Para quem estará em Frankfurt, o Forum é gratuito a todos os registrados na Feira, e será realizado entre os dias 18 e 20 de outubro, no Congress Center, Level 2, Room Spektrum. O PublishNews vai cobrir as principais discussões do evento e trazer os debates para os leitores brasileiros. Clique aqui para ver a programação completa.
Para antecipar algumas das discussões, o PN entrevistou Porter Anderson, que entre outros painéis, vai mediar a abertura do Forum, uma conversa com o CEO da Penguin Random House, Nihar Malaviya. Anderson respondeu às seguintes questões por email:
PublishNews – Quais foram seus principais objetivos ao organizar o Forum de 2023? Havia algum tema principal em mente?
Porter Anderson – O Publishing Perspectives Forum é desenhado por nossa equipe para ser, antes de tudo, uma série de eventos B2B, não tanto uma programação cultural. Assim como o Publishing Perspectives, o Fórum trata de tendências e questões do mercado editorial mundial. A prioridade em nossa programação e em nossas páginas é o caráter internacional. Não somos o veículo de notícias de referência para nenhum mercado nacional específico. Em vez disso, examinamos questões para um grande número de mercados e regiões, como indicativos de dinâmicas mais amplas, muitas vezes surgindo em outras partes do mundo.
Também fizemos a curadoria do Fórum de forma muito deliberada. Com isso, queremos dizer que definimos nossa programação, desenvolvemos nossos eventos e convidamos palestrantes de acordo com essa agenda, que está relacionada ao que nossa cobertura de notícias mostrou ser necessário. Estamos muito satisfeitos com a variedade de palestrantes e especialistas para abordar esses temas. Por exemplo, nosso painel de editores independentes (11h, 18 de outubro, horário local) apresenta editores da Alemanha, Taiwan, Brasil e Quênia. Nossos painelistas de IA estão baseados em Oxford, Mainz, Barcelona e Londres. E quando chegarmos a uma sessão especial durante nossa Mini-Conferência de Áudio sobre mercados pequenos, você ouvirá especialistas da Eslovênia, Hungria, Portugal e Noruega.
Então, os pontos-chave em tudo o que fazemos são (a) internacionalismo e (b) negócios. Isso, é claro, está alinhado com a própria Frankfurter Buchmesse, e o Publishing Perspectives é um projeto editorialmente autônomo de Frankfurt.
– Nihar Malaviya abrirá o Fórum. A PRH não teve um caminho fácil no último ano, mas ele parece ter feito um bom trabalho reorganizando a empresa. O que você espera ouvir dele na Feira?
Nihar Malaviya, devo dizer, é uma pessoa muito afável, um bom orador e uma personalidade calorosa. Isso torna ainda mais gratificante que possamos proporcionar o que será a primeira oportunidade de ouvi-lo para muitos na comunidade editorial. A Penguin Random House, é claro, está em uma posição de liderança nos negócios em muitos aspectos, e uma das coisas que Malaviya fará é nos dar sua visão sobre as forças macroeconômicas que envolvem a publicação de livros neste momento. Um dos desafios para muitos profissionais editoriais hoje é obter essa visão mais ampla – a capacidade de olhar além da próxima colina e ver o que está por vir – quando as demandas diárias na área são tão urgentes. Mas Malaviya deve, por definição, ter essa visão elevada, além de estar em contato com o que está acontecendo em comunidades, cidades, ambientes de distribuição rural. É uma perspectiva única.
Além disso, vamos perguntar a ele como seu modo de trabalho reage a essas observações macroeconômicas, bem como às flutuações nas tendências do mercado. A inteligência artificial também entrará em jogo, é claro, em nossa discussão, assim como algumas das questões desafiadoras em torno dos esforços contra a censura e a favor da diversidade nos negócios. Basta dizer que temos muito a discutir.
Gostaria de mencionar também, a propósito, que valerá a pena nos acompanhar a palestra, às 10h de quinta-feira (no mesmo horário em que Malaviya estará conosco na quarta-feira), com Kim Chongsatitwana, CEO da segunda geração de uma extraordinária editora em Bangkok, tão dedicada ao treinamento de professores, alunos e suas famílias sobre o ambientalismo que a editora administra seu próprio resort de preservação da natureza, chamado Rain Tree Residence, localizado ao lado de um parque nacional. Os quartos de hóspedes são temáticos em homenagem a vários grandes autores. Em toda a cobertura que fizemos, nunca vi um programa como este.
