Construindo pontes entre Brasil e América Latina
PublishNews, Leonardo Neto, 27/04/2018
Dênya Rabêlo leva o livro brasileiro para a América Latina e tem títulos que chegam a vender mais de 100 mil exemplares em uma única licitação

Dênya Rebelo posa com a versão argentina de Flicts, de Ziraldo | Leonardo Neto
Dênya Rebelo posa com a versão argentina de Flicts, de Ziraldo | Leonardo Neto

Na América Latina, o Brasil é aquela exceção que confirma a regra. Um dos únicos a não ter o espanhol como língua-mãe, o país tem dificuldades em fazer o seu livro “viajar” entre os países hermanos. Mas há uma pessoa que tem construído pontes entre Brasil e os outros países da região. Dênya Rabêlo há 20 anos está nessa lida e já tem colhido resultados importantes. O seu trabalho com as editoras Melhoramentos e Global (não só essas, mas com essas já tem mais tempo) já rendeu frutos importantes como 110 mil exemplares de Flicts, de Ziraldo, para o mercado mexicano.

Dênya com Jorge e António Gorosito, da Continente, a distribuidora com a qual trabalha na Argentina | Leonardo Neto
Dênya com Jorge e António Gorosito, da Continente, a distribuidora com a qual trabalha na Argentina | Leonardo Neto
O PublishNews se encontrou com Dênya na Feira do Livro de Buenos Aires, aberta oficialmente nesta quinta-feira (26) e cuja programação segue até o próximo dia 14. Ela detalhou como funciona o seu trabalho. A partir de uma análise do catálogo das editoras parceiras, a agente de negócios pinça títulos que podem interessar aos mercados internacionais nos quais trabalha. Na outra ponta, mantém contatos diretos com os ministérios da Educação dos países onde mantém negócios para saber e conhecer de perto as necessidades e lacunas que o livro brasileiro pode preencher. As licitações de que as editoras representadas por Dênya participam exigem que haja um distribuidor local que se responsabiliza pelo livro naquele país. A agente, então, faz essa triangulação entre editor brasileiro, distribuidor estrangeiro e o governo do país onde vai trabalhar. “Meu trabalho é estar ao lado do distribuidor e estar muito bem-informada sobre o que cada ministério exige. É a partir daí que começa o desenvolvimento desses trabalhos”, resume a profissional.

A produção editorial (preparação, revisão, projeto gráfico, diagramação etc) é feita no Brasil e os livros vendidos para o governo são impressos nos países em que serão vendidos, facilitando os trâmites de importação / exportação. “Esses mesmos distribuidores trabalham escolas particulares, livrarias, instituições, ONGs e fundações”, conta Dênya. Para essas vendas não governamentais, os livros são impressos no Brasil e exportados para os países de destino.

O ‘Oceano Azul’ no mercado latino-americano

W. Chan Kin e Renée Mauborgne lançaram a ideia dos Oceanos Azul e Vermelho. Eles falam, no livro A estratégia do Oceano Azul (Campus), que todo mercado tem o seu Oceano Azul, em que a empresa navega tranquila, aproveitando a maré pouco explorada, mas há também aquele Oceano Vermelho, sangrento, em que há uma concorrência tão grande e onde tubarões estão sempre à espreita para comer os peixes menores. Dênya conta que no mercado latino-americano também há esses dois tipos de situação: “Existe um espaço para livros para crianças muito pequenas, em idade pré-escolar. Existe muita concorrência entre 8 e 11 anos e depois existe um espaço para livros voltados para crianças depois dos 12”.

Para o primeiro “Oceano Azul”, o das crianças em idade pré-escolar, a agente revela que há predominância de livros escritos em primeira pessoa e pouca concorrência com aqueles livros que são só ilustrados, sem texto. “O Brasil já está à frente há muito tempo com livros sem textos. Em países como a Espanha não se publica muito esse tipo de livro e hoje existe uma demanda muito grande por eles”, conta. Já para o segundo “Oceano Azul”, o de livros para jovens a partir de 12 anos, Dênya conta que livros informativos e de temáticas sobre relacionamento, drogas, família saem à frente. “O boom hoje nesse segmento é vivido pelos livros informativos que falam sobre profissões e também livros de ação, relacionamentos e drogas, por exemplo. Houve uma mudança na visão dos especialistas nos ministérios. Antes, quando a linguagem já passava a tratar dos problemas pessoais dos jovens, eles não queriam comprar. Hoje não”, comentou.

Além disso, Dênya aponta que livros com textos e ilustrações com temáticas universais são mais bem-aceitos. “Autores que já tem um reconhecimento no mercado externo já entram com uma chance maior, mas eles também estão valorizando muito novos autores e novos ilustradores”, conclui a agente.

A consultora conta ainda que o livro brasileiro tem conquistado espaços nesse mercado e já preocupa alguns concorrentes internacionais. Para ilustrar isso, ela cita a última licitação mexicana. Foram inscritos 10 mil títulos e desse universo, foram selecionados 256. Somente três editoras não mexicanas e não espanholas ficaram entre os selecionados. Uma delas era brasileira.

Hoje, além da Global e da Melhoramentos, Dênya atende: Callis, Aletria, Abacatte, Migulim e Sesi SP.

Dênya concedeu uma entrevista ao podcast do PublishNews que, por conta do feriado, vai ao ar excepcionalmente na próxima quarta-feira.

Dênya e Ziraldo em seu estúdio em São Paulo
Dênya e Ziraldo em seu estúdio em São Paulo

A consultora de negócios internacionais com Roger Mello em Bolonha
A consultora de negócios internacionais com Roger Mello em Bolonha

Dênya e Marina Colasanti em Guadalajara
Dênya e Marina Colasanti em Guadalajara

[27/04/2018 10:47:00]