Governo paulista censura lista de livros de projeto de leitura em presídios, aponta Folha
PublishNews, Redação, 12/02/2020
Órgão responsável pela gestão de programas sociais em presídios paulistas decidiu vetar títulos da lista que é composta por livros de nomes como Leonardo Padura, Albert Camus e Gabriel García Márquez

Para reduzir a pena, o preso precisa ler e resenhar livros | Site do Grupo Mulheres pelo Brasil
Para reduzir a pena, o preso precisa ler e resenhar livros | Site do Grupo Mulheres pelo Brasil
Em setembro de 2018, a Jnana Consultoria, o grupo Mulheres do Brasil, as editoras Boitempo, Planeta, Record e Todavia e o governo de São Paulo fecharam uma parceria para levar a dez penitenciárias do estado um projeto de leitura com o objetivo de remissão de pena. Na primeira fase do programa, 200 presos participaram lendo e resenhando livros. Conforme diz a legislação atual, cada livro lido pode diminuir a pena em quatro dias. Cada preso pode ler até 12 livros por ano, totalizando, portanto, redução de até 48 dias da sua condenação.

Em julho de 2019, o convênio foi renovado para mais uma fase do projeto e as quatro editoras doaram 240 exemplares para o programa que seria ampliado para alcançar 400 presos. No entanto, de acordo com a Folha, o governo paulista vetou uma lista de livros que seriam adotados pelo programa.

Janine Durand, articuladora do projeto, disse à Folha que, em uma reunião com a Fundação Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel (Funap), foi avisada que a lista havia sido riscada pelo coronel Henrique Pereira de Souza Neto, diretor-executivo do órgão vinculado ao estado que administra programas sociais em 175 estabelecimentos penais. “Depois falaram que o problema estava concentrado em três obras, mas não nos informaram em quais”, afirma. “Essa situação toda nos deixou estupefatos”, disse a articuladora à Folha.

A lista era composta por 12 títulos: As cartas que não chegaram, de Maurício Rosencof; Vá, coloque um vigia, de Harper Lee; Crônica de uma morte anunciada, de Gabriel Garcia Márquez; O estrangeiro, de Albert Camus; O fim de Eddy, de Édouard Louis; O amor que sinto agora, de Leila Ferreira; Bonsai, de Alejandro Zambra; Caderno de memórias coloniais, de Isabela Figueiredo; O quarto branco, de Gabriela Aguerre; Enquanto os dentes, de Carlos Eduardo Pereira; Cabo de guerra, de Ivone Benedetti, e Paisagem de outono, de Leonardo Padura.

Janine relata que, depois dessa reunião, encaminhou à Funap justificativas para cada uma das escolhas. Em resposta, Reginaldo Caetano da Silva, superintendente da diretoria de atendimento e promoção humana da Funap, afirmou que havia sido indicado “um título que, diante das novas propostas da gestão atual, não atende ao que se espera para a população atendida pela Funap”. Segundo o jornal, ele não revela no e-mail qual é a obra censurada. À Folha, o governo se manifestou por nota dizendo que não houve censura ou veto e que não faz juízo dos livros escolhidos. O documento enviado à Folha diz ainda que "faz um rodízio de títulos e é possível que os livros sugeridos entrem futuramente para remição pela leitura".

[12/02/2020 08:00:00]