Chefe do departamento de design​ da Record, Leonardo Iaccarino acumula prêmios nacionais e internacionais
PublishNews, Guilherme Sobota, 11/01/2024
Designer venceu distinções no Brasil e no exterior com projetos gráficos especiais para boxes e livros comuns, motivados também por estratégias do Grupo Editorial

Leonardo Iaccarino na cerimônia do LAD Awards 2023 | © Arquivo pessoal
Leonardo Iaccarino na cerimônia do LAD Awards 2023 | © Arquivo pessoal
Experiente no mercado editorial e espécie de colecionador de prêmios, o designer Leonardo Iaccarino – chefe do departamento de Design do Grupo Editorial Record, há 22 anos na editora – acumula distinções nacionais e internacionais nos últimos anos com trabalhos visuais, de capas (ele já lançou mais de mil trabalhando no Grupo) a projetos especiais que dialogam com planejamentos mais amplos da editora, envolvendo outros departamentos e estratégias de mercado.

Em 2023, foram três projetos premiados: Sonetos de birosca & poemas de terreiro (de Luiz Antonio Simas) foi eleito o melhor projeto gráfico do ano pelo prêmio Biblioteca Nacional, e também selecionado no CLAP awards (Prêmio Iberoamericano de Design/Espanha) na categoria "Mejor diseño de libro de texto". O Box Umberto Eco levou o Platinum (primeiro lugar) na categoria capa do mesmo CLAP awards, e o Box Biografias do comunismo, de Robert Service, levou Ouro no Latin American Design Awards, realizado em Lima (Peru).

Em 2022, outro box, com três romances de Hermann Hesse, levou três troféus: Platinum (primeiro lugar) na categoria capa do CLAP awards, Prata no Latin American Design Awards (Lima) e Bronze no BDA (Brazil Design Award). Em 2021, o Box Albert Camus (Edição de colecionador) ganhou dois prêmios: Ouro no Latin American Design Awards e Seleção no CLAP awards, na categoria capa.

“É um momento de maturidade no trabalho”, explica Leonardo em uma conversa com o PublishNews nesta semana. “É um momento em que estamos arriscando mais, ousando mais, e também tem dado resultado. Se o Box do Camus não tivesse dado tão certo comercialmente, talvez não estaríamos tendo essa conversa. É um momento de muita troca entre as equipes de comercial, marketing e outras áreas, no sentido de buscar soluções para o catálogo, por exemplo”, explica.

Essas trocas e as novas ideias vêm aproveitando, na sua visão, nichos de mercado que não competem com os livros do catálogo, mas que exploram outros desejos – os boxes acabam se tornando objetos de colecionador, também – e renovam a cara de livros que ainda podem ser aproveitados comercialmente, mesmo sem mudanças editoriais, mas que precisavam de um tapa visual – ele cita nesse caso a nova coleção dos livros de John Steinbeck.

Box Herman Hesse (Record) | © Leonardo Iaccarino
Box Herman Hesse (Record) | © Leonardo Iaccarino
Em um dos trabalhos premiados, o Box Hermann Hesse, o projeto gráfico é colorido com um degradê que representa o desenvolvimento cronológico da obra do escritor, cujo nome aparece apenas na lombada dos livros, e o título do livro está na contracapa, ou seja, na capa do volume em si não há informações textuais. “Soluções assim não seriam possíveis num livro avulso”, explica Leonardo. Por outro lado, segundo ele, o Box Umberto Eco utiliza soluções gráficas mais clássicas, em contato com a própria obra do escritor italiano.

Box Umberto Eco | © Leonardo Iaccarino
Box Umberto Eco | © Leonardo Iaccarino
O mais recente é o Box Graciliano Ramos, lançado no fim de 2023, antes da obra do autor entrar em domínio público, até como forma de valorização da parceria entre espólio e editora. “A ideia foi ressaltar o caráter modernista e minimalista do Graciliano Ramos. O conceito é meio quando Bauhaus encontra o sertão nordestino brasileiro, porque são as três formas elementares (círculo, triângulo e quadrado, representando as três obras), com uma paleta de cores sertaneja”, explica o designer.

Seu trabalho já foi tema de mestrado, e ele já amealhou diversos outros prêmios no Brasil e no exterior, como os da How magazine, AIGA 50 books/50 covers, bienal da ADG, Prêmio GettyImages, BDA (Brasil design award), Bienal Brasileira de Design Gráfico e Prêmio Jabuti.

Parceria com Luiz Antonio Simas

Quando o assunto chega na parceria com o escritor Luiz Antonio Simas, Leonardo diz que até se arrepia. “Nossa relação mais próxima começou com O corpo encantando das ruas (2019) quando eu não cumpri o briefing pedido por ele e pela editora”, ri. “Quando li o livro, captei a linguagem e o conteúdo, quis trabalhar um caráter simbólico e afetivo, e cheguei no saquinho de Cosme e Damião, que depois virou até camiseta”, diz.

