Mariana contou no palco que encontrou, depois de ser anunciada finalista, um e-mail antigo de sua mãe para Cristovão Tezza, autor que era seu concorrente nesta edição do Prêmio, em busca de dicas para a filha. Um dos conselhos que o escritor deu naquela ocasião, 10 anos antes de ela lançar seu primeiro livro por uma editora, em 2009, foi ter paciência. "Foi o conselho que funcionou", brincou Mariana.
Em 2024, Mariana vai publicar pela Nós o livro infantojuvenil Violeta, e Se Deus me chamar não vou vai sair na França, pela Nossa Éditions, editora fruto da sociedade entre Simone Paulino e Márcia Tiburi.
"Acredito que estava na hora de um escritor branco escrever sobre isso", disse, sobre o tema central do livro, o racismo no Brasil. "Precisamos olhar da nossa perspectiva para tudo o que foi feito, e para tudo que nós fizemos com a população negra desse país. Não acho que meu livro seja um panfleto, mas quis que de alguma forma ele passasse uma mensagem", concluiu.
O Prêmio São Paulo de Literatura
Cada vencedor recebe R$ 200 mil, o maior valor individual entre as premiações literárias brasileiras. Além da estatueta e da premiação em dinheiro, os vencedores participam, em 2024, de uma programação cultural, que inclui a presença em eventos literários nacionais e internacionais.
Em 2023, a 16ª edição do Prêmio São Paulo de Literatura recebeu um recorde de inscrições com 453 candidaturas, um crescimento de 43% em relação ao ano anterior. O júri desta edição foi composto por Carlos Rogério Duarte Barreiros, Cida Saldanha, Claudia Abeling, Gênese Andrade, Ieda Lebensztayn, Jeferson Tenório, Karina Menegaldo, Luciana Araujo Marques, Luiz Rebinski e Whaner Endo. Já os curadores foram Fabio Silvestre Cardoso, Maria Cecília Closs Scharlach, Ricardo de Medeiros Ramos Filho, Rogério Pereira e Sandra Regina Ferro Espilotro.
“O Prêmio São Paulo de Literatura é um impulsionador da produção literária de qualidade, valorizando o setor editorial e favorecendo a formação de leitores e escritores, além de reconhecer o trabalho de autores consagrados e dar visibilidade aos novos talentos. Vale a pena conferir os livros finalistas e vencedores, todos disponíveis para empréstimo na Biblioteca de São Paulo e na Biblioteca Parque Villa-Lobos”, afirmou na cerimônia Pierre André Ruprecht, diretor executivo da SP Leituras.
A Secretária da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, Marília Marton, explicou durante o evento que o desafio da Secretaria da Cultura é grandioso. “Quero convidá-los para nos ajudar na longa jornada de fazer deste país um lugar de leitores. No Brasil, há dados que mostram que existem menos pessoas lendo. Penso: qual estratégia vamos ter para mudar estes números? Dentre várias ações, temos o Viagem Literária, a BibliON, parcerias internacionais, como o Creative SP, por exemplo, com a Feira do Livro de Frankfurt. Acredito que a literatura é o alicerce da cultura, que traz identidade e senso crítico. Não há filme ou um jogo sem um bom roteiro. Precisamos ser transversais. Contamos com vocês para nos ajudar a criar métodos para fazermos deste encontro um local de desenvolvimento humano, também, na leitura.”
Os livros vencedores
A Todavia resume o livro de Mariana Salomão Carrara assim: "Uma tragédia acaba com uma família, um amor, uma história. Mas outra história também pode começar nela. Um absurdo acidente tem a possibilidade de unir as mulheres que restaram dele, num duro e ao mesmo tempo terno embate de isolamentos. Depois da morte de André, o lar de Ana fica dolorido. Sem o marido, ela passa a gestar a filha órfã e a lidar com Francisca, a babá que intervém com seus tentáculos de ajuda, e também Madalena, a vizinha, viúva do outro homem envolvido no absurdo acidente que vitimou André. Neste romance, com sua narrativa íntima que assombra pela concretude, a autora se consolida como uma das vozes mais urgentes da literatura brasileira de hoje".
A sinopse de Tinta branca é a seguinte: "Em um domingo de festa, moradores torturam um jovem imigrante na praça central de uma pequena cidade do interior gaúcho. O professor de História de uma escola local se vê diretamente envolvido no episódio enquanto também ajuda um homem recém-chegado a entender suas origens. O cruzamento de dois episódios, no passado e no presente, levará o narrador a repensar sua relação com a comunidade, a família e o amor – e a entender que a verdade, mesmo aquela mais íntima, também pode ser forjada por esquecimentos, por memórias apagadas".