Autores são alvos de contestação de uma pesquisa feita em dez anos e de haters
PublishNews, Monica Ramalho, 29/09/2025
Rafael Sento Sé está em vias de lançar biografia da criadora do epíteto Cidade Maravilhosa e Alex Andrade é atacado nas redes sociais do Senado Federal por narrativa gay

Os autores Alex Andrade e Rafael Sento Sé © Selfie e Monica Ramalho
Os autores Alex Andrade e Rafael Sento Sé © Selfie e Monica Ramalho
Dois autores foram surpreendidos pela contestação de uma pesquisa que levou dez anos e pelo ataques de haters neste fim de semana de sol no Rio de Janeiro: o jornalista Rafael Sento Sé e o educador Alex Andrade. Rafael amanheceu no sábado com uma nota na coluna do Ancelmo Gois, no jornal O Globo, que refuta a autoria do epíteto Cidade Maravilhosa atribuída à Jane Catulle Mendès (1867-1955), personagem sobre a qual se debruça há dez anos e protagonista da biografia A poeta da Cidade Maravilhosa, que Rafael está em vias de lançar pela Autêntica.

Alex deu recentemente uma entrevista sobre Tudo para amar você (narrativa young adult lançada em agosto último pela Pé de Palavra) na Rádio Senado, em Brasília. A conversa, veiculada no Autores e Livros, programa de Anderson Mendanha, foi transformada em dica literária nas redes sociais do Senado Federal neste domingo, e, para surpresa do autor – já com 17 livros publicados, alguns, de temática LGTBQIAPN+, como Meu nome é Laura, sobre uma mulher trans –, a postagem atraiu toda a sorte de comentários preconceituosos.

Jane Catulle Mendés flanou pelas paisagens cariocas em 1911 e publicou La ville merveilleuse na Paris de 1913, reunindo 33 poemas apaixonados pela urbe que liga praias e montanhas e é destino turístico badalado. Há exemplares da obra na Biblioteca Nacional da França e na Biblioteca Pública de Nova York, por exemplo. Para o poeta e ensaísta Alexei Bueno, o título – que, em 1935, inspirou André Filho na criação da marchinha de Carnaval que fez a expressão cair na boca do povo – veio do italiano Edmundo De Amicis (1846-1908), em artigo publicado em 1902, no suplemento La Lettura, do jornal milanês Carriere della Sera.

Rafael fez um vídeo em suas redes defendendo Jane e a criatividade de seu livro de poesia. “Quem atribuiu a primazia da expressão Cidade Maravilhosa à madame Catulle Mendès não foi o Rafael Sento Sé, mas Olavo Bilac, João do Rio, Onestaldo de Pennafort, Júlia Lopes de Almeida e tantos outros pares em seu tempo. Sinal de que o uso da expressão pelo italiano Edmondo de Amices, que a menciona numa entrevista corriqueira em 1902, numa época em que não existiam as facilidades digitais de hoje, foi completamente ignorada”, contextualiza ele.

Temática LGTBQIAPN+

Alex Andrade pensou em responder em vídeo aos ataques que sofreu, mas optou por não colocar mais lenha na fogueira. “No fundo essas pessoas ficam curiosas para ler o livro. Os comentários são horrorosos, na linha do ‘vamos queimar os livros', ‘não chegue perto do meu filho’ e ‘tirem as crianças da sala'. Alguém inventou que sou parente de um nomão do Senado, o que não é verdade, e que não é possível que o governo apoie uma barbárie dessas", comenta Alex.

A barbárie: uma história de amor entre dois jovens que estão descobrindo a sexualidade. Ou seja, todos os adultos já passaram por essa fase, e todas as crianças que tiverem a sorte de chegar à vida adulta vão enfrentar o mesmo questionamento um dia, na hora certa. O livro pretende estender a mão aos jovens que se identificarem com o conflito proposto. Alex escreveu a obra a partir da sua observação do mundo e também de seus próprios conflitos.

Rafael acredita que “quem estuda seriamente os fenômenos culturais sabe que a invenção de um modismo se deve a inúmeros fatores, especialmente, quem falou, para quem falou e a intenção com a qual se falou. Madame Catulle Mendès se colocou como porta-voz do Rio de Janeiro e do Brasil por uma razão muito simples: a paixão que aquela cidade e seus anfitriões despertaram nela”.

Depois do lançamento, em 1913, ela foi anfitriã de eventos para a comunidade franco-brasileira em Paris, com destaque para um banquete em homenagem a Júlia Lopes de Almeida. “Respeito a pesquisa mencionada na nota publicada, mas ela é irrelevante para quem quiser entender a gênese do epíteto que consagrou o Rio de Janeiro. Quem tiver interesse em lê-la e depois ler o meu livro, vai entender o que estou falando”, encerra a discussão, no vídeo e na nota do Ancelmo, o autor.

[29/09/2025 10:50:32]