Bienal do Livro de SP: Governo anuncia medidas e entidades entregam carta a Lula
PublishNews, Guilherme Sobota, 06/09/2024
Texto é uma defesa da importância da Lei Cortez​ para o mercado editorial, assinada por ABDL, Abrelivros, ANL, CBL, Libre e SNEL

Presidente Lula assina a regulamentação da PNLE na abertura da Bienal | © Paulo Pinto/Agência Brasil
Presidente Lula assina a regulamentação da PNLE na abertura da Bienal | © Paulo Pinto/Agência Brasil

Com quase duas horas de atraso, a cerimônia de abertura da 27ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo se iniciou às 21h17 e foi realizada na noite desta quinta-feira (5), em meio a reclamações de expositores por conta das imposições da segurança da presidência – a montagem dos estandes foi interrompida durante seis horas no meio da tarde – e a entrega de uma carta das entidades do livro ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, presente na cerimônia.

A carta foi redigida segundo a sugestão do secretário de Formação, Livro e Leitura do Ministério da Cultura, Fabiano Piúba, em mesa do dia anterior na Convenção Nacional de Livrarias. O texto é uma defesa da importância da Lei Cortez para o mercado, assinada por ABDL, Abrelivros, ANL, CBL, Libre e SNEL.

"Diante do grande desafio de aumentar o número de livrarias no território brasileiro e estabelecer condições para que todas as livrarias possam se manter competitivas e acessíveis à população, as entidades do livro vêm manifestar seu apoio incondicional ao disposto no texto do PLS 49/2015 – Lei Cortez", diz um trecho. "Acreditamos que a concretização de um instrumento legal como a Lei Cortez representará um importante avanço para o fortalecimento da cadeia produtiva e criativa do livro, criando um ambiente de concorrência justa, protegendo livrarias e promovendo a bibliodiversidade". Leia abaixo o texto na íntegra. A Libre também elaborou uma cartilha com perguntas e respostas sobre a lei do preço comum com o mesmo propósito.

No palco, Lula e seus ministros da Cultura (Margareth Menezes), Educação (Camilo Santana) e Cidades (Jader Filho) discursaram e exaltaram o valor social do livro, embora nenhum deles tenha abordado diretamente a questão dos atrasos na execução dos editais do PNLD, motivo de preocupação para diversas editoras. Reportagem publicada pela Folha de S. Paulo nesta quinta-feira (5) revelou que obras que deveriam ter sido entregues às escolas públicas em 2022 e 2023 ainda não tiveram os contratos de compra assinados. O governo afirma que prevê R$ 2,1 bilhões para os diferentes editais do PNLD em 2024, dos quais R$ 1,33 bilhão já foi empenhado até agosto.

Ainda na cerimônia, Lula assinou o decreto que regulamenta a Política Nacional de Leitura e Escrita (Lei 13.696, de 12 de julho de 2018). A PNLE prevê o fortalecimento de ações integradas entre o Ministério da Educação (MEC) e o Ministério da Cultura (MinC) para fomento da leitura, como o PNLD. A regulamentação também trata da construção de um novo Plano Nacional de Livro e Leitura (PNLL). Atualmente, não há PNLL em vigência no Brasil. De acordo com o governo, o próximo plano decenal, que vai vigorar entre 2025 e 2034, será construído a partir de discussões e escutas qualificadas da sociedade civil em todo o País.

Lula, os ministros e a presidente da CBL, Sevani Matos, na abertura da 27ª Bienal | © Paulo Pinto / Agência Brasil
Lula, os ministros e a presidente da CBL, Sevani Matos, na abertura da 27ª Bienal | © Paulo Pinto / Agência Brasil
No evento também foi assinado um Protocolo de Intenções entre o Ministério das Cidades e o Ministério da Cultura, para a implementação de salas para bibliotecas em empreendimentos habitacionais do Programa Minha Casa, Minha Vida. Segundo o governo, serão implementadas 1,5 mil bibliotecas, com entregas previstas a partir do segundo semestre de 2025 até o fim de 2026. Cada unidade terá cerca de 500 livros (750 mil livros no total), selecionados pelo PNLD Literário. O ministro da Educação, Camilo Santana, também autorizou um novo edital, o PNLD Equidade, que segundo o ministro vai levar em conta a diversidade brasileira, valorizando literaturas indígenas, quilombolas, ribeirinhas, do campo e da floresta.

