
Na América Latina, o Brasil é aquela exceção que confirma a regra. Um dos únicos a não ter o espanhol como língua-mãe, o país tem dificuldades em fazer o seu livro “viajar” entre os países hermanos. Mas há uma pessoa que tem construído pontes entre Brasil e os outros países da região. Dênya Rabêlo há 20 anos está nessa lida e já tem colhido resultados importantes. O seu trabalho com as editoras Melhoramentos e Global (não só essas, mas com essas já tem mais tempo) já rendeu frutos importantes como 110 mil exemplares de Flicts, de Ziraldo, para o mercado mexicano.

A produção editorial (preparação, revisão, projeto gráfico, diagramação etc) é feita no Brasil e os livros vendidos para o governo são impressos nos países em que serão vendidos, facilitando os trâmites de importação / exportação. “Esses mesmos distribuidores trabalham escolas particulares, livrarias, instituições, ONGs e fundações”, conta Dênya. Para essas vendas não governamentais, os livros são impressos no Brasil e exportados para os países de destino.
O ‘Oceano Azul’ no mercado latino-americano
W. Chan Kin e Renée Mauborgne lançaram a ideia dos Oceanos Azul e Vermelho. Eles falam, no livro A estratégia do Oceano Azul (Campus), que todo mercado tem o seu Oceano Azul, em que a empresa navega tranquila, aproveitando a maré pouco explorada, mas há também aquele Oceano Vermelho, sangrento, em que há uma concorrência tão grande e onde tubarões estão sempre à espreita para comer os peixes menores. Dênya conta que no mercado latino-americano também há esses dois tipos de situação: “Existe um espaço para livros para crianças muito pequenas, em idade pré-escolar. Existe muita concorrência entre 8 e 11 anos e depois existe um espaço para livros voltados para crianças depois dos 12”.
Para o primeiro “Oceano Azul”, o das crianças em idade pré-escolar, a agente revela que há predominância de livros escritos em primeira pessoa e pouca concorrência com aqueles livros que são só ilustrados, sem texto. “O Brasil já está à frente há muito tempo com livros sem textos. Em países como a Espanha não se publica muito esse tipo de livro e hoje existe uma demanda muito grande por eles”, conta. Já para o segundo “Oceano Azul”, o de livros para jovens a partir de 12 anos, Dênya conta que livros informativos e de temáticas sobre relacionamento, drogas, família saem à frente. “O boom hoje nesse segmento é vivido pelos livros informativos que falam sobre profissões e também livros de ação, relacionamentos e drogas, por exemplo. Houve uma mudança na visão dos especialistas nos ministérios. Antes, quando a linguagem já passava a tratar dos problemas pessoais dos jovens, eles não queriam comprar. Hoje não”, comentou.
Além disso, Dênya aponta que livros com textos e ilustrações com temáticas universais são mais bem-aceitos. “Autores que já tem um reconhecimento no mercado externo já entram com uma chance maior, mas eles também estão valorizando muito novos autores e novos ilustradores”, conclui a agente.
A consultora conta ainda que o livro brasileiro tem conquistado espaços nesse mercado e já preocupa alguns concorrentes internacionais. Para ilustrar isso, ela cita a última licitação mexicana. Foram inscritos 10 mil títulos e desse universo, foram selecionados 256. Somente três editoras não mexicanas e não espanholas ficaram entre os selecionados. Uma delas era brasileira.
Hoje, além da Global e da Melhoramentos, Dênya atende: Callis, Aletria, Abacatte, Migulim e Sesi SP.
Dênya concedeu uma entrevista ao podcast do PublishNews que, por conta do feriado, vai ao ar excepcionalmente na próxima quarta-feira.


