Cheguei no momento de uma crise cambial aguda. Profunda. No pouco que vi na televisão (me pareceu que para além de alguns programas de auditório do tipo Hebe, os canais discutem economia e política todo o tempo). Além disso, o que se pode notar nas ruas da cidade é uma pobreza mais explícita, um certo descuido com relação às ruas e edifícios. Realmente, não é a cidade de 25 anos idos - primeira vez que aqui estive e nem mesmo a de três anos passados em que passei uma semana depois de conhecer os escandalosos glaciares do sul do país...
Bom, mas e a Feira e os negócios? A Feira é grande e expressiva - muito parecida às nossas bienais de São Paulo e Rio. Grandes estandes e uma certa opulência, no revés da crise financeira. Nos três dias de profissionais, o evento pareceu ter uma boa circulação de pessoas - muitos livreiros de todo o país e regiões próximas a se abastecerem com as ofertas e descontos diretos, carregando carrinhos com quilos e quilos de livros (ouvi dizer que uma transportadora fez uma parceria com a Feira e franqueou alguns desses quilos, ou algo assim).
Quanto às editoras menores, estas parecem sofrer mais com o momento crítico, correndo atrás do pão do dia a dia. Ninguém estava disposto a comprar, a maioria aparentava precisar vender direitos. As produções estavam mais econômicas, no caso da Literatura Infantil e Juvenil (meu foco); me foram apresentados livros em preto e branco, como maneira de baratear os custos finais. Uma qualidade gráfica aquém do que se imaginaria.
No Salão de Negócios, por vezes, as mesas ficavam às moscas (ou pombas) e a estrutura que a Feira nos proporcionou foi bem discreta. A crise se fez presente em todos os setores.
Na quinta-feira passada, abriram-se as portas pela tarde ao público em geral. Confesso que não acompanhei esse afluxo, posto que as energias já começavam a se esgotar e para os profissionais essa observação do evento como varejo não é o foco.
Houve boas mesas de discussão sobre marketing, audiobooks, modos de produção etc. O que se lamenta é que nem sempre - cumprindo o papel de quem deseja ofertar direitos - se consegue acompanhar aqueles temas que nos poderiam interessar, sempre haverá uma reunião “perdida” justo no horário das mesas. Vender, comprar, estudar e observar... tentamos fazer um pouco de cada uma dessas funções tão díspares. Creio que por isso as feiras nos deixam tão rapidamente fatigados.
O povo acolhedor (sim, acredito que para além do esporte, temos tanto e tanto em comum!), a cidade com seus marcos, referências e encantos segue sendo uma excelente oportunidade de refletirmos sobre nós mesmos (redundemos, sim!). O hotel dos editores brasileiros tinha bem diante de si uma escultura significativa: O pensador de Rodin. Tenemos mucho que reflejar!
* Sérgio Alves é editor
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