As inúteis listas dos mais vendidos
Em sua coluna de estreia, Paulo Tedesco questiona a "utilidade" das listas de mais vendidos

Autores bancando seu próprio trabalho e vendendo para pagar suas contas não é nada novo, nem um pouco. Para a poesia, o melhor dos gêneros literários e o mais malvisto no comércio dos livros, autopublicar-se é quase regra. O que é novo, e isso vem sendo ignorado pela maioria das modernas pesquisas editoriais de produção e venda de livros, é o volume que o tal de self-publishing, nossa autopublicação, vem alcançando.

Com um pouco da lógica podemos rapidamente dimensionar o tamanho das autopublicações brasileiras. Para as impressões em papel, se tomarmos o número de gráficas em offset e digitais espalhadas pelo país e a isso somar as novas possibilidades de impressão e acabamento, o número de exemplares impressos e a diversidade de títulos pode derrubar muita lista de mais vendidos e mais famosos.

O pipocar de empresas editoriais, dedicadas quase que exclusivamente ao serviço de autopublicação segue também nesse esteio, chegando, inclusive, a dispensar a necessidade de distribuir seus livros em livrarias e distribuidoras. Seus clientes-autores tranquilamente podem dar conta dessa parte, sem qualquer constrangimento.

E se falarmos na apresentação digital? Nos tais "e-books"? Aí degringola de vez, como dizemos aqui no sul. A infinidade de opções, somente na versão digital, já não pode ser mais quantificada pela Amazon ou sequer outra grande. Novas opções estão surgindo, e muito melhores, para ligar diretamente o autor à venda no formato inteiramente digital.

A fórmula antiga do mercado, de influenciar e investir em poucos jornais mais alguns canais de TV, ou, em conjunto com esses - por exemplo, quando da aquisição de direitos de transmissão desse ou daquele filme - caminha para uma versão marginal e anti-cultural. E a maior prova é a declarada busca de editoras, como a Companhia das Letras, por blogueiros e opinadores digitais para analisarem e comentarem seus livros nas redes.

Distintas e curiosas ferramentas de crítica literária e incentivo à leitura vêm também grassando na rede digital. Sítios eletrônicos, que numa simples pesquisa aparecem em destaque, trazem uma miríade de possibilidades de avaliação e interação com diversos títulos e autores que talvez jamais aparecerão em pesquisas encomendadas pelo mercado.

Um pouco de fama nunca é ruim, claro, estamos, pois, na sociedade pós-moderna adoradora de fama e simulacros. Mas se a fama não vem pelos canais tradicionais e mesmo assim o autor começa a ver retorno de leitura e financeiro, e numa velocidade maior do que os antigos canais editoriais, por que então se preocupar com as listas dos mais vendidos e pesquisas editoriais?

Por óbvio, precisamos ainda dos editores, como parceiros essenciais para melhor realizar as publicações uma opinião editorial resolve muita obra capenga. Mas a poesia agora pode fluir, pode ser lida como nunca antes, bem como os escritores dito marginais, podem dispensar a ultrapassada e seletiva indústria de até bem pouco. Esse, talvez, o benefício maior para a humanidade do self-publishing: a liberdade poética e cultural.

[22/10/2015 05:34:39]