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Flipoços se abre para a praça pública e reúne leitores e escritores em Poços de Caldas
PublishNews, Guilherme Sobota, 06/05/2024
Festival chegou à 19ª edição em 2024 com a inauguração da Vila Literária, localizada no histórico Parque José Affonso Junqueira

Feira do livro e programação do Flipoços ocorreram em frente ao histórico Palace Hotel | © Bruno Alves
Feira do livro e programação do Flipoços ocorreram em frente ao histórico Palace Hotel | © Bruno Alves
A 19ª edição do Festival Literário Internacional de Poços de Caldas (Flipoços) terminou neste domingo (5) com a sua primeira Vila Literária. Neste ano, a feira de livros do Festival foi montada no Parque José Affonso Junqueira, espaço urbano de inspiração francesa que abriga edifícios históricos da cidade, como o Palace Hotel – personagem da história brasileira, digamos assim, por ser um dos preferidos de Getúlio Vargas. Diversas das mesas realizadas no evento estão disponíveis no canal do Youtube do Flipoços.

A cidade termal se consolida a cada ano como um dos pontos de reunião da literatura e do mercado editorial brasileiro. Neste ano, foram 160 convidados em mais de 100 atividades gratuitas. A Vila Literária recebeu um público de mais de 60 mil pessoas, e as vendas totalizaram cerca de R$ 2 milhões em livros. O tema principal foi a crônica – o Festival abriu com Ignácio de Loyola Brandão e fechou com Ruy Castro, no sábado (4).

Ruy falou pela primeira vez com detalhes sobre um novo livro em que trabalha e que deve concluir até o ano que vem. Conhecido por panoramas de época ambientados no Rio de Janeiro, o jornalista e escritor prepara um novo volume sobre o contexto da cidade (na época, capital do país) em meio à Segunda Guerra Mundial.

“Estou trabalhando nele há quatro ou cinco anos”, explicou Ruy. “Quando as pessoas pensam em Brasil na Segunda Guerra, todo mundo sabe duas coisas: houve racionamento de gasolina e o país mandou os pracinhas para lutar na Itália. Mas as pessoas ignoram que uma guerra mundial afeta a vida de todo mundo, no mundo inteiro. Não se podia comprar um carro, pararam de fabricar carros. Se queria tomar café, não podia, porque o café brasileiro ia todo para fora. Outra coisa: você descobre que o seu vizinho, por acaso alemão, tem um aparelho que faz um barulhinho, que você não sabe mas é um rádio, que ele usa para mandar mensagens para Berlim. Uma série de coisas acontecia na vida das pessoas, o tempo inteiro”. Ele explica que já começou a escrever e o título será As trincheiras da Guanabara.

Questionado sobre o seu uso das tecnologias, Ruy disse que continua sem celular e brincou que está 40 anos atrasado em relação a elas. “Vou em breve me tornar uma pessoa inviável. Dez anos atrás, me falaram que todas as informações estariam na nuvem. Eu falei: bom, em dez anos eu mesmo vou estar na nuvem. Mas não, ainda estou aqui”, comentou, arrancando risos da plateia que lotou o espaço na praça para vê-lo.

Outro encontro do fim de semana reuniu o editor Rodrigo Lacerca, da Record, e Eric Nepomuceno, escritor e tradutor, para homenagear os 90 anos de Nélida Piñon – com o lançamento do livro póstumo Os rostos que tenho (Record). A escritora tinha uma relação especial com o Flipoços e o evento iniciou uma série de homenagens que serão realizadas dentro e fora do Brasil em 2024. Nepomuceno contou histórias de sua amizade com a autora – que ele chamava apenas de Piñon – e Lacerda recomendou a leitura de obras das diferentes fases da produção literária de Nélida, com um destaque para o livro A casa da paixão, lançado originalmente em 1972.

Também no sábado uma mesa reuniu no Festival fundadores e organizadores de diferentes eventos literários e culturais pelo Brasil. Um dos principais assuntos abordados foi justamente o financiamento e a gestão de recursos financeiros para a realização dos festivais.

