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Estimada em 0,23 por cento a participação de e-books no mercado brasileiro em 2012
Publishnews, Carlo Carrenho, 01/08/2013
Carlo Carrenho analise os números da pesquisa FIPE e revisita suas estimativas das vendas de e-books em 2012.

A Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro referente a 2012 e divulgada essa semana pela Câmara Brasileira do Livro e Sindicato Nacional dos Editores de Livros traz dados interessantes sobre o incipiente mercado do livro digital brasileiro no ano passado. É a segunda vez que a pesquisa coleta dados do mercado de eBooks, mas em 2011 o mercado era tão infinitesimal que os números não diziam muita coisa. Além disso, nesta nova pesquisa, mais dados foram coletados como, por exemplo, o número de e-books vendidos.

[Para saber mais sobre o desempenho dos livros físicos no mercado brasileiro em 2012, leia as matérias "Indústria editorial tem pior queda de faturamento desde 2002" e "Segmento de Obras Gerais apresenta crescimento real em 2012".]

Mas vamos aos dados. Segundo o estudo, as 197 editoras pesquisadas pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) faturaram R$3,85 milhões de vendas de e-books e aplicativos de conteúdo em 2012. Em número de "exemplares" vendidos, a pesquisa aponta que foram vendidos 235.315 unidades. Antes de continuarmos, uma ressalva: como não há série histórica dos livros digitais, os pesquisadores da FIPE não se aventuraram a extrapolar a amostra e inferir números relativos ao universo, i.e. ao mercado inteiro, como fazem com os livros físicos. Portanto, estes números são exatamente o que foi apurado na amostra.

Abaixo os gráficos de faturamento e unidades vendidas com as divisões por subsetor da indústria:

Se comparado com os números de 2011, o crescimento do faturamento foi de 343,44%, uma vez que a pesquisa apontou um faturamento de R$868 mil em 2011. Na prática, este número pouco significa, pois o mercado era tão ínfimo em 2011 e a pesquisa digital tão nova, que os números deste ano devem ser vistos sempre com um certo ceticismo, apesar do esforço da FIPE.

A primeira coisa que quis fazer ao receber a pesquisa foi comparar seus achados com a estimativa que fiz na coluna "E-books responderão por 2,63% do mercado em 2013" para o mercado em 2012. Chamar de estimativa talvez seja até um exagero, pois eu tinha pouquíssimos dados. Eram apenas declarações de um dos diretores da distribuidora DLD publicadas em O Estado de S.Paulo pela competente jornalista Maria Fernanda Rodrigues. Ainda assim, arrisquei calcular uma curva de crescimento e apontar que no ano passado a venda de unidades de e-books ficaram em 632.546 e equivaleram a 0,47% das vendas dos livros nos setores de CTP e Obras Gerais (Trade). Na época, optei por considerar a soma destes dois segmentos como base e tive que usar os números de 2011 para estimar seu tamanho, pois os dados de 2012 ainda não estavam disponíveis. "No caso do mercado digital, não faria sentido considerar nem didáticos e nem religiosos, cuja participação ainda é irrelevante. Já CTP é um setor que começa a encontrar representatividade, até porque a Editora Saraiva possui o maior catálogo digital no Brasil", explico na coluna.

E como fica esse número se utilizarmos os dados da pesquisa CBL/SNEL de 2012? O total de e-books vendidos dos segmentos CTP e Obras Gerais pelas 197 editoras pesquisadas em 2012 foi 179.375. E o total de exemplares físicos vendidos pelo setor foi de 144.400.213. O problema é que não podemos comparar o total físico, extrapolado, com o total digital, que é apenas uma amostra. Não existe nenhuma saída muito digna aqui. A solução menos pior seria utilizar a participação da amostra da pesquisa no universo de livros físicos para se inferir o mercado. Tal participação é de 54% e o resultado inferido seria de 332.176 exemplares. Tal número de exemplares vendidos significaria então uma participação digital de 0,23% em 2012.

