A contação de histórias como resistência: em Frankfurt, autores refletem e relacionam seus trabalhos com os direitos humanos
PublishNews, Talita Facchini, 25/10/2024
Um debate no último dia profissional do evento reuniu autores internacionais para discutir a escrita em uma era politizada

Um importante painel, organizado pelas Nações Unidas em cooperação com a Feira do Livro de Frankfurt, ocorreu no último dia profissional do evento na semana passada (18) e reuniu autores de diferentes países para compartilharem suas histórias e relacionarem seus trabalhos com a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

O painel contou com a participação de Francesca Melandri (Itália), Dmitry Glukhovsky (Rússia), Aziz Isa Elkun (Uyghuristan), Corinna Kulenkamp (Alemanha) e Mary Glenn (chefe das Publicações das Nações Unidas).

Com discursos fortes sobre como a literatura e a escrita podem ser vistos como atos de resistência, o painel serviu como inspiração para a plateia presente no Agora Frankfurt Pavilion – espaço criado justamente para reunir toda a diversidade presente no evento.

“Usei minha caneta para expressar e resistir a essas atrocidades. Esse é o objetivo do estabelecimento das Nações Unidas e o valor de lutar pela plena implementação dos direitos humanos básicos para todos no nosso mundo”, disse o poeta e acadêmico Aziz Isa Elkun, pesquisador da SOAS, Universidade de Londres, e que nasceu no Condado de Shayar em Uyghuristan (Turquistão Oriental). Ele leu um poema do seu livro Uyghur Poems, que reflete sobre as belezas e a história do seu povo. “Esses poemas são dedicados à minha mãe e a todos os uigures inocentes que foram detidos nos campos de confronto do século XXI na China desde 2017”, acrescentou.

A autora sudanesa Stella Gaitano frisou que “Todos têm o direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal” e que “contar histórias é uma ferramenta para os direitos humanos”. “Para nós, como escritores, escrever essas histórias ou escrever um romance significa que estamos nos aprofundando na pesquisa, investigando e entrevistando vítimas para poder destacar seus rostos em nossos escritos. E isso, para mim, é muito importante, pois no Sudão e no Sudão do Sul, temos diversas atrocidades e genocídios. Mas as pessoas que cometeram esses crimes saem impunes”, disse ela.

O autor russo Dmitry Glukhovsky, que leu um artigo sobre a transformação russa, falou sobre o quanto as nações são vulneráveis à liberdade, ao fascismo, aos extremos da direita e, em alguns casos, da esquerda. “É muito importante entender como os russos se tornaram vulneráveis ao complexo de inferioridade nacional, aos complexos revanchistas imperialistas passados, e como isso pode ser tratado, como os ditadores podem nos manipular e como isso pode ser prevenido”.

A autora alemã Corina Kulenkamp acrescentou ao final da conversa: “Sim, contar histórias é um direito humano, mas eu gostaria de ir um passo além. Nestes tempos, contar histórias se torna uma obrigação humana para escritores e editores”.

*A jornalista viajou com o apoio do CreativeSP, e do Publishing Perspectives, veículo de comunicação ligado à Feira de Frankfurt. O texto foi originalmente publicado no Publishing Perspectives.

[25/10/2024 10:00:00]