Desafio de leitura BibliON convida o leitor a revisitar seu ano editorial
PublishNews, Redação, 20/12/2024
Último tema do ano é 'Será que algum lançamento passou batido em 2024?'; confira a seleção das obras

A BibliON – biblioteca digital gratuita de São Paulo – encerra 2024 com o desfecho de seu Desafio de Leitura, que ao longo do ano estimulou os participantes a explorarem diferentes temáticas literárias a cada mês. Desde histórias de resistência até clássicos nacionais, o projeto buscou ampliar o repertório dos leitores e incentivar o hábito da leitura com propostas acessíveis.

Para dezembro, o tema “Será que algum lançamento passou batido em 2024?” convida o público a revisitar o ano editorial, redescobrindo obras que podem ter ficado fora do radar. É uma oportunidade de dar visibilidade a livros menos comentados e de encerrar o desafio com a descoberta de novos títulos, reforçando o prazer de ler como um exercício contínuo de descobertas.

A lista dos selecionados para o mês tem obras como Lila (Cepe), de Gael Rodrigues; Querido estudante negro (Planeta), de Barbara Carine; A cortesia da casa (Record), de Martha Barcellos, entre outros.

Confira a lista completa:

Lila (Cepe), de Gael Rodrigues
Lila é uma irmã superprotetora que passou por uma perda trágica. Lila, ao mesmo tempo, é uma mulher que não pode ter filhos e passa a cuidar da casa de um homem que conheceu há pouco tempo. Enquanto passa por um sequestro, Caco lembra as histórias amedrontadoras que sua irmã, também chamada Lila, contava na infância. Lila é ainda a mulher que se muda para uma cidade com sua filha, fugindo do passado, mas termina encontrando uma amiga da adolescência. Nos textos deste livro, vencedor da categoria de contos do Prêmio Cepe Nacional de Literatura, existe uma unidade e uma progressão nas narrativas, como variações sobre um tema musical. Nomes, cidades e imagens se repetem ao longo das páginas escritas por Gael Rodrigues, sempre flertando com a ideia de uma mesma história apenas para traí-la. Talvez a grande unidade de Lila seja uma singular sensação de vertigem, ou seja, de que ser devorado pelo abismo da linguagem é inevitável.

Um ebó di boca y otros [silencios] (Peirópolis), de Tatiana Nascimento
Este décimo volume da Biblioteca Madrinha Lua traz Tatiana Nascimento, com sua mescla poderosa de ancestralidade, identidade e sabedoria. Nas palavras da prefaciadora, Kika Sena, "como um convite ao resgate das fundas e infindas memórias que nos compõem pessoas pretas daqui e de outras terras além-mar é que um ebó di boca y otros [silêncios] é preciosamente artesanado". Ou, como nos alerta a curadora desta coleção, a poesia dessa brasiliense "é uma aula de revolução, denúncia e insurgência". A Biblioteca Madrinha Lua pretende reunir poetas que nos aparecem pelas frestas do mercado editorial, pelas fendas do debate literário amplo, pelas escotilhas oxidadas, enquanto mergulhamos na literatura contemporânea. Já no final da vida, Henriqueta Lisboa, nossa poeta madrinha, se fazia uma pergunta dura, sem resposta previsível, em especial para as mulheres que escrevem: "Terá valido a pena a persistência?". Vamos juntas dando belas respostas.

Querido estudante negro (Planeta), de Barbara Carine
Mergulhe nessas histórias cruzadas e reencontre o estudante que mora em você! Baseado em situações vivenciadas pela escritora, pesquisadora e ativista Bárbara Carine, Querido estudante negro traz uma troca de cartas entre a protagonista e um amigo, o "querido estudante negro", que, como ela, é atravessado pelo racismo estrutural e recreativo tipicamente brasileiros. O livro acompanha a trajetória educacional dessa garota, desde a infância até a idade adulta, e todas as experiências que formaram a identidade dela, dentro e fora da sala de aula. São histórias repletas de tensões sociais e raciais que perpassam temáticas presentes no cotidiano de qualquer pessoa negra brasileira, independentemente de seu poder aquisitivo. Em nenhum momento chegamos a conhecer na íntegra as respostas do jovem a quem as cartas se destinam, mas o que se desenrola dessa interação coloca em xeque os discursos recorrentes sobre meritocracia e superação. Sem especificar os personagens ou os anos em que as narrativas se processam, o objetivo é abrir espaço para que qualquer estudante negro brasileiro possa se identificar; afinal, são escritos de uma alguém justamente por ser a narrativa de muitos. Este livro é um convite para compreender e reencontrar esse estudante que está aí em você, para acolher quem está se tornando e construir um caminho muito menos solitário nesse mundo.

