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Ferramentas de mudança
PublishNews, 25/10/2012
No TOC de Frankfurt, menos euforia e mais EBITDA

No espaço de uma semana percorri um arco que saiu do Platinum Ballroom do Marriot de Frankfurt e chegou no sobrado do seu Eraldo, no Morro da Conceição, Rio de Janeiro. Entre um gole de Paulaner Hefeweißbier tépida e de uma Itaipava gelada, vivenciei discussões sobre o livro, em níveis discrepantes — de orçamento e de paixão.

O TOC (Tools of Change) de Frankfurt atraiu de editoras estabelecidas a startups quixotescas, todas querendo se manter a par e à frente das irriquietas mudanças tecnológicas na área da publicação. Se ainda persiste a noção de que passamos por uma revolução, que pode pôr por terra os Golias da edição tradicional e coroar os Davis digitais, essa noção já não causa tanta angústia (nos primeiros) e frisson (nos segundos). Ao fim das 30 apresentações (ou das que consegui assistir), o sentimento geral já não era “como faço para virar uma nova Amazon?” — mas sim “como faço para ter uma relação economicamente saudável com a Amazon?”.

Assim, uma das apresentações mais concorridas (e interessantes) foi a que tratou de “quanto podemos cobrar das pessoas pelos e-books?”. Por mais farisaica que seja a pergunta, o debate, conduzido por Edward Nawotka, gerou uma reflexão sadia sobre o papel do editor em levar o conteúdo ao leitor (papel que foi tão vilipendiado, por mim inclusive). Do lado menos “empresarial” e mais “aventureiro”, foi revigorante ver novas ideias apontando novos caminhos para o povo que vive do livro. Na mesa, revezaram-se a Pubslush (uma forma inteligente de conectar autores a leitores pelo crowdfunding), a & Other Stories (uma proposta ao mesmo tempo inovadora e “pura” de editora em tempos digitais, sobre a qual falarei adiante) e a Unglue.it (uma tentativa capitalista-libertária de “descolar” livros, que me pareceu mais um ideal que uma ideia).

Podem-se traçar algumas tendências, a partir da sinfonia de palestras e do zumzum dos coffee breaks. Uma certa síndrome de Estocolmo (amor e ódio) dos editores em relação à Apple e à Amazon; a sensação de que a margem de mercado de e-books vai deixar para trás a euforia e alcançar um platô, ou crescer vegetativamente; uma certa corrida para ver quem coloniza digitalmente os mercados emergentes, tanto os filés como o Brasil quanto a periferia remota; e — no que me pareceu o assunto e negócio mais promissor — a administração de bibliotecas digitais pessoais ultra-loja. Em outras palavras: a possibilidade do leitor consolidar, em uma única biblioteca virtual, todos os seus livros, tenham sido eles comprados na Apple, Amazon, Kobo ou na papelaria da esquina (ou mesmo pirateados). Isso, é claro, vai contra cada uma dessas empresas, e depende da abolição da algema do DRM (que mantém cada livro aferrado a uma plataforma ou aparelho). A Apple fez isso com o iTunes Match, pareando todos as músicas do usuário, mesmo as pirateadas, com ACCs cristalinos. Porém isso é privilégio de quem domina um mercado (o da música). No mercado do livro, onde há outros cachorros grandes como a Amazon, a Google e a Kobo, vai haver muito ranger de dentes. No entanto, a tendência, claramente verificável, de passar a considerar a leitura de um bem ou propriedade para um direito ou posse, vai criar, nos leitores, a demanda de um serviço consolidado. Se essa demanda do cliente vai ser atendida pela indústria, apesar dos peso-pesados, é algo a se conferir na próxima TOC.

A coluna está acabando e ainda não consegui falar da Feira de Frankfurt, dos planos do Brasil como homenageado em 2013, da tensão da chegada da Apple, Amazon, Google e Kobo no Brasil. Também não consegui falar sobre nenhuma das maravilhas do evento FIM DO LIVRO, que acabou no domingo — e este renderia uma saga, não uma coluna. Mas prometo colocar a conversa em dia semana que vem, antes da próxima aventura literária-digital, daqui a pouco, na ePorto Party da FLIPORTO.

Julio Silveira é editor, escritor e curador. Fundou a Casa da Palavra em 1996, dirigiu a Nova Fronteira/Agir e hoje dedica-se à Ímã Editorial, no Brasil, e à Motor Editorial, em Portugal. É atual curador do LER, Festival do Leitor.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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