– A sustentabilidade é um tema que parece estar no centro das atenções este ano na Feira. O Fórum discutirá como as editoras pequenas e médias podem lidar com isso. Como essa é uma preocupação crescente também para as editoras aqui no Brasil, você consegue pensar em um bom exemplo de uma editora que já esteja tomando medidas ou de uma prática específica nesse sentido?
Praticamente qualquer pessoa hoje em dia dirá que ela ou ele experimentou – ou conhece pessoas que experimentaram – tempestades mais fortes, incêndios florestais maiores, secas mais longas, inundações mais rápidas e destrutivas, ondas de calor mais intensas do que antes, certo? Os efeitos das mudanças climáticas estão calando as pessoas que diziam que tal ideia era uma farsa. E uma vez que uma grande preocupação desse tipo ultrapassa a influência da distorção política, é mais fácil ouvir os avisos e as análises dos cientistas e saber que todos em todas as indústrias têm que elaborar uma resposta correta.
Tem sido impressionante ver o que algumas das maiores empresas do mundo podem fazer em relação à sustentabilidade. E não é uma crítica a elas – muito pelo contrário – dizer que elas têm os recursos para nomear diretores de programas de sustentabilidade e direcionar orçamento e energia da equipe para criar e implementar programas. O que estamos fazendo é basicamente emprestar uma dessas diretoras de sustentabilidade de empresas enormes – uma das mais articuladas – Rachel Martin, da Elsevier, que falará sobre o que as editoras pequenas e médias (sem esses recursos das grandes empresas) podem e devem estar fazendo. Também teremos Sherri Aldis, que dirige o escritório da ONU para a Europa Ocidental conosco, para nos informar sobre o progresso nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, discutidos no mês passado em Nova York, é claro, durante a Assembleia Geral anual.
Acredito que a nova oferta de assinatura de audiolivros do Spotify pode ao menos gerar mais ouvintes de primeira viagem – pessoas que não experimentaram ouvir um livro ainda terão a chance de fazer isso sem custo adicional em sua assinatura atual do Spotify. Isso está acontecendo apenas no Reino Unido e na Austrália no momento, mas a empresa vai expandir esse programa. No entanto, uma das questões que precisa ser abordada rapidamente foi levantada pela Society of Authors, o sindicato para mais de 12 mil escritores no Reino Unido. Acontece que eles não foram consultados, e os acordos contratuais que o Spotify fez com as editoras são motivos de preocupação para alguns que pensam que seus direitos de transmissão podem ser infringidos. Então ainda há o que aprender nesse assunto.
Mas, em geral, porque os brasileiros são consumidores tão ávidos de podcasts, tudo o que é preciso fazer é dar algum tempo. A base de consumidores vai ouvir podcasts ao lado dos audiolivros. E um dos fatores sobre audiolivros é que os homens gostam deles. As mulheres permaneceram na liderança na maioria, se não em todos os mercados, como leitoras, consumidoras e membros da equipe editorial, e mais poder a elas. Mas uma das grandes tarefas do setor editorial mundial hoje é garantir que a diversidade inclua a participação mais consistente de homens e meninos na leitura e no interesse pelos livros. Os homens que experimentam audiobooks tendem a gostar do fato de que podem ouvir enquanto se exercitam, dirigem ou cortam a grama, e isso acaba sendo algo que pode aproximar homens e meninos do mundo dos livros. Vimos dados no Reino Unido, em particular, indicando que isso pode acontecer.
– Quadrinhos e romances gráficos têm um painel próprio no Fórum, e a própria Feira está celebrando um novo Centro de Quadrinhos. A que você atribui a empolgação em relação a eles?
À juventude. Não é preciso ir muito longe. Na indústria italiana, alguns editores falam sobre um rejuvenescimento da base de consumidores à medida que os quadrinhos e outras formas narrativas gráficas se expandem. Acontece que, em alguns casos, pode haver um efeito de "porta de entrada" aqui. Na conferência Scuola Mauri, em Veneza neste ano, falamos sobre um fenômeno que os livreiros estão observando, no qual os jovens entram em uma loja para mangás e quadrinhos e saem com uma cópia de Ulisses de James Joyce debaixo do braço junto com esses quadrinhos.
O quadro geral, é claro, é que a leitura nunca coexistiu com uma gama tão ampla e sedutora de várias mídias concorrentes (filme, televisão, mídia social, jogos, música, etc.), todas entregues com conveniência digital. Se o componente visual de quadrinhos e outras formas gráficas trouxer mais pessoas para a ficção e não ficção, isso poderia se tornar uma importante "ponte" para a publicação, e estamos ansiosos para ouvir mais em nossa sessão no Publishing Perspectives Forum.