A cortesia da casa (Record), de Martha Barcellos
Vencedora dos prêmios Sesc e Biblioteca Nacional na categoria Conto, Marta Barcellos estreia no romance com A cortesia da casa, trama ambientada em um spa de luxo da serra fluminense. A narrativa é delicada e as observações e incômodos da personagem se revelam gradativamente nos detalhes: os problemas com o marido, o filho, a nora e a amiga Lena, cuja rotina movimentada e boêmia ela acompanha em encontros ocasionais, e cujo interesse na vida de Denise esconde um segredo. Com um trabalho de ocultamento na linguagem e sem resvalar para a caricatura, A cortesia da casa se vale do ambiente artificial do spa para mostrar a crise de meia idade de uma mulher que subitamente se sente descartada - pelo marido Vicente, pelo filho Bruno, pelo mercado de trabalho – e começa a ter episódios de compulsão alimentar. O leitor acessa as brechas das narrativas que a personagem cria para si própria, e entrevê o desamparo e o vazio deixado pela falta dos homens de quem ela cuidou. Neste romance instigante, Marta Barcellos traz, com beleza, humor e ironia, um comentário sobre frivolidade e uma crítica de classe sutil e irônica sobre uma mulher em crise.

Boulder (Dublinense), de Eva Baltasar
Boulder é uma rocha em alto-mar. O trabalho na cozinha de um navio mercante é ideal para ela, afeita à solidão, vagando de porto em porto. Quando conhece Samsa, porém, é arrebatada por uma paixão que a faz retornar à terra firme e se entregar a uma vida conjugal que não estava nos planos. Até que surge na companheira a vontade de ser mãe, o que a transforma numa mulher bem diferente da que tinha conhecido. Boulder, na sua frieza, mergulha em sentimentos novos e na ambivalência entre o conforto do pertencimento e o desejo de fuga.

As árvores (Todavia), de Percival Everett
Money, no Mississippi, é uma cidade pequena e pacata (além de racista) no Sul dos Estados Unidos. A aparente tranquilidade da cidadezinha e de seus moradores é, de repente, abalada por uma série de assassinatos brutais e incompreensíveis. Em cada cena do crime, uma imagem se repete: um homem negro, que aparenta estar morto há anos, segura uma parte do corpo da suposta vítima. Considerado culpado pelo assassinato, o cadáver dele é levado para ser identificado, mas misteriosamente desaparece, até reaparecer no crime seguinte. O cadáver da história lembra Emmett Till, adolescente linchado em 1955, na mesma cidade de Money, num crime de racismo que se tornou um marco da luta por direitos civis nos EUA. Não por acaso, os mortos do romance são membros da família envolvida neste linchamento. Assim, dois detetives estaduais são enviados à cidade, mas encontram resistência da polícia local e, é claro, da população — a exemplo dos mortos, os moradores não são exatamente defensores da equidade racial. Enquanto as autoridades tentam juntar as peças dos assassinatos, crimes semelhantes começam a acontecer em todo o país. Até que os investigadores estaduais conhecem Mama Z, uma mulher de cento e cinco anos, que perdeu o pai em um linchamento racial impune e que, há décadas, mantém um arquivo de cada caso desse tipo de crime nos Estados Unidos. Um romance policial singular e revoltante.

Segurnat: O cavaleiro do dragão (Vestígio), de Emanuele Arioli
Superando os cavaleiros de sua época em força e bravura, Segurant vence todos os torneios de cavalaria que disputa, até ser enfeitiçado pelas fadas Morgana e Sibila, que o enviam numa incessante caçada a um dragão imaginário. As extraordinárias aventuras desse cavaleiro do Rei Artur permaneceram esquecidas por sete séculos até serem redescobertas por Emanuele Arioli, um jovem medievalista que vasculhou bibliotecas de toda a Europa e dos Estados Unidos em busca dos manuscritos remanescentes desse romance arturiano perdido. Após mais de uma década de pesquisa meticulosa, Arioli revela agora esse texto esquecido, adornado com iluminuras dos manuscritos originais, tornando-o acessível ao público pela primeira vez em setecentos anos.

