
Alex deu recentemente uma entrevista sobre Tudo para amar você (narrativa young adult lançada em agosto último pela Pé de Palavra) na Rádio Senado, em Brasília. A conversa, veiculada no Autores e Livros, programa de Anderson Mendanha, foi transformada em dica literária nas redes sociais do Senado Federal neste domingo, e, para surpresa do autor – já com 17 livros publicados, alguns, de temática LGTBQIAPN+, como Meu nome é Laura, sobre uma mulher trans –, a postagem atraiu toda a sorte de comentários preconceituosos.
Jane Catulle Mendés flanou pelas paisagens cariocas em 1911 e publicou La ville merveilleuse na Paris de 1913, reunindo 33 poemas apaixonados pela urbe que liga praias e montanhas e é destino turístico badalado. Há exemplares da obra na Biblioteca Nacional da França e na Biblioteca Pública de Nova York, por exemplo. Para o poeta e ensaísta Alexei Bueno, o título – que, em 1935, inspirou André Filho na criação da marchinha de Carnaval que fez a expressão cair na boca do povo – veio do italiano Edmundo De Amicis (1846-1908), em artigo publicado em 1902, no suplemento La Lettura, do jornal milanês Carriere della Sera.
Rafael fez um vídeo em suas redes defendendo Jane e a criatividade de seu livro de poesia. “Quem atribuiu a primazia da expressão Cidade Maravilhosa à madame Catulle Mendès não foi o Rafael Sento Sé, mas Olavo Bilac, João do Rio, Onestaldo de Pennafort, Júlia Lopes de Almeida e tantos outros pares em seu tempo. Sinal de que o uso da expressão pelo italiano Edmondo de Amices, que a menciona numa entrevista corriqueira em 1902, numa época em que não existiam as facilidades digitais de hoje, foi completamente ignorada”, contextualiza ele.
Temática LGTBQIAPN+
Alex Andrade pensou em responder em vídeo aos ataques que sofreu, mas optou por não colocar mais lenha na fogueira. “No fundo essas pessoas ficam curiosas para ler o livro. Os comentários são horrorosos, na linha do ‘vamos queimar os livros', ‘não chegue perto do meu filho’ e ‘tirem as crianças da sala'. Alguém inventou que sou parente de um nomão do Senado, o que não é verdade, e que não é possível que o governo apoie uma barbárie dessas", comenta Alex.
A barbárie: uma história de amor entre dois jovens que estão descobrindo a sexualidade. Ou seja, todos os adultos já passaram por essa fase, e todas as crianças que tiverem a sorte de chegar à vida adulta vão enfrentar o mesmo questionamento um dia, na hora certa. O livro pretende estender a mão aos jovens que se identificarem com o conflito proposto. Alex escreveu a obra a partir da sua observação do mundo e também de seus próprios conflitos.
Rafael acredita que “quem estuda seriamente os fenômenos culturais sabe que a invenção de um modismo se deve a inúmeros fatores, especialmente, quem falou, para quem falou e a intenção com a qual se falou. Madame Catulle Mendès se colocou como porta-voz do Rio de Janeiro e do Brasil por uma razão muito simples: a paixão que aquela cidade e seus anfitriões despertaram nela”.
Depois do lançamento, em 1913, ela foi anfitriã de eventos para a comunidade franco-brasileira em Paris, com destaque para um banquete em homenagem a Júlia Lopes de Almeida. “Respeito a pesquisa mencionada na nota publicada, mas ela é irrelevante para quem quiser entender a gênese do epíteto que consagrou o Rio de Janeiro. Quem tiver interesse em lê-la e depois ler o meu livro, vai entender o que estou falando”, encerra a discussão, no vídeo e na nota do Ancelmo, o autor.