Acredito que este número esteja de fato mais próximo da realidade de 2012. E digo isso baseado em outros números aos quais tive acesso ao longo do ano depois de publicar aquela coluna em janeiro. Basicamente, ao calcular a curva de vendas, limitado pelos poucos dados à disposição, eu considerei um crescimento de vendas deu grandes saltos em outubro (com a entrada da Apple no mercado) e em dezembro (com a entrada da Kobo, Amazon e Google), fazendo com que a curva ficasse em uma posição inferior e que a quantidade vendida em 2012 fosse quase 50% menor.

Aqui está a curva original, calculada em janeiro de 2012:

E aqui está uma curva reajustada e mais compatível com os dados da CBL e com números aos quais tive acesso recentemente:

Resta saber como fica então minha previsão de que terminamos 2013 com 2,63% de participação dos e-books no total de livros vendidos nos segmentos de CTP e Obras Gerais. E apesar deste reajuste que tive que fazer para 2012, os dados que tenho tido acesso ao longo dos últimos meses têm confirmado minha previsão e não há razão para rever este número por enquanto. Continuo apostando que terminamos o ano com mais de 3 milhões de e-books vendidos. E, sim, isto é quase 10 vezes mais que as vendas do ano passado.

No exterior, as estatísticas publicadas de participação do mercado digital via de regra se referem ao faturamento - não unidades vendidas - do segmento de obras gerais (trade). E os números da CBL/SNEL deste ano permitem um cálculo com as mesmas premissas. Segundo o estudo, as 197 editoras pesquisadas faturaram R$1,8 milhão em e-books no ano passado no segmento de obras gerais. Se usarmos a relação amostra/universo para inferirmos o mercado total (e eu sei que estou usando uma bela licença poético-estatística aqui; sorry FIPE) chegamos a uma venda de R$3,35 milhões, o que equivaleria a 0,29% do faturamento total do segmento de Obras Gerais. Algo ainda muito longe das participações acima de 25% nos EUA e por volta de 12% no Reino Unido.

Mas vale lembrar que a brincadeira por aqui só começou de verdade em outubro, quando a Apple começou a vender livros digitais brasileiros, e só ganhou força máxima no Dia D, 5 de dezembro de 2012, quando Amazon, Google e Kobo chegaram juntas ao Brasil.

Finalmente, uma última observação. O preço médio do livro digital de Obras Gerais em 2012 foi de R$13,90, em valores recebidos pelas editoras. No mercado físico, sem vendas para o governo, o preço médio foi de R$8,94. Se considerarmos descontos médios praticados pelas editoras de 50% no físico e 40% no digital, podemos inferir que os preços médios de capa digitais e físicos ao consumidor sejam respectivamente, R$23,17 e R$17,88. Ainda que os valores do preço médio não possam ser usados como índice de preços, uma vez que o próprio livro médio varia em formato e tamanho de ano para ano e nos segmentos físico e digital, chama a atenção o preço médio superior das edições digitais. Estes dados merecem um estudo mais aprofundado.

Carlo Carrenho é o fundador do PublishNews no Brasil e co-fundador do PublishNews na Espanha. Formado em Economia pela FEA-USP, especializou-se em Edição de Livros e Revistas no Radcliffe Publishing Course, em Cambridge (EUA). Atualmente trabalha na área de desenvolvimento internacional de novos negócios para a Word Audio Publishing International na Suécia e é advisor da Meta Brasil e da BR75 no Brasil. Como especialista no mercado de livros, já foi convidado para dar palestras e participar de mesas em países como EUA, Alemanha, China, África do Sul, Inglaterra e Emirados Árabes, entre outros. É co-curador da conferência profissional Feira do Livro de Tessalônica.

Carlo é paulista, morou no Rio, e atualmente vive em Estocolmo, na Suécia. É cristão, mas estudou em escola judaica. É brasileiro, mas ama a Escandinávia. Enfim, sua vida tende à contradição. Talvez por isso ele torça para o Flamengo e adore o seriado Blue Bloods.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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