O caos na venda dos livros
PublishNews, Paulo Tedesco, 08/03/2017
Paulo Tedesco fala sobre as recentes notícias do mercado editorial e o impacto na venda de livros

Uma notícia negativa impacta o mercado não somente porque estamos numa clara crise econômica, com estagflação e uma profunda instabilidade política – além de uma transição no formato de se consumir conteúdo escrito –, mas quando a especulação sobre a saída de uma empresa livreira multinacional, como a FNAC, do Brasil, vem se somar a outras notícias não menos intensas do mundo editorial.

A notícia da recente aquisição do distribuidor livreiro Techmed-Superpedido, pela Bookpartners, mostra que um fortíssimo, e bem posicionado, grande agente de distribuição no país surge para centralizar ainda mais o setor. Mas talvez a mais importante das notícias, seja a fofoca de que o Grupo Saraiva e a Rede Cultura de Livrarias ensaiam uma inédita fusão para redesenhar o último bastião de vendas diretas de livros do Brasil: o das grandes lojas de Shopping Center.

E o que pode vir a explicar todos esses movimentos de empresas no segmento, é também a chegada ao mercado de livros em papel da poderosa Amazon. Seus movimentos de abrir lojas físicas nos EUA e o de redirecionar sutilmente seu KDP igualmente para a impressão de livros em papel trazem mais um importante significado para todo o mercado editorial brasileiro e mundial.

Embora saibamos, paradoxalmente, da recente reaparição do modelo de varejo de livros de pequenas e médias livrarias em alguns países ricos, enquanto, no Brasil, as livrarias pequenas e médias cerram portas quase todos os dias; não menos curiosamente, a venda de exemplares porta-a-porta e a distância vem a algum tempo, se mostrando robustas e, tudo indica, só crescem.

Pois não faz muito a Saraiva, como a Cultura, seguindo a Rede FNAC, excluíram muitos dos autores independentes e das pequenas e médias editoras de suas vendas, ao limitarem seus espaços e estantes somente a uma pequena gama de parceiros editoriais. Servindo, assim, como prenúncio dessa crise que marca o início do ano de 2017.

Se quem vende livros precisa saber de livros e precisa saber do cliente-leitor, e igualmente saber que o livro não se equipara a produto algum, que é singular e que exige cuidado e carinho em todas suas possibilidades, para essas empresas e seus comandantes, nitidamente, esse assunto não teve muito valor, afinal lutavam, acima de qualquer coisa, única e exclusivamente por seu faturamento.

Mas uma coisa parece ter restado por certeza: o modelo de livraria onde a venda de livros, sem a intermediação especializada e sem um componente maior para fazer um consumidor se aproximar das estantes, acabou.

E aqui vai uma aposta: a seguir este quadro, a Amazon em breve terá loja aqui pelo Brasil, e possivelmente terá espaço para o autor independente, bem como para o pequeno editor. E se essa gigante multinacional, do mundo das vendas a distância e dos livros, resolver agredir só um pouquinho mais do habitual, talvez eu tenha que escrever um novo artigo, desta vez falando do desaparecimento do mercado editorial de grande capital brasileiro como um todo...

[08/03/2017 09:45:00]