Capa de 'O corpo encantado das ruas' (Civilização Brasileira) | © Grupo Editorial Record
Capa de 'O corpo encantado das ruas' (Civilização Brasileira) | © Grupo Editorial Record
O próprio autor reconhece que a capa facilitou o sucesso do livro. “O Léo é fundamental para as coisas que eu escrevo. E mais do que isso, ele realmente é um parceiro”, comenta Simas para esta reportagem. “O corpo encantando das ruas hoje é um livro que tem mais de 13 edições, vai para a 14ª edição, se eu não me engano. Tem muito a ver com aquela capa, que é muito atraente, e foi um diálogo com ele, cara. Porque foi ele que percebeu, na leitura do livro, que aquele livro pedia aquela capa, que era o saquinho de São Cosme e São Damião. Não foi uma ideia minha, não foi uma ideia da Livia (Vianna, editora). Foi ele, esse bate-bola maravilhoso. E a mesma coisa com os outros livros”, explica Simas.

Um deles é justamente Sonetos de birosca & poemas de terreiro, vencedor do Prêmio Aloísio Magalhães de melhor projeto gráfico pelo Prêmio Biblioteca Nacional 2023, o primeiro livro de poemas do autor conhecido por suas crônicas e textos curtos. O giz – elemento utilizado na capa e no projeto gráfico interno do livro – trabalha tanto a identidade de boteco como a sacralidade do material para as religiões de matriz africana, temas caros ao autor e expressos no título. A caligrafia da capa e dos títulos dos poemas foram feitas à mão pelo designer.

O projeto gráfico de 'Sonetos de birosca & poemas de terreiro' | © Leonardo Iaccarino
O projeto gráfico de 'Sonetos de birosca & poemas de terreiro' | © Leonardo Iaccarino
“Brinco que nossa relação virou até meio transcendental”, diz Leonardo. “Nesse livro, eu quis trabalhar a linguagem da imperfeição, do erro, do improviso, que é a linguagem da rua, expressa nessa poesia. Eu peguei um quadro negro da minha filha e escrevi os caracteres, sem retocar, sem corrigir. Acredito que isso trouxe uma linguagem visual viva, sem maquiagens…” Leonardo comenta ter ficado especialmente feliz com esse prêmio justamente pelo livro não ser uma edição de luxo, mas um livro comum, que custa ali as suas “50 pratas”.

Capa não tem informações textuais | © Grupo Editorial Record
Capa não tem informações textuais | © Grupo Editorial Record
Outro trabalho recente é o livro Meia-lua inteira: A constelação mística de Carlinhos Brown, de Julius Wiedemann: essas informações textuais estão apenas na lombada. “A pessoa bate o olho e já sabe quem é, então a gente defendeu a ideia de que não precisava escrever Carlinhos Brown textualmente – na imagem já está escrito. Entendi que seria uma capa mais impactante, para chamar a atenção no ponto de venda mesmo”, comenta Leonardo.

Atualidade do mercado

Formado pela Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi) da UERJ, Leonardo também é mestre em design de Informação pela University of Reading (UK) (além de ter sido professor em universidades cariocas). À formação, ele atribui a importância à comunicação de informações pelos designs dos livros – qualidade que ele busca em colegas de trabalho mais jovens, por exemplo.

“Tenho sempre uma preocupação com a adequação”, explica. “Unir criatividade e ousadia com uma responsabilidade. Nesse sentido, ter uma equipe múltipla, diversa, com estilos diferentes, acrescenta muito. No caso da Record, como são vários selos, temos que trabalhar vários segmentos para diferentes estilos editoriais. Só isso já exige uma variedade de habilidades. Procuro sempre (nos jovens designers) questões de criatividade e originalidade”, enfatiza.

Sobre um dos temas que movimentaram o área do design editorial no fim de 2023 – a inteligência artificial – ele comenta que existe mesmo uma euforia. “Não dá para negar a inteligência artificial, ela já existe como ferramenta, mas eu acho que merece um cuidado, uma certa parcimônia. A gente tem questões sérias de propriedade, sobre os direitos autorais dessas imagens aí. Mas claro, é uma ferramenta”, afirma.

“A ideia, a conceituação, a solução não vêm do computador”, garante. “Uma página em branco não resolve nada. Então, no meu pensamento, não é a ferramenta que vai resolver. São as pessoas, é o profissional, é o pensador, é o raciocínio, é o pensamento do designer ou do artista”.

[11/01/2024 09:00:00]