Marana Borges escreve ficção, poesia, ensaio e notícia – e gosta de misturar esses gêneros. Doutorou-se pela Universidade de Lisboa com uma tese sobre Marcel Proust. Foi pesquisadora bolsista no Centro de Estudos Comparatistas de Lisboa e no Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS) de Paris. É autora de Mobiliário para uma fuga em março (Dublinense) - livro vencedor do Prêmio Minas Gerais de Literatura e indicado ao Prêmio Oceanos - e acaba de lançar seu segundo romance, Dentro de tudo, a noite (Reformatório). A trama acompanha uma família depois da crise econômica que assolou as fazendas de café no interior paulista. No livro, debatem-se temas como a perda da inocência da infância e as heranças da colonização.
O PublishNews perguntou a Marana Borges o que ela está lendo, e esta foi a resposta:
"Estou lendo Nós matamos o cão tinhoso! (Kapulana), do moçambicano Luís Bernardo Honwana, publicado em 1964, quando Moçambique ainda era colônia portuguesa. É uma antologia de contos excepcionalmente bem escritos, com concisão, força e enredos fortes, muitos deles contados pelo olhar de crianças. Todos trazem a violência como motor – violência construída e sustentada pela colonização portuguesa. De um grupo de meninos que esfola um cachorro a um lavrador que passa horas sob o sol, faminto, e só ousa levantar a cabeça quando o capataz permite, há uma energia latente que o leitor sabe bem nomear (indignação), mas que nunca se transforma em ação contra o opressor. Honwana, que na época era militante da FRELIMO (Frente pela Libertação de Moçambique), nos mostra a crueldade do sistema colonial, mas também deixa ver a única via possível para romper o ciclo de violência: a rebeldia dos povos colonizados."
Nós matamos o Cão Tinhoso!
Autor: Luís Bernardo Honwana
Editora: Kapulana
Série Vozes da África
148 pp | R$ 44,90