A grande loja de sonhos (WMF), de Miye Lee
Se existissem lojas que vendessem sonhos, qual você compraria? Numa cidade misteriosa, a Grande Loja de Sonhos está, dia e noite, sempre lotada de humanos e animais. Cada seção é especializada em um tipo de sonho: memórias de infância, viagens e comidas deliciosas, amores perdidos, além de pesadelos e sonhos enigmáticos. Para Penny, a entusiasmada nova funcionária, trabalhar nessa loja é a oportunidade da sua vida. Ao descobrir o funcionamento desse mundo excêntrico, ela se une a personagens inesquecíveis, como DallerGut, o extravagante e sábio proprietário, Aganap Coco, uma diretora de sonhos premonitórios, e Maxim, um produtor de pesadelos, e a muitos clientes. Uma encantadora narrativa fantástica que celebra o poder dos sonhos, capaz de influenciar nossas escolhas, mesmo sem percebermos. Este é o primeiro volume de uma duologia best-seller traduzida em mais de 15 idiomas, para jovens e adultos exaustos com a realidade.

Ressuscitar mamutes (Autêntica Contemporânea), de Silvana Tavano
O tempo e a memória formam o eixo desta história narrada com os fios delicados da saudade, às vezes com os do arrependimento, em outras tantas com os da consciência tardia do que faz nascerem e se fortalecerem os laços familiares. No trajeto entre acontecimentos científicos do presente e projeções esperançosas para o futuro, a mulher madura que se revela como narradora deste romance repassa uma história familiar provavelmente comum a muitos de nós, enfrentando os conflitos, as tensões e os imensos afetos que se estabelecem entre as mulheres de um núcleo familiar em que o pai é uma figura lateral. Ressuscitar passados, inventar futuros: aqui, ciência e literatura viajam no tempo dos sonhos para chegar ao impossível.

Clube de leitura dos corações (Buzz), de Lucy Gilmore
A bibliotecária Sloane Parker vive uma vida invisível na pequena e pacata cidade onde mora. Ela não se considera solitária, mas aguarda ansiosamente pelo momento do dia em que o velho mesquinho Arthur McLachlan virá folhear livros pelas prateleiras e insultá-la alegremente — o embate entre eles torna-se o ponto alto do seu dia. Até que, certa manhã, Arthur não aparece na biblioteca. Sloane decide sair a sua procura apenas para descobri-lo acamado e desesperado em esconder o quão feliz está em vê-la. Querendo trazer mais alegria à vida sombria de Arthur, Sloane cria um clube de leitura improvisado. Aos poucos, pessoas bem diferentes entre si começam a frequentá-lo, encontrando nele a alegria de amizades improváveis. Acontece que todo mundo tem um livro especial em seu coração — e um motivo para se perder (e eventualmente se reencontrar) em meio às páginas.

Fup (Amarcod), de Jim Dodge
Fup, do escritor beat Jim Dodge, é uma joia da literatura indie que celebra a vida em uma narrativa divertida e inusitada. Fup é uma história sobre um avô bem excêntrico e viciado em álcool, seu neto obcecado por construir cercas, e uma pata. Vovô Jake era chegado a apostas e festas, já Miúdo era tranquilo. Só uma coisa tirava o rapaz do sério: o porco-selvagem Cerra-Dente, conhecido por destruir cercas. Um dia, ao arrumar os destroços que o bicho havia deixado, Miúdo encontrou no meio da lama, quase enterrado, um patinho - que vovô não titubeou em chamar de Fup: "Pato fodido... fodido o pato... Fup." Foi também ele que identificou que Fup era, na verdade, uma pata. E, assim, uma convivência afetuosa e pouco convencional vai sendo construído no dia a dia dos três personagens. Essa mágica, emocionante e divertida fábula de Jim Dodge trata de luto, amizade, aprendizagem e paciência, mas vai além de tudo isso.

BibliON

Para utilizar o serviço gratuito de empréstimos de livros, basta que os interessados acessem www.biblion.org.br ou baixem o aplicativo BibliON, disponível no Google Play e na Apple Store e realizem um breve cadastro.

O usuário pode fazer empréstimo de até duas obras simultâneas, por 15 dias. A BibliON permite ações como organizar listas, adicionar favoritos, compartilhar um livro como dica de leitura nas redes sociais, fazer reservas, ver histórico e sugerir novas aquisições. Por meio de princípios de gamificação, os associados conseguem acompanhar as estatísticas do tempo dedicado à leitura e participar de desafios. E o sistema de busca permite que o usuário utilize diversos filtros, como tema, autor, categoria ou título - ou até mesmo leitura indicada para grupos etários, como leitura infantil e juvenil.

É possível ler em dispositivos móveis, sem a necessidade de usar dados do celular, por meio do download prévio do título ou, ainda, ajustar o tamanho da letra e o contraste da tela; escolher diferentes modos de leitura para dia ou para noite e acionar a leitura em voz sintetizada, para saída em áudio do texto.

A BibliON, biblioteca digital gratuita de São Paulo, é uma iniciativa da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo sob gestão da SP Leituras.

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[20/12/2024 09:00:00]