
A obra reúne um mosaico visual da história latino-americana, percorrendo séculos de contrastes: da violência da colonização e da escravidão às sucessivas revoluções e disputas de poder. As imagens captam momentos decisivos — das independências do século 19 às convulsões políticas do século 20, passando pelo populismo nacionalista e pelos movimentos de libertação pela democracia.
“É fundamental pensar a América Latina em termos de história comparada e global, em diálogo constante com outras regiões do mundo”, ressalta Paranaguá, em release distribuído à imprensa.
O livro também ilumina os bastidores da fotografia no continente, de pioneiros como Marc Ferrez (1843–1923) e Augusto Malta (1864–1957) a nomes que registraram a ebulição política e cultural do século 20, como Horacio Coppola (1906–2012), Lola Álvarez Bravo (1903–1993), Martin Chambi (1891–1973), Evandro Teixeira (1935–2024), Alberto Korda (1928–2001) e Susan Meiselas, a única que permanece viva, aos 77 anos.
Entre os ícones registrados estão Pancho Villa (1878–1923) e Emiliano Zapata (1879–1919) no palácio presidencial, o retrato multiplicado de Che Guevara (1928–1967) e as imagens recorrentes de Evita Perón (1919–1952), além de cenas de insurgências, golpes de Estado e manifestações artísticas que moldaram identidades nacionais.

Mais que registro histórico, a obra propõe uma leitura crítica da fotografia e de seus usos: do eurocentrismo da etnografia colonial às representações da diversidade latino-americana e caribenha. Também aparecem dilemas contemporâneos, como a violência urbana, o poder paralelo do narcotráfico, as tensões religiosas e as lutas feministas - como ilustra esta imagem ao lado, da fotógrafa Kena Lorenzini, feita em 1986, em Santiago, no Chile -, e LGBT+.
Carioca radicado na França
Nascido no Rio de Janeiro em 1948, Paulo Antonio Paranaguá vive na França desde os anos 1970. Jornalista e pesquisador, foi correspondente do Jornal do Brasil, crítico de cinema da Positif, jornalista da Rádio França Internacional e do Le Monde. Doutor em História da Arte pela Sorbonne, foi curador do Centro Georges Pompidou e de mostras na França. É autor de títulos como Cinema na América Latina: longe de Deus e perto de Hollywood (L&PM, 1985), A invenção do cinema brasileiro (Casa da Palavra, 2014) e Trópico de Paris (2024). É primo da renomada fotógrafa Kitty Paranaguá.