É comum que pesquisas setoriais da indústria do livro sejam apresentadas buscando-se um viés positivo nos dados. Tradicionalmente, o setor evita falar em dificuldades e prefere comemorar as vitórias, mesmo em tempos de vacas magras, quando as dificuldades são muito maiores que os êxitos. Mas não foi isso que se viu na última quarta-feira (1º), quando o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) apresentou, em sua sede no Rio de Janeiro, o Painel das Vendas de Livros no Brasil, que é um relatório produzido em parceria com Nielsen e que tem como base o resultado do BookScan Brasil, ferramenta da empresa que apura as vendas das principais livrarias e supermercados brasileiros.
Nos números revelados neste primeiro relatório, foram comparados os três primeiros períodos de 2015 com os três primeiros períodos de 2014 – períodos, para a Nielsen, são a soma de quatro semanas, e não um mês de 30 ou 31 dias. A grosso modo, portanto, se comparou o primeiro trimestre deste ano com o primeiro trimestre do ano passado, observando-se que a venda de livros em livrarias registrou um crescimento de 1,65% em faturamento e 3% em número de exemplares. O crescimento, no entanto, ficou bem abaixo da inflação anual, que alcançou 6,41% em 2014 segundo o IPCA. A queda de faturamento real foi abordada abertamente por Marcos Pereira, presidente do SNEL, enquanto apresentava a pesquisa ao lado de Ismael Borges, representante da Nielsen e já conhecido como Mr. Bookscan no Brasil. “Se consideramos a inflação, talvez tenhamos até tido uma queda”, comentou comedidamente Ismael. “Talvez, não! Tivemos queda sim!”, retrucou Marcos para deixar claro que a ideia é apresentar tudo com a maior transparência. “Não estamos aqui para trazer boas ou más notícias, mas para trazer notícias”, comentou o presidente. De fato, se aplicarmos o IPCA de 2014, a queda de faturamento real seria de 4,47%.
Marcos e Ismael também deixaram bem claro que o aumento do número de exemplares se deu em grande parte pelo sucesso de vendas da biografia de Edir Macedo em janeiro deste ano. Eles até dedicaram um slide da apresentação à participação do livro nas vendas. E, de fato, apenas na lista do PublishNews, que cobre o mercado parcialmente, o volume 3 de Nada a Perder (Planeta, 304 pp., R$ 37,90) vendeu nada menos que 296.454 exemplares. Esta questão foi, por sinal, levantada no próprio dia da apresentação pela jornalista petropolitana Raquel Cozer em matéria da Folha de São Paulo.
Apesar dos resultados negativos, Marcos Pereira viu os números com otimismo. “Diante das informações negativas que pautaram o primeiro trimestre da economia brasileira, o fato de que houve algum crescimento foi uma grata surpresa”, afirmou.
Outros dados interessantes do Painel das Vendas de Livros ao comparar os primeiros trimestres de 2014 e 2015 são os seguintes:
- O número de ISBNs comercializados passou de 135.832 para 150.740
- O preço médio caiu 1,3%, de R$ 42,47 para R$ 41,92
- O desconto médio caiu de 20,40% para 17,23%
- A participação dos livros top 500 no faturamento caiu de 35,46% para 33,16%
Em um mercado carente de boas estatísticas, a parceria do SNEL com a Nielsen merece aplausos do mercado. Especialmente se considerada a transparência com que ambas as entidades parecem dispostas a apresentar e discutir os dados. Marcos Pereira resumiu bem a importância do Painel de Vendas do Livro: “Nesse momento, a contribuição do SNEL para o desenvolvimento do setor se traduz na democratização de informações precisas, constantes e atualizadas que talvez não fossem acessíveis a todos. Trata-se de um instrumento poderoso de transformação na medida em que essas informações se tornam estratégicas para o empreendedor. O fortalecimento de cada elo da cadeia produtiva do livro só pode beneficiar o setor como um todo.”
O SNEL divulgará o Painel das Vendas de Livros no Brasil gratuitamente, a cada quatro semanas, na segunda-feira posterior ao fechamento do período aferido. O primeiro painel pode ser acessado aqui.
