante dizer que o e-commerce não está roubando as vendas das livrarias físicas. São vendas complementares. Por outro lado, nossa capacidade de criatividade é forte. Uma prova disso é a editora Limoneiro que ganhou prêmio recentemente em Bolonha. A capacidade criativa existe. Agora precisamos articular com órgãos oficiais algumas ações em conjunto para estudar essa situação e ver como e de que maneira podemos encontrar uma solução.
E há uma boa vontade por parte do governo em ajudar?
Por parte das áreas da Cultura, sim. Mas temos que conseguir ser mais permeáveis nas áreas de produção e economia.
E por falar em governo, as vendas governamentais aconteceram no último ano?
MTC - Não! As últimas compras em nível nacional foram em 2014. De 2015 para cá, houve pequenas compras de algumas cidades ou províncias. Mas aquelas compras que deram tanta força ao mercado e favoreceu tantas editoras não aconteceram mais.
E enquanto as compras governamentais estavam em alta, surgiram editoras para atender especificamente a essas compras governamentais. Qual foi o destino dessas casas?
MTC - As compras governamentais foram abertas não só às grandes editoras, mas também para as pequenas editoras. Isso facilitou um crescimento e surgimento de editoras independentes. Há algumas que desistiram, mas, em geral, elas vêm sobrevivendo.
Você tinha dito que a produção de livros digitais se limita a 17% do que é produzido no país. Há dados das vendas desse formato?
MTC - Não temos esse dado. Não conseguimos dar uma resposta a isso ainda. Sinto que é muito pequeno, mas não posso dar um número.
Uma editora argentina me disse em anos anteriores que um dos grandes problemas do mercado seria a falta de uma plataforma de metadados que pudesse dar conta das necessidades de editores e livreiros. Na época, ela me disse que havia conversas com a Metabooks. Isso caminhou de lá para cá?
MTC - Não, não prosperou. O tema custo influencia muito nessa questão. Esse é um momento em que as editoras médias e pequenas, que representam um número importante na Argentina, estão tratando de sobreviver e não estamos prevendo esse investimento. Estamos atrasados, mas é por uma questão de custos.
MTC - Sim, também. Há duas grandes cadeias que concentram a maior parte do mercado, mas não temos dados numéricos de o quanto isso representa.
Fazendo um exercício de futurologia, você consegue perceber como o mercado caminha nos próximos dois, três anos?
MTC - Bom, eu vou expressar os meus desejos (risos). Eu creio que o mercado não vá se recuperar em dois, três anos, mas eu creio que vamos nos manter e que vamos sair buscando criativamente maneiras de nos ajudar. Esse assunto do IVA é uma das bandeiras neste sentido. Vamos ter que buscar maneiras de avançar nesse panorama difícil. Mas essa é uma expressão de desejo.
A Feira continua com a sua programação até o próximo dia 13. Quais as expectativas?
MTC - A feira é um caso especial. Por isso, eu tenho uma certa esperança. A feira é uma festa. Estamos falando em crise, mas a feira vai ter público. Não sei se vamos vender o mesmo que vendemos no ano passado, mas mais do que um lugar de vendas de livros, a feira é um lugar de cultura. E por aqui já se provou que em momentos críticos como esse, a feira não perde gente, ao contrário. Estou certa de que estará bem.