Três perguntas do PN para Luciana Villas-Boas
PublishNews, Guilherme Sobota, 22/11/2022
Agente literária celebra dez anos de sua agência com um evento na Casa PublishNews da Flip 2022; "o retorno dos eventos presenciais representa uma felicidade indescritível", diz

Luciana Villas-Boas vai celebrar na Flip 2022 um aniversário importante: os dez anos de criação da Villas-Boas&Moss (VB&M), sua agência literária, em um encontro na Casa PublishNews na Flip 2022, no sábado (26), às 19h, seguido do que promete ser um disputado happy hour.

Nesta breve entrevista ao PublishNews, Villas-Boas celebra a data de aniversário (“um prêmio por nossa dedicação, tenacidade e boa condução dos negócios em tempos hostis”), confirma a publicação de um livro que considera especial (Baviera Tropical, de Betina Anton, a sair pela Todavia provavelmente em 2024) e comenta a retomada dos eventos presenciais – e a manutenção dos negócios – em um mundo que começa a sair da pandemia.

Luciana Villas-Boas e o cachorro Nelson
Luciana Villas-Boas e o cachorro Nelson
O bate-papo “Um panorama sobre o agenciamento literário no Brasil e os dez anos da Villas-Boas & Moss”, no sábado (26), às 19h, encerra a programação da Casa PublishNews na Flip 2022. Luciana Villas-Boas vai dividir a mesa com Anna Luiza Cardoso, sua sócia na agência, e o papo será mediado pela jornalista Tatiany Leite. Clique aqui para ver a agenda completa do espaço – todos os eventos são gratuitos.

PublishNews – Qual o significado, na sua visão, de a agência completar dez anos no atual contexto do mercado editorial brasileiro?

Luciana Villas-Boas – Estamos vivendo este aniversário como um prêmio por nossa dedicação, tenacidade e boa condução dos negócios em tempos hostis. Em 2012, quando VB&M foi inaugurada, parecíamos ter um céu de brigadeiro pela frente com a homenagem ao Brasil na Feira de Frankfurt daquele ano, toda a animação no ar com a perspectiva da Copa do Mundo e das Olimpíadas; mas não demorou muito para mudar a percepção dos fatos. Para os brasileiros em geral, o primeiro sinal ominoso talvez tenha sido o desempenho canarinho na Copa em 2014; para a indústria editorial, a ficha do que o futuro guardava para a gente começou a cair em 2015, quando a presidente Dilma Rousseff anunciou o não-pagamento do PNLD daquele ano e o cancelamento do programa seguinte. Desde então, tivemos de assistir à indústria enfrentar a falência de fundamentais cadeias livreiras e a pandemia da Covid-19. Ainda assim, VB&M se consolidou como agência e como uma operação de negócios lucrativa no prazo médio para empresas desse gênero.

PN – Quais realizações (divididas entre você, sua equipe e os autores) que você gostaria de destacar nesse momento de celebração?

LVB – Com 30 clientes estrangeiros, entre editoras e agências, uma média de 50 autores em nosso catálogo, 11 co-agentes em quatro continentes, cerca de 1.5 mil acordos de publicação fechados nas duas frentes, mas incluindo nesse total também os 80 contratos de adaptação audiovisual, melhor falar do que está dando alegria neste período que chamamos de pós-Frankfurt, quando se realizam os investimentos na feira.

Destaco dois motivos de satisfação: maravilhoso participar do retorno de um amado autor da minha juventude, Autran Dourado, cuja obra chega às livrarias lindamente relançada por Raquel Cozer na Harper Collins-Brasil, permitindo um trabalho eficaz no exterior, pois Ópera dos mortos acaba de conquistar contrato com a editora grega Carnivora, e esse mesmo romance acompanhado de A barca dos homens, um acordo duplo com a holandesa Koppernik, dois idiomas para os quais esses livros jamais foram antes traduzidos; outra imensa gratificação é pavimentar a carreira internacional de A maldição das flores, estreia na ficção adulta de Angélica Lopes, publicada pela Planeta, que sairá na França por Le Seuil, na Itália pela Mondadori, em Portugal pela Porto e, em língua inglesa, com um excelente contrato, por uma grande editora americana cujo nome ainda não podemos anunciar, mas muito em breve. No primeiro caso, somos gratos à parceria com a agência grega Ersilia; no segundo, a gratidão vai para a BAM na França, para Ella Sher na Itália e para 2 Seas nos EUA.

Somos uma pequena equipe de quatro – conto com os agentes Anna Luiza Cardoso e Miguel Sader, mais a assistência preciosa de Yasmin Ribeiro –, e nossa comunicação é azeitada. Anna, especialmente, vem se entregando à representação dos autores brasileiros aqui e no exterior.

Se você puder me permitir mais um pequeno espaço, ficarei feliz mencionando um livro ainda em progresso que, depois de ter contrato fechado com Flávio Moura na Todavia, começou a atrair a atenção dos editores internacionais: Baviera tropical, da brilhante jornalista Betina Anton, impressionante mistura de reportagem e memória pessoal expondo a rede de apoio que permitiu ao Monstro de Auschwitz Josef Mengele sobreviver por 18 anos incógnito no Brasil. Metade está escrita, a obra deve chegar às livrarias somente em 2024, mas garanto que será um livro muito importante.

PN – O trabalho de agente literária foi impactado de forma direta pela pandemia? A consequente retomada dos eventos agora, como a Flip, pode trazer uma nova fase para o trabalho de alguma forma?

LVB – Os primeiros meses após o anúncio da quarentena em março de 2020 foram, como para todo mundo, de susto e horror, paralisia total dos negócios da VB&M. Já no segundo semestre daquele ano, porém, começamos a sentir alguma movimentação e a esperança de que a indústria do livro seria uma das primeiras a se reerguer do golpe. Afinal, temos que reconhecer que o livro mais bem sucedido e rentável representado pela agência foi corajosamente lançado pela Autêntica em abril de 2020, Talvez você deva conversar com alguém, de Lori Gottlieb. Quando cancelou-se a sessão de autógrafos de Maria Altamira, de Maria José Silveira, programada para 8 de março de 2020, bateu enorme decepção e nos meses seguintes pensamos que esse romance querido teria o esquecimento como destino; hoje o livro conta com mais de 50 mil exemplares vendidos graças ao gênio editorial de Silvio Testa, da Instante.

O cancelamento das feiras internacionais foi doloroso, mas não ter de investir nas participações em centros de agentes e nas viagens da equipe foi bom para o caixa. No balanço deste ano, que começamos a fazer, devo dizer que fiquei chocada com o custo das viagens, já não lembrava, mas é claro que o retorno dos eventos presenciais representa uma felicidade indescritível. Até meados do ano, pensávamos que não seria possível festejar este aniversário de dez anos com nossos parceiros do mercado editorial, grandes e valorosos profissionais, a quem devemos tanto e queremos tanto bem.

[22/11/2022 09:30:00]