Três Perguntas do PN para Rogério Pereira, autor do novo 'Antes do silêncio'
PublishNews, Guilherme Sobota, 21/09/2023
Escritor, jornalista e editor do Rascunho lança seu novo romance, pela Dublinense, nesta quinta-feira (21), em São Paulo

Entre diversos outros trabalhos, Rogério Pereira também foi diretor da Biblioteca Pública do Paraná | © Renata Sklaski
Entre diversos outros trabalhos, Rogério Pereira também foi diretor da Biblioteca Pública do Paraná | © Renata Sklaski
Rogério Pereira é há mais de década profissional dedicado ao mercado editorial e literário brasileiro, e a trajetória do Rascunho, raro veículo nacional dedicado à crítica literária, é apenas uma das provas dessa constatação. Seu excelente primeiro romance, Na escuridão, amanhã, lançado em 2013 pela Cosac Naify, foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, teve menção honrosa no prêmio Casa de las Américas (Cuba) e foi traduzido na Colômbia (Babel Libros). Agora, dez anos depois, ele lança Antes do silêncio, pela Dublinense, que também reedita o primeiro livro. O autor faz uma sessão de autógrafos dos romances nesta quinta-feira (21), na Livraria da Vila Fradique (Rua Fradique Coutinho, 915, Vila Madalena, São Paulo / SP), às 19h.

Rogério Pereira respondeu a três perguntas do PublishNews:

– A edição do Rascunho por tanto tempo certamente te expôs a uma quantidade enorme de crítica literária. Você diria que essa exposição tem efeitos diretos na sua escrita de literatura?

Não acredito que a leitura de crítica literária tenha um efeito direto na minha produção ficcional. Talvez não tenha na de nenhum escritor. A crítica talvez seja importante para o escritor ficar atento a possíveis equívocos cometidos em determinadas obras. E evitá-los. Uma crítica honesta e inteligente joga muitas luzes sobre as narrativas — o que não é nenhuma novidade. Mas a construção ficcional, no meu caso, está intimamente ligada à minha experiência como leitor de romances, contos, crônicas e (em grande escala) de poesia, às minhas escolhas como leitor, ao meu cânone afetivo — onde autores como Graciliano Ramos e Raduan Nassar, para citar apenas dois gigantes, têm um lugar especial — e às memórias que carrego o tempo todo para dentro do mundo ficcional que busco criar desde sempre.

Antes do silêncio coloca o personagem em uma situação que você já havia elaborado literariamente em algumas crônicas, certo? Como esses dois gêneros se aproximam e se afastam nos temas que você trata?

Muito bem observado. Minhas narrativas longas — Na escuridão, amanhã e Antes do silêncio — são formadas por textos breves com os quais estou sempre às voltas. Alguns textos, publiquei no Rascunho (e em outros veículos) em formato, talvez, de crônica. Prefiro a definição “narrativas”. Mas já o fiz com o objetivo de compor o projeto de um romance. Sou um tanto obsessivo com alguns temas e também com a forma como conduzo o que tenho muito claro para a minha literatura: entremear ficção e memória. Mas isso não é algo original; é apenas a maneira que mais me agrada de construir meus livros. E há um método seguido à risca. Decidi estrear aos 40 anos, com Na escuridão, amanhã; agora, aos 50 anos, publico o Antes do silêncio. E estou trabalhando, para a publicar aos 60 anos, no A longa distância, cujo início é uma “crônica” publicada no Rascunho há muitos anos sobre o suicídio do meu avô durante o famigerado (para dizer o mínimo) Plano Collor. E com isso fecho a Trilogia da Ausência. Neste período, obviamente, podem surgir outros livros, como foi o caso de, no ano passado, Toda cicatriz desaparece (Maralto) — uma coletânea de 40 crônicas organizada pelo Luiz Ruffato. Enfim, sou um escritor muito afeito a certas obsessões de tema e de método.

– O lançamento desta quinta é um evento literário pós-pandemia. Com a sua experiência no setor, já é possível fazer uma avaliação mais geral de eventos literários (como festivais e feiras) no Brasil do pós-pandemia?

Sobrevivemos à pandemia “guiados” por um lunático, sádico e beócio, para ficar apenas em três das suas qualidades. Como a vida do mundo voltou ao normal (ou próximo a isso), é natural que eventos literários ganhem novamente o fôlego que merecem. No caso do Brasil, assistíamos há uns bons anos a um certo boom de eventos voltados à literatura — fenômeno, diga-se, impulsionado pela Flip e seu alcance nacional. A pandemia acabou freando o avanço dos eventos literários — assim como todo o mais no resto no mundo. Então, é natural que retomemos com esperança renovada os encontros, festivais, bate-papos, lançamentos, etc. A recente Bienal do Livro do Rio, com sua avalanche de leitores sedentos pelas novidades, é a certeza de que os eventos literários deram a pausa necessária para, novamente, saírem em busca dos leitores espalhados pelo país. Sem esquecer, é claro, que, como diz a máxima de Faulkner, somos um país onde a literatura/leitura “é um fósforo no campo no meio da noite. Um fósforo não ilumina quase nada, mas nos permite ver quanta escuridão existe ao redor”.

[21/09/2023 10:50:00]