Casa PublishNews: da política pública ao audiolivro, veja como foram as discussões na Flip 2024
PublishNews, Beatriz Sardinha, Guilherme Sobota e Talita Facchini, 11/10/2024
Mesas da quinta-feira (10) também abordaram aspectos de design e de comunicação sobre os livros

Tom Farias e Kalaf Epalanga conversam em frente à Casa PublishNews | © Sara de Santis / Flip
Tom Farias e Kalaf Epalanga conversam em frente à Casa PublishNews | © Sara de Santis / Flip
O segundo dia da programação na Casa PublishNews, nesta quinta-feira (10), reuniu especialistas de diversos setores do mercado do livro com leitores e interessados, que praticamente lotaram todas as mesas ao longo do dia. Começando com um painel intitulado "Reflexões e ações urgentes em prol do mercado do livro e do fomento à leitura no Brasil", o evento teve a presença do Secretário de Formação, Livro e Leitura do Ministério da Cultura, Fabiano Piúba. Ele ressaltou a importância da união do setor do livro em torno das pautas mais urgentes – como a Lei Cortez – para mudanças efetivas na legislação, por exemplo.

Piúba também comentou a criação de um novo edital do PNLD Literário voltado para equidade. "Para pensar uma política para o nosso setor, é preciso pensar em todos os elos da cadeia. Os editais às vezes são dragões de duas cabeças, por um lado democratiza, e por outro concentra, porque há necessidades específicas que às vezes editoras pequenas não conseguem atender. Por isso estamos pensando num edital de equidade do PNLD Literário para dar ainda mais vazão à bibliodiversidade. Estamos trabalhando também com a possibilidade de criação de linhas de financiamento com bancos, como o BNDES já fez no passados. Estamos nessa lida", afirmou.

A Lei Cortez estava na pauta da Comissão de Educação do Senado na terça-feira (8), mas a votação foi adiada em uma semana por conta da movimentação na casa legislativa em relação às sabatinas do novo presidente do Banco Central. Segundo Piúba, há uma expectativa real de aprovação na próxima semana. Se aprovado, o projeto de Lei, apresentado no Senado em 2015, segue para a Câmara dos Deputados.

Renata Costa, Fabiano Piúba e Vagner Amaro na Casa PublishNews | © Beatriz Sardinha / PublishNews
Renata Costa, Fabiano Piúba e Vagner Amaro na Casa PublishNews | © Beatriz Sardinha / PublishNews
Outro painel reuniu os especialistas no segmento de audiolivros Antonio Hermida (gerente de áudio da Bookwire Brasil), Claudia Esteves (Content Acquisition Manager da Audible) e Mariana Beltrão (sócia e diretora-executiva da Supersônica Livros) para trocar experiências e responder dúvidas básicas sobre a produção de um audiolivro. A mediação ficou a cargo de Fabio Uehara (diretor-editorial da Tocalivros e apresentador do Podcast do PublishNews).

A conversa focou bastante nos bastidores da produção de audiolivros e o que tanto é levado em conta pelos profissionais para levar a melhor experiência para os ouvintes. "Os pequenos detalhes fazem toda a diferença”, resumiu Claudia. O bate-papo girou em torno, principalmente, da importância do narrador.

Detalhes como a decisão de tirar ou não a respiração – que traz uma identificação com o ouvinte e uma narração viva – também passaram pela discussão. "Os pequenos detalhes fazem toda a diferença”, resumiu Claudia.

Segundo Mariana, o combo ideal para a produção de um bom audiolivro começa pela curadoria, passa pelo match de voz (“a pessoa que achamos que tem a voz perfeita, e que também se identifique com a obra”), pela direção e edição.

Já Hermida compartilhou que, para ele, um dos maiores desafios é encontrar pessoas que também sejam leitoras. “A identificação do leitor com a obra faz toda a diferença”, disse. “Muito rapidamente a gente percebeu que atores e atrizes de teatro eram mais fáceis de conduzir, por estarem acostumados a textos mais longos”, compartilhou também.

Kalaf Epalanga e Tom Farias também lotaram a Casa PN em uma conversa sobre ancestralidade, língua portuguesa, literatura e outras conexões.

A construção de suas obras, a influência da língua portuguesa, a importância da ancestralidade e a questão da musicalidade em suas escritas passaram pela conversa. "É muito interessante observar também no Brasil como a língua foi reconstruída, vemos isso muito no nordeste, por exemplo", provocou Kalaf.

Segundo o escritor angolano, autor de Também os brancos sabem dançar e Minha pátria é a língua portuguesa, ambos publicados pela Todavia, ele não se vê escrevendo uma “alta literatura”. “Eu só reflito sobre o nosso tempo”, disse.

Farias compartilhou os bastidores da produção da obra Carolina: Uma biografia (Malê) e a influência que a autora de Quarto de despejo teve na literatura brasileira. "Ela transformou a maneira como vemos a escrita, quero ver hoje em dia alguém ter coragem de dizer que ela escreveu tudo errado", disse. Uma nova edição do livro está sendo preparada, segundo o autor.

Identidade visual e comunicação

As duas últimas mesas do dia abordaram aspectos de design e de comunicação sobre os livros.

Em uma delas, um time de referências do mercado – Elaine Ramos, Leonardo Iaccarino, Bianca Oliveira (da Elefante) e Daniel Lameira – debateu o impacto do visual na vida do livro. Após detalharem suas trajetórias, cuja inspiração para o design passou por referências diversas (discos, arquitetura, jornal de bairro, coleções de livros, etc), uma dos consensos da mesa foi que o design editorial brasileiro é um dos melhores do mundo.

"O design brasileiro de livros arrasa", comentou Elaine Ramos, sócio da Ubu e ex-Cosac Naify. "Eu considero que seja porque algumas editoras seguraram a barra muito em cima. Por conta da Companhia das Letras, especialmente, mas acho que a Cosac também ajudou a formar um tipo de leitor interessado por isso. Nas capas brasileiras, em comparação com os livros publicados em outros países, se atingiu u ponto de equilíbrio entre comunicação e conteúdo", disse.

Diretor do departamento de design do Grupo Editorial Record, Iaccarino concordou. "Existe uma cultura sobre isso em cada mercado: as capas francesas, por exemplo, são todos iguais, porque elas não precisam ser diferentes. A função da capa em cada mercado é diversa".

Mais tarde, o influenciador literário Pedro Pacífico (o Bookster) e o jornalista e escritor Rogério Pereira (criador do Rascunho) conversaram sobre as formas diferentes de falar sobre literatura.

Bookster e Rogério Pereira; maneiras diferentes de falar de literatura | © Sara de Santis / Flip
Bookster e Rogério Pereira; maneiras diferentes de falar de literatura | © Sara de Santis / Flip
"Para mim sempre um ímpeto de estimular a leitura. Fui influenciado por veículos de comunicação, mas antes de mergulhar na literatura eu tinha contato esporádico com livros, ficava meio perdido sobre o que ler. No final da faculdade, encontrei influenciadores para tentar ir além dos livros que eu conhecia da lista de mais vendidos", explicou Pacífico.

"A diferença entre os nossos trabalhos é que o leitor do Rascunho já está interessado na literatura, é diferente de divulgar", comentou Pereira. "O trabalho é complementar nesse sentido".

A programação da Casa PublishNews continua nesta sexta-feira (11) e sábado (12), sempre gratuita. Clique aqui para ver.

[11/10/2024 11:00:00]