No seu discurso, Lula se referiu às artes como alimentos da alma de um povo e citou Antonio Candido: “a literatura é um direito humano”. O presidente também compartilhou o relato de um encontro com o editor Luiz Schwarcz, que teria se queixado do fato de que o governo federal estava diminuindo a compra de livros ao longo dos anos. “Mas nós precisamos comprar livros e eu falei isso ao Camilo, que também ouviu as vozes dos editores deste país”, disse Lula.

Mais cedo na cerimônia, a presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), Sevani Matos, mencionou a Lei Cortez, dizendo ao presidente que sua aprovação seria fundamental para um ambiente de concorrência justa e saudável no mercado do livro, protegendo as livrarias.

Apuros na montagem dos estandes

Expositores estava fechados para fora da Bienal até 21h15 de quinta-feira (5) | © PublishNews
Expositores estava fechados para fora da Bienal até 21h15 de quinta-feira (5) | © PublishNews
Na terça-feira (3), as editoras e demais expositores receberam uma mensagem da organização da Bienal informando sobre a paralisação, e avisando que seria possível montar nas madrugadas, com o suporte das equipes de apoio do evento (ambulância, segurança, etc).

Na noite de quinta-feira (5), os expositores ficaram para fora dos portões até o início da cerimônia de abertura – que foi realizada no Teatro Celso Furtado, no Centro de Convenções do do Distrito Anhembi. Antes disso, o PublishNews recolheu reclamações de expositores e os relatos foram de gritos de protesto antes da reabertura dos portões, por volta das 21h15.

Leia a íntegra da carta das entidades do livro entregues ao presidente Lula na Bienal do Livro:

"Excelentíssimo Senhor Presidente da República,

Luiz Inácio Lula da Silva

Assunto: Defesa das Livrarias e da Bibliodiversidade (Lei Cortez)

Excelentíssimo Senhor Presidente,

As entidades do setor do livro no Brasil — A associação Brasileira de Difusão do Livro(ABDL), Associação Brasileira de Editores de Livros e Conteúdos Educacionais (ABRELIVROS), Associação Nacional de Livrarias (ANL), Câmara Brasileira do Livro (CBL), Liga Brasileira de Editoras (LIBRE) e Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) —, comprometidas com o fortalecimento do livro, da leitura, da liberdade de expressão e da bibliodiversidade, vêm por meio deste documento agradecer todo o seu apoio e comprometimento com o livro, a leitura e a educação.

O Brasil atualmente tem um número de livrarias muito inferior ao recomendado pela UNESCO, que estabelece como parâmetro mínimo uma livraria para cada 10.000 habitantes.

Diante do grande desafio de aumentar o número de livrarias no território brasileiro e estabelecer condições para que todas as livrarias possam se manter competitivas e acessíveis à população, as entidades do livro vêm manifestar seu apoio incondicional ao disposto no texto do PLS 49/2015 - Lei Cortez.

A Lei Cortez estabelece uma política nacional para a comercialização e difusão do livro, essencial para a valorização de toda a cadeia produtiva do livro — desde os leitores, autores, editoras até as livrarias. Acreditamos que a concretização de um instrumento legal como a Lei Cortez representará um importante avanço para o fortalecimento da cadeia produtiva e criativa do livro, criando um ambiente de concorrência justa, protegendo livrarias e promovendo a bibliodiversidade. Tal medida se alinha com práticas adotadas em diversos países, onde resultados positivos, como o aumento do número de publicações e o fortalecimento das livrarias locais, têm sido observados.

Ressaltamos que a manutenção de um mercado editorial saudável e diverso é crucial para garantir o pluralismo cultural e a disseminação do conhecimento, fatores essenciais para o desenvolvimento social e econômico do Brasil.

Por estas razões e certos de vossa sensibilidade para com as necessidades do setor livreiro e editorial, bem como para com o impacto positivo que tal regulação trará à sociedade brasileira, pedimos seu apoio para a aprovação deste importante instrumento legal.

Atenciosamente,

ABDL
ABRELIVROS
ANL
CBL
LIBRE
SNEL"

[06/09/2024 00:20:00]