“No Hacktown, somos profissionais de tecnologia fazendo um evento cultural”, explicou o sócio e co-fundador do HackTown, Marcos David – o evento em Santa Rita do Sapucaí, também no Sul de Minas, vem se transformando em um dos principais festivais de criatividade e tecnologia do país. “Conseguimos trazer agora o Itaú Cultural, mas ainda precisamos ‘hackear’ alternativas sustentáveis. No começo, era uma lei municipal que nos apoiava. Este ano, estamos pela primeira vez com lei de incentivo federal. A gente sempre financiou no limite, o que a gente tinha pra gastar a gente gastava. O resto foi colaborativo. Nunca investimos dinheiro do bolso, era sempre o que o ecossistema permitia. Quem comanda os investimentos é a demanda, não o que eu quero”, explicou. Ele reconhece também que o apoio de grandes empresas – como o Google – e do poder público (“o grande acelerador”) é fundamental.

Veja algumas outras frases da discussão:

  • Rogerio Robalinho (Bienal Internacional do Livro de Pernambuco): “A Bienal tem compromisso de ser local de pertencimento e fala. Queremos muito a companhia das grandes editoras, mas também dos pequenos, autores e editoras independentes. Para falar para dentro e fora do estado, gerar oportunidades com benefícios para todo mundo”.
  • Fernando Gomes (FiliGram, de Gramado): “É preciso planejar muito para dar certo. Agora estamos com orçamento grande, verba de incentivo com lei federal, lei estadual, apoio da Prefeitura, empresariado. Mesmo assim, a segunda edição está sendo mais difícil, por conta da repercussão que teve na primeira”.
  • Chiara Carvalho (MIA Poços): “As pessoas usam o poder da cultura na cidade, mas é sempre complexo captar dinheiro. Temos muitas parcerias e acreditamos muito no lugar de ser uma plataforma para os artistas”.
  • Carola Castro (Litera-Minas): “Há uma tentativa nossa de formar público. Quando a gente teve ideia do Festival, na escola, eu tinha a estrutura montada na minha cabeça, mas as pessoas não entendiam muito. Quando aconteceu, foi muito interessante. Pessoas nunca tiveram muito acesso a esses eventos, com essa vivência. Mas de captação, quase nada. Passamos o chapéu para os empresários, pedimos logística para a Prefeitura. A longo prazo vem o retorno”.
  • Gisele Correa Ferreira (Flipoços): “Esta é nossa primeira edição na Praça. Apesar de toda a grandeza do evento, tem sido extremamente desafiador. Há uma falta de visão, prefeitura não ajudou, o Estado retirou o apoio com os vales-livros, uma forma de sustentabilidade da Feira. Infelizmente não é uma política pública permanente. Nossa área da literatura fica relegada a um plano sem importância nos governos. Tenho muitas preocupações, a gente não deveria passar por isso mais. Ano que vem pretendo fazer uma imensa festa de 20 anos, e com apoios efetivos das entidades publicas”.

Veja mais fotos da 19ª edição do Flipoços:

Inauguração da Vila Literária com Ignácio de Loyola Brandão e organizadores do Flipoços | © Bruno Alves
Inauguração da Vila Literária com Ignácio de Loyola Brandão e organizadores do Flipoços | © Bruno Alves
Público lotou espaço para ver Guilherme Terreri, criador de Rita Von Hunty | © Bruno Alves
Público lotou espaço para ver Guilherme Terreri, criador de Rita Von Hunty | © Bruno Alves
Festival tinha como tema central a crônica, mas discutiu diversos gêneros literários | © Bruno Alves
Festival tinha como tema central a crônica, mas discutiu diversos gêneros literários | © Bruno Alves
Jornalistas Adriana Del Re e Julio Maria no 19º Flipoços | © Bruno Alves
Jornalistas Adriana Del Re e Julio Maria no 19º Flipoços | © Bruno Alves

Mesa discutiu a produção de revistas literárias no país | © Bruno Alves
Mesa discutiu a produção de revistas literárias no país | © Bruno Alves
[06/05/2024 10:00:00]
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