Este é meu último artigo ainda como diretor geral da Storytel no Brasil e, na semana de minha saída, lançamos um projeto que me orgulha muito, um dos últimos em que estou envolvido, chamado Amazônia Invisível. O conteúdo é um podcast original (a primeira vez que chamamos um conteúdo Original de podcast e não de audiobook) da Storytel, onde Beka Saw Munduruku, uma jovem ativista indígena de 19 anos, que pertence à etnia Munduruku, nos guia por uma floresta ameaçada, onde vivem 28 milhões de brasileiros, a Floresta Amazônica.
Para quem quiser saber mais sobre o projeto, é só acessar o site www.amazoniainvisivel.com.
Este projeto inspira o tema deste meu artigo, primeiro pelo orgulho deste projeto, um trabalho de mais de dois anos, que envolveu times no Brasil e em vários outros países e uma equipe de profissionais que viajou e conheceu in loco muitos dos problemas vividos hoje pela Amazônia brasileira e pelos povos originários; desafios e ameaças que vieram à tona - ainda mais - com a morte recente e trágica do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Philips.
Mas também porque este tipo de história e de narrativa tem se tornado cada vez mais presente no universo dos conteúdos em áudio, sejam audiobooks ou podcasts. Bom lembrar que áudio documentários e grandes reportagens não nasceram a partir deste projeto, pelo contrário já existem grandes conteúdos criados a um bom tempo lá fora que são pioneiros neste formato… O próprio rádio de algum modo faz conteúdos nesta linha.
Aliás, para quem não sabe ou não se lembra, o conteúdo a que muitos atribuem o boom do podcast é justamente assim. Serial é uma grande reportagem sobre um crime que aconteceu nos EUA e foi tão a fundo que fez a justiça americana reabrir o caso muitos anos depois do final da investigação oficial. Mas estou aqui pra dizer que o Brasil já tem muitos conteúdos incríveis produzidos.
Um ponto onde o áudio leva vantagem na produção de grandes reportagens e documentários é no custo de produção e logística. Por mais que o processo de pré-produção, roteiro, estratégia e captação de conteúdo exija muitos profissionais e equipamentos, a operação é bem mais fácil e menos custosa do que uma produção audiovisual. Já cheguei a ouvir de produtores, que um projeto em áudio chega a custar cinco, às vezes seis vezes mais barato do que um mesmo documentário para ser assistido e não ouvido. Aí você diz: ah, mas se eu for assistir vou conseguir ver o lugar, as pessoas, as cenas e não só imaginar ou ouvir as vozes. Sim, por isso existem recursos como o que usamos no Amazônia Invisível: neste caso um site com imagens e uma série de extras que não são possíveis de existirem no áudio, mas que servem como material complementar ou quase como uma segunda tela (emprestando o conceito do audiovisual) para os consumidores daquele conteúdo.
O áudio permite uma riqueza de detalhes muito grande. Enquanto um documentário em vídeo teria algo em torno de uma hora e meia de duração, duas horas se fosse muito longo, no áudio você pode ter para o mesmo tema um conteúdo de dez horas. Você consegue entregar, de maneira fracionada, muito mais detalhes, informações, descobertas, testemunhas, personagens. Tudo isso em um formato que traz (segundo os próprios ouvintes) muito mais empatia e proximidade entre quem está contando a história e quem está ouvindo. Claro que os livros também permitem muito mais detalhamento que obras audiovisuais, mas tendo a pensar que ouvir esses conteúdos traz uma vivência diferente do que lê-los.
Outra coisa interessante é o nome que estamos usando para definir estes tipos de conteúdo. Como o áudio ainda é uma indústria em construção, existem nomes distintos para conteúdos que em sua grande maioria são semelhantes em categoria, gênero e formato. Alguns chamam de áudio série, outros de áudio doc, grande reportagem, até mesmo audiobook. Mas a verdade é que esses vários nomes são mais uma tentativa de tornar familiar para o ouvinte (principalmente o de primeira viagem) que tipo de conteúdo ou história esperar quando ele der o play.
Como último ponto, antes de indicar alguns conteúdos que na minha humilde opinião são os melhores exemplos no Brasil, vale atentar para uma coisa: muitos destes conteúdos que têm sido produzidos em áudio tem seguido uma tendência de temática que é multiformato, o truecrime. Conteúdos que contam a história, investigam ou mesmo trazem à tona crimes reais, dos mais diversos, cometidos das mais variadas formas. É interessante ver o áudio sendo protagonista de tendências de consumo e não só sendo um formato adicional de algo que já foi criado antes em livros, séries, filmes ou documentários audiovisuais.
Por isso, para mostrar esse protagonismo, quero indicar aqui alguns conteúdos brasileiros, originais em áudio que são exatamente grandes histórias para se ouvir:
Amazônia invisível - Storytel
Os endereços secretos da ditadura - Storytel
Praia dos Ossos - Rádio novelo (várias plataformas)
Caso Evandro - Half Deaf (várias plataformas)
Pistoleiros - GloboPlay
A gente se vê no mês que vem! Espero que até lá você já esteja viciado em algum áudio doc, como eu estou nesse momento pelo podcast incrível do Chico Felitti, A mulher da casa abandonada.
Palme é um empreendedor e executivo do mercado de publishing, liderando e sendo pioneiro em importantes inovações do setor, especialmente com conteúdos em áudio.
Possui mais de 20 anos de carreira, sendo 13 deles no mercado de livros e na liderança de projetos que envolvem marketing, tecnologia e principalmente conteúdos em todos os seus formatos. Nos últimos anos liderou projetos que somam mais de 12 mil horas de conteúdo em áudio, entre audiolivros, podcasts e audioseries. Liderou também toda produção da versão brasileira dos audiolivros da saga de Harry Potter.
Atualmente, está em um período sabático na atuação como executivo, mas segue como colunista, professor, mentor e coordenador da Comissão de Inovação e Tecnologia da Câmara Brasileira do Livro (CBL).